“Os pais são responsáveis pelo desfralde dos filhos”, atira Olga Reis, psicóloga clínica e autora do livro Acabar com as fraldas e com o chichi na cama (editora Manuscrito), que promete ajudar os pais a porem de lado, de uma vez por todas, as fraldas e os lençóis da cama molhados. Como? Respondendo às mais variadas questões, desde qual a idade certa para desfraldar uma criança à melhor forma de lidar com os erros dos filhos — ralhar está fora de questão.

Em jeito de síntese, pedimos à autora que enumerasse algumas dicas para um desfralde mais eficaz — entre sugestões práticas, há mitos que caem por terra, uma vez que, afinal, o verão não é a melhor altura para tirar a fralda ao pequenote lá de casa. Mas não desespere, até porque há sinais claros que mostram que, tanto pais como filhos, estão prontos para rabos ao léu e cuecas de gente crescida.

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Não há uma idade certa para se ver livre das fraldas. Antes dos 18 meses são poucos os músculos que estão preparados para o desfralde, mas caso uma criança de quatro anos não seja capaz de iniciar o desfralde diurno, o melhor será levá-la ao médico. “Isso pode estar associado a doenças, como diabetes ou infeções urinárias”, diz Olga Reis.

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Há sinais, da parte da criança, que mostram que esta está preparada para o desfralde: desde caminhar com segurança a sentar-se sozinha, mas também ter a fralda seca depois da sesta da hora do almoço durante cerca de duas semanas, mostrar-se interessada no ato de despir e vestir a roupa, saber nomear partes do corpo (do nariz à pilinha) e ter consciência de que está a fazer chichi ou cocó (para quem não verbaliza, os sinais passam por agachar, ficar quieta ou muito vermelha).

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Ilustração de Ana Fonseca

 O desfralde só pode acontecer se os pais também estiverem preparados. É desaconselhável fazê-lo numa altura de grandes mudanças (nascimento do irmão, mudança de casa…). E desengane-se quem pensa que a melhor altura para acabar com as fraldas é a estação mais quente do ano: “A questão do verão é um mito para desfraldar a pequenada. Serve um pouco para suprimir a preguiça dos pais por haver menos roupa, mas os descuidos acontecem à mesma.”

Outro mito é a ideia de que se deve retirar a fralda de dia e de noite ao mesmo tempo. “O controlo do esfíncter diurno é diferente do noturno, ou seja, de dia o desfralde acontece mais depressa”, diz Olga Reis, que assegura que “são poucas as crianças que conseguem ter o controlo do esfíncter noturno antes dos três anos.

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Ilustração de Ana Fonseca

– Dito isto, a psicóloga estabelece a diferença entre enurese primária e secundária: a primária remete para uma criança que nunca conseguiu deixar de fazer chichi na cama, é consistente; a secundária implica uma criança que já tenha deixado de fazer chichi e que, por qualquer motivo psicológico, volta a fazê-lo. A primeira não exige preocupação da parte dos pais, mas o mesmo não se pode dizer da segunda: “É preciso perceber se houve uma mudança significativa na vida da criança, como a mudança de escola ou o divórcio dos pais. Se houver indícios de que a sua autoestima está a afetada, os pais devem procurar ajuda”.

Ralhar ou criticar uma criança é um grande erro. “Por hábito, as pessoas têm tendência a fazer mais alarido quando as coisas correm mal, mas as crianças portam-se melhor com elogios do que com críticas”, diz a psicóloga, defendendo o reforço positivo dos pais em relação ao desfralde dos filhos.

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Ilustração de Ana Fonseca

Mas também é preciso ter cuidado com os elogios. “Dizer que a criança é bonita e que se portou bem quando faz algo correto, vai fazê-la pensar o contrário quando errar. O desejável é dizer algo como ‘Boa! Conseguiste'” e usar elogios que não permitam à criança fazer comparações entre situações. Já agora, também não se deve comparar as crianças umas com as outras, muito menos no caso de serem irmãos gémeos.

E quais são os elementos necessários para o desfralde? Um bacio (que não deve ser alusivo a brinquedos), um bacio portátil, um protetor de sanita (ideal para casas de banho públicas), um redutor de sanita, cuecas de crescidos (mas com bonecos de pequeninos), roupa apropriada (convém serem coisas rápidas de vestir e despir) e um pequeno banco com escadote para que a criança consiga chegar ao lavatório.

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Ilustração de Ana Fonseca

– Por último, Olga Reis deixa ficar alguns truques para evitar que o seu filho faça chichi na cama:

  • Reduzir a ingestão de líquidos à noite (esqueça o leitinho antes de ir dormir);
  • Garantir que a criança faz chichi antes de ir para a cama e imediatamente quando acorda, não fossem as rotinas algo muito importante — “Deixar de fazer chichi na cama é um acordo entre o cérebro e a bexiga”;
  • Ter atenção ao que os pequenos comem, uma vez que há alimentos que provocam reações alérgicas na bexiga, o que faz com que mais chichi seja libertado à noite — falamos dos picantes (cebola ou alho) e dos ácidos (citrinos);
  • Evitar o frio, uma vez que, assegura Olga Reis, as temperaturas baixas aumentam a incidência urinária.