A Comissão Europeia preparou um relatório extenso para avaliar e gerir todas as consequências que poderiam resultar da saída da Grécia da zona euro. Entre os impasses e as declarações mais ou menos positivas sobre a crise grega, 15 técnicos da Comissão compilaram um “relatório secreto” que cobria cerca de 200 questões e problemas que poderiam resultar no rescaldo do abandono do euro por parte da Grécia.

A notícia é avançada pelo jornal grego Kathimerini que adianta que este documento está guardado a sete chaves, a “poucos metros” do gabinete do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Entre os 200 pontos que foram avaliados exaustivamente, estavam os potenciais efeitos, socialmente devastadores, para os gregos, em caso de saída.

O presidente da Comissão chegou a admitir publicamente que Bruxelas tinha preparado um cenário de ajuda humanitária para o país, caso o desfecho mais negro se confirmasse. Estas declarações foram proferidas a 7 de julho, depois de ser conhecido o não do povo grego às medidas de austeridade. Segundo o Kathimerini, Juncker chegou a explicar verbalmente o conteúdo deste estudo ao primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, antes da conferência de líderes da zona euro que se realizou dois dias depois do referendo.

O documento analisou também as consequências políticas mais vastas deste resultado, admitindo que a Grécia poderia ser forçada a abandonar a União Europeia e o acordo de Shengen (livre circulação de pessoas).

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O relatório foi preparado por volta do final de junho por técnicos da Comissão (que é um dos três membros da troika) que estiveram diretamente envolvidos em anteriores programas de resgate à Grécia.

Em entrevista na quinta-feira a vários jornais europeus, Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, revelou que as negociações entre a Grécia e os credores estiveram muito perto do fracasso já na segunda-feira de manhã (13 de julho). “Eu avisei-os que se parassem de negociar, estaria pronto para dizer publicamente: a Europa está à beira de uma catástrofe por causa de 2,5 mil milhões de euros”. Esta mensagem tinha como destinatários Alexis Tsipras e Angela Merkel.

O fundo para as receitas das privatizações foi o principal ponto de divergência entre a Grécia e Alemanha e a discussão sobre a forma como estas receitas seriam usadas foi uma das maiores ameaças ao acordo. Parecia que estavam à procura de uma desculpa para romper as negociações, adiantou uma fonte europeia citada pelo jornal que atribuiu as reações à fadiga e frustração de mais uma maratona negocial. O acordo acabou por ser anunciado pouco antes das oito da manhã (hora de Portugal).

A realidade começa lentamente a regressar à Grécia esta segunda-feira, quando está prevista a abertura dos bancos, três semanas depois. Os limites aos levantamentos mantêm-se nos 60 euros por dia, com um teto de 420 euros por semana. A bolsa de Atenas vai contudo continuar fechada.

Uma estimativa por baixo, avançada pela revista Forbes, aponta para uma fatura de três mil milhões de euros que terão desaparecido do Produto Interno Bruto (PIB) grego por causa do feriado bancário. O rombo provocado no sistema bancário grego e o que vai custar a reparar, vai ser um “múltiplo significativo” do valor agora avançado. E vai exigir uma nova intervenção do Banco Central Europeu que terá de abrir mais a torneira da ELA (liquidez de emergência).