Era uma vez um cientista de 17 anos chamado William Perkins. Em 1814, 0 rapaz estudava Química há dois anos e seguia os passos de August Wilhelm Hofmann, o inventor do alcatrão de carvão. Segundo conta a BBC, além das aplicações desse material pegajoso e negro na construção, Hofmann tinha um palpite de que conseguiria produzir quinina em laboratório. O composto era dado às tropas britânicas na Índia para evitar a malária, mas a sua extração de uma árvore no Peru era muito cara.

William Perkins sabia das intenções do mestre, por isso seguiu as instruções deixadas pelo cientista: misturar 20 partes de carbono, 24 partes de hidrogénio, duas de azoto e outras duas de oxigénio. E eis que inventou… a cor púrpura. O jovem cientista não conseguiu criar quinina artificial, mas apenas um produto com uma cor muito viva. E se não fez história na ciência, fê-la pelo menos na moda.

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Fotografia de William Perkins. Imagem: Wikimedia Commons

Claro que a cor já existia na natureza, mas a forma artificial era mais difícil de encontrar do que qualquer outra, pelo que sempre se associou o seu uso, pela raridade, à realeza. Naquela altura, as roupas a cores eram um privilégio das elites, como realça o Museu de Ciência e Indústria de Liverpool, porque o vestuário colorido era sempre mais caro. Perkins não se deixou abater pelo insucesso nos tubos de ensaio e decidiu virar o fracasso a seu favor: a partir do produto que criou produziu tintas sintéticas que receberam várias designações de cores aproximada: roxo, malva, violeta e o famoso púrpura.

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Hofmann, o mestre, não gostou: era um desperdício de talento na Ciência entregue de mão beijada ao negócio das indústrias têxteis. Principalmente quando aquela cor já era comercializada por outras marcas: chamava-se murexida e tinha sido inspirada num indicador de presença de metais utilizado em laboratório. A França dominava esse ramo e até a Escandinávia tinha um lugar no mercado. Nenhum destes argumentos demoveu Perkins: a ideia dele não era vender um novo púrpura, mas antes vender um púrpura mais barato.

Atirou-se de cabeça no negócio. E venceu. Através de ajuda da família nasceu a Perkins & Sons: o seu púrpura não só ficava mais em conta, como durava mais tempo, o que fez com que expandisse a empresa para a criação de tintas de outras cores. Em 1860, quarenta e seis anos depois do nascimento da fábrica, o produto era um sucesso para todas as bolas.

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O símbolo que a empresa colocava nos produtos fabricados. Imagem: A.M. Perkins & Son Ltd

Aos 36 anos, William Perkins pegou de novo nas caixas de Petri. Queria aprender a manipular partículas atómicas para conferir aos químicos novas propriedades. Mas esse campo já tinha um novo nome em crescimento: era Otto Witt, um alemão que fazia experiências para retirar ou modificar as cores dos químicos de forma previsível.

Mas além da sorte e de uma inteligência fora do comum, Perkins tinha outros fatores a seu favor: a indústria estava a desenvolver-se em Inglaterra, o consumismo crescia desde a Revolução Francesa e investia-se na descoberta e na exploração científica através de mecanismos mais apurados. E ele ganhou com isso.

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Texto editado por Filomena Martins