O diretor-geral do Património Cultural, Nuno Vassallo e Silva, considerou “crucial” a abertura da primeira fase de ampliação do Museu do Chiado, em Lisboa, projeto reclamado há mais de 25 anos pelos sucessivos diretores.

Vassallo e Silva falava durante uma visita guiada para jornalistas, realizada um dia antes da inauguração do espaço, antes ocupado pelo extinto Governo Civil de Lisboa, com entrada pela rua Capelo.

São totalmente brancas as 26 salas que acolhem a exposição temporária “Narrativa de uma Coleção – Arte Portuguesa na Coleção da Secretaria de Estado da Cultura (1960-1990)”, com 70 obras deste acervo que, no seu todo, tem cerca de mil peças dispersas por várias entidades, a sua maioria no museu da Fundação de Serralves, no Porto.

A inauguração da ampliação, com parte da chamada Coleção SEC, acontece em circunstâncias polémicas, na sequência da demissão de David Santos, que era diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado desde há ano e meio.

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David Santos estava a preparar a exposição, mas entrou em rutura com a tutela, devido à recente revogação de um despacho assinado em fevereiro de 2014, pelo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, que determinava a “afetação” da Coleção SEC à Direção-Geral do Património Cultural, e a “incorporação” da Coleção SEC no Museu do Chiado, “salvaguardando acordos entretanto celebrados”.

Pperante os jornalistas, o diretor-geral do Património Cultural escusou-se a comentar a demissão de David Santos, mas sustentou que “foi sempre combinado que as obras iriam regressar a Serralves”.

“Nunca foi planeado que esta exposição ficasse permanentemente no Museu do Chiado”, afirmou, acrescentando que está prevista para permanecer um ano, e “vem colmatar períodos que não estão tão bem representados” na coleção do museu em Lisboa.

O responsável pela DGPC preferiu sublinhar a ampliação: “É de importância crucial a abertura deste espaço, e que o Museu do Chiado tenha quase duplicado a sua área e possa ter uma capacidade de área de exposição que permite não estar sucessivamente a desmontar a exposição permanente, para apresentar as temporárias”.

O Museu Nacional de Arte Contemporânea “é de primeira importância, e tem uma coleção que vem desde meados do século XIX até aos dias de hoje, e a sua expansão física sempre foi uma exigência, desde os primeiros diretores”, salientou, sobre um projeto que, no total, dará mais 3.000 metros quadrados ao museu.

As instalações do antigo Governo Civil de Lisboa – onde os cidadãos tratavam de burocracias como o passaporte – foram renovadas, e totalmente pintadas de branco, tendo sido preenchidas com dezenas de obras de 50 artistas portugueses como Sá Nogueira, Álvaro Lapa, Jorge Pinheiro, Fernando Calhau – artista iniciador da Coleção SEC – Manuel Casimiro, Arthur Rosa, Eduardo Nery, João Hogan, Júlio Pomar, Pedro Casqueiro, Álvaro Lapa e Ângelo de Sousa, entre outros.

Sobre as questões colocadas várias vezes pelos jornalistas, pedindo esclarecimentos dos acordos assinados e sobre a titularidade da Coleção SEC, que está espalhada por várias entidades do país, o subdiretor geral do Património Cultural João Carlos dos Santos disse: “O mais importante é que a coleção é do Estado e mantém-se do Estado”.

Vassallo e Silva sublinhou ainda que esta exposição “é o resultado de uma política de aquisições que foi feita pelo Estado desde 1976, pouco depois do 25 de abril, graças à visão de Fernando Calhau”.

A inauguração da mostra, que constitui uma viagem à arte portuguesa dos anos 1960, 1970 e 1980, está marcada para as 18:30 de quarta-feira, e para a mesma hora e lugar foi marcada, por artistas e agentes do setor, uma concentração popular contra a atual política cultural e de repúdio do processo, que levou à demissão de David Santos.