Menos de uma semana depois da entrevista de António Costa, esta terça-feira foi a vez de Pedro Passos Coelho. Na SIC, o primeiro-ministro voltou a puxar dos galões da recuperação económica, lembrando os números do crescimento económico e do emprego, a agitar o fantasma do anterior Governo socialista, que ocultou o verdadeiro buraco no défice português em 2011, e a prometer bater-se pela maioria absoluta nas próximas eleições.

Com o exemplo da crise grega bem presente, Passos Coelho deixou o recado: se o Executivo PSD/CDS não tivesse escolhido o caminho que escolheu, hoje estaríamos como a Grécia; se o país entregar o Governo ao PS, que continua a provar que “aprendeu muito pouco com os erros do passado”, o mais provável é termos outra vez a troika em Portugal.

Não foi “o que se lixem as eleições” de 2012, mas foi mais um “é preferível que haja um ganhador inequívoco das eleições”, a não haver nenhum. A poucos meses das legislativas, Passos voltou a insistir numa mensagem que tem repetido vários vezes ao longo dos últimos meses: a maioria absoluta é (quase) sinónimo de estabilidade governativa, tendo em conta as dificuldades em desenhar pontes entre os partidos com assento parlamentar. E se sem estabilidade política o país arrisca-se a voltar ao caminho que o levou até 2011, entregar o Governo ao PS, idem aspas, diz Passos.

“É decisivo para Portugal que o aconteceu em 2011 não se repita. E só não se repete se mudarmos efetivamente a maneira como o Estado se comporta e como a economia funciona na sua relação com o Estado e com o mundo. E eu tenho promovido essa mudança. [Agora], está nas mãos dos portugueses fazer dessa mudança perene ou arriscar de outra maneira”, lembrou Passos.

No entanto, as últimas sondagens têm trazido más notícias para a coligação – e para o PS, que, apesar de estar à frente de PSD e CDS, continua longe da desejada maioria absoluta. Durante a entrevista a Clara de Sousa, Passos reconheceu que é “natural” que os portugueses o vejam como “o rosto” mais marcante dos últimos anos da austeridade. Ao mesmo tempo, e apesar de todas as medidas que teve de tomar, “ninguém” há um ano, previa “que os partidos da coligação pudessem ter hoje a perspetiva de vir a ganhar as eleições”, reiterou Passos.

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Mesmo assim, e ainda de acordo com a última sondagem, existe uma grande percentagem de portugueses que consideram que Passos mentiu ao não ter respeitado algumas das promessas que fez durante a campanha eleitoral. Ainda há tempo de os convencer do contrário? Passos acredita que sim e voltou a lembrar a herança de Sócrates: quem mentiu foi o anterior Governo, não ele.

“Quando fiz a campanha eleitoral disse que ia cumprir o memorando de entendimento. Mas aquele programa não era cumprível. As contas estavam mal feitas, mas não fui eu que as fiz“, começou por dizer Passos, antes de disparar os números: “Em 2011, tínhamos de alcançar o défice de 5,9%. Sabe qual era o défice no dia em que eu tomei posse? 9%”.

Na altura, as alternativas colocaram-se para o Executivo PSD/CDS: ou cumpria o acordo, ou anunciava que o memorando “não era cumprível e antes de o começarmos a executar” já o país estava mergulhado “num segundo programa”. “A minha convicção é de que, se isso acontecesse, – se não tivéssemos cortado os salários – hoje estávamos como a Grécia – e a troika ainda estava por cá”, defendeu Passos.

O tom estava definido e já antes o líder social-democrata tinha sacudido o problema do desemprego para o anterior Executivo, lembrando que foi o Governo do PS que deixou a taxa de desemprego nos 12,1% e um país mergulhado “num modelo errado de crescimento que conduziu à destruição de emprego”. Isto, mesmo depois de José Sócrates ter prometido, em 2005, a criação de “150 mil postos de trabalho”, recordou o primeiro-ministro, dando mais uma alfinetada aos socialistas.

Mas nem só das críticas ao Governo de José Sócrates se fez o discurso de Passos. As medidas pouco “realistas” inscritas no programa eleitoral do PS, assim como a receita escolhida por António Costa, também estiverem no centro das críticas do primeiro-ministro. “O PS tem defendido que a recuperação economia pode passar pelo aumento do consumo interno. Do nosso ponto de vista, foi essa a posição que nos trouxe à dependência externa. [O que] o PS oferece não me parece uma escolha correta”, defendeu Passos, antes de falar sobre a controversa proposta de redução da TSU nos trabalhadores:

Dizer aos trabalhadores que vão descontar menos para a Segurança Social, com a contrapartida das pensões mais baixas que vão ter no futuro, para poder ter mais dinheiro para gastar hoje, porque o importante para criar emprego é fazer a economia crescer e pôr as pessoas a gastar mais dinheiro” é um caminho “arriscado” e vai “conduzir o país ao desequilíbrio externo”, como aconteceu, lá está, com José Sócrates, quando em 2009 começou a abrir os cordões à bolsa para tentar convencer o eleitorado, sustentou Passos.

Quanto ao futuro programa eleitoral da coligação, que ainda não foi apresentado, Passos garantiu que não há “pressa” em preparar os últimos detalhes. Mas a linha de atuação do Governo já está traçada (há muito): uma recuperação económica “que seja liderada pelas exportações e não à custa do mercado interno”. E a palavra-chave, também já foi escolhida: “prudência”. “Não estou hoje numa postura do ‘é preciso ganhar as eleições custe o que custar'”, disse o social-democrata.

No saco das promessas, Passos trouxe alguns compromissos já conhecidos, mas todos com um horizonte muito alargado: a eliminação da sobretaxa do IRS nos próximos quatro anos, o fim dos cortes na administração pública até 2019, redução progressiva do IRC para todas as empresas e o fim, progressivo, de todas as medidas de austeridade.

Sobre a Grécia, tema que tem marcado também a pré-campanha eleitoral, o social-democrata foi claro: mesmo reconhecendo que o acordo alcançado é duro para os gregos, se não fosse aprovado, a saída da Grécia da Zona Euro tornar-se-ia uma “inevitabilidade”. E essa hipótese está completamente afastada? “Espero sinceramente que sim”, disse Passos, lembrando, no entanto, que o acordo ainda tem de ser aprovado no Parlamento grego e por outros parlamentos da União Europeia, como o alemão.

Confrontado com as declarações dos socialistas, que têm acusado várias vezes o Governo de ser um dos principais responsáveis pelos obstáculos criados nas negociações entre gregos e credores, Passos repetiu que o Executivo por ele liderado procurou sempre o melhor para a Grécia, sem nunca esquecer o interesse dos portugueses. Já o PS, tem alterado a sua posição ao sabor do vento, acusou Passos.

O primeiro-ministro voltou a garantir que Portugal não será “apanhado no meio de uma tempestade perfeita” perante uma eventual, agora mais distante, saída da Grécia da Zona Euro. Mas uma saída dos gregos teria sempre “consequências pouco previsíveis” do “ponto de vista político e até económico”. Nesse sentido, Passos voltou a insistir: o Governo bateu-se sempre pela permanência da Grécia no euro, mesmo que por cá digam que não o fez.

E sobre as presidenciais? De Passos, nem uma palavra. “Até às legislativas, não irei perder um segundo a falar das presidenciais”.