Porque o fenómeno “Minions” merece, o Observador lançou-se num desafio: escrever um artigo sobre ele dando asas à imaginação. Há que entender porque é que um exército trapalhão amarelo conseguiu conquistar as bilheteiras de todo o mundo. E que forma melhor para descobrir a resposta, senão entrando no mundo da fantasia animada? Venha connosco.

Precisámos de chamar seis tradutores de inglês, espanhol, francês, italiano, russo e coreano para conseguir entrevistar Stuart, Kevin e Bob – os três minions que visitaram o Observador. Tocaram à campainha, empoleirados uns nos outros, e pediram desculpa por os restantes 896 irmãos não poderem comparecer ao encontro.

O filme “Mínimos” (tradução portuguesa) estreou esta quinta-feira nas salas de cinema, o spin-off de “Gru Maldisposto” . Os pequenos bonecos amarelos conquistaram o coração da juventude em 2010, quando apareceram pela primeira vez ao público no filme daquele supervilão, mas esta é a primeira vez que se estreiam a solo.

Embora muito parecidos, é fácil distinguir os nossos três entrevistados: Bob tem heterocromia – um dos olhos é castanho e outro verde -, Kevin é o mais alto e talvez o mais consciente, enquanto Stuart é o mais pequeno e o único que tem apenas um olho. Mas todos os 899 minions têm algo em comum: as suas vozes foram produzidas pelos próprios diretores, são extrovertidos, eternos e endiabrados.

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Notava-se um certo sotaque mais afrancesado na voz de todos eles e foi inevitável perguntar o motivo. “Isso é porque os nossos criadores são franceses, mas acharam melhor dar-nos um idioma mais universal“, explicaram os três. Pierre Coffin, que é um dos criadores, é visto como “um irmão mais velho” para os bonecos, mas os pais são outros: Oompa Loompas (de Charlie e a Fábrica de Chocolates), os Jawas (de Guerra das Estrelas) e Tweety. Foram estas as inspirações para a criação dos bonecos.

“A natureza fez-nos a partir da mistura da informação genética destas três personagens, por isso é que somos todos tão parecidos”. E os minions maus? “Esses são as ovelhas roxas da família: têm essa cor porque é a oposta ao amarelo no espetro. E como são maus…”, esclarecem os três. Foram um erro de percurso: “Os minions roxos levaram PX-41 a mais“, um remédio que torna os minions em más… pessoas.

https://www.youtube.com/watch?v=mO8S8j_QmYk

Mas há dois aspetos que unem o bom e o mau desta fita: ambas as raças adoram bananas (não podia ser de outra maneira, é uma das raras palavras que é idêntica em muitos dos idiomas na Terra). Além disso são todos homens: “Os nossos criadores disseram que somos tão estúpidos e burros que só podíamos pertencer ao género masculino. Ainda estamos a decidir se foi um elogio ou uma crítica”, admitiram.

https://www.youtube.com/watch?v=wCkerYMffMo

A alegria com que os Minions conquistaram crianças e adultos é contagiante, mas o nome do exército amarelo esconde uma realidade um pouco mais dura. Em inglês, a palavra minion significa “servo, escravo ou subordinado” totalmente empenhado em realizar as tarefas do amo abusador, uma espécie de síndrome de Estocolmo animada.

Na verdade, essa é parte da identidade dos trapalhões amarelos: eles existem desde o início dos tempos, há minions e minions de anos, quando os continentes ainda formavam a gigantesca Pangeia e só existia um oceano, chamado Pantalassa. Sempre tiveram a mesma missão: servir os maiores vilões da História, desde dinossauros ao Drácula – o que não significa que o fizessem com sucesso. Mas houve uma altura em que os Minions se sentiram perdidos: “Certo dia, deixámos de ter um vilão a quem servir e foi quando nós os três decidimos ir em busca de uma nova civilização maléfica”. Foi então, quando Gru tinha 42 anos – em 1968 -, que os Minions chegaram a Nova Iorque, nos Estados Unidos.

A aventura começou ali. Gru é um homem extremamente maldisposto, pai adotivo de três filhas adoráveis – Edith, Margo e Agnés – que pretendeu roubar a Lua e dominar o planeta. A ideia surgiu por avareza, quando alguém roubou as pirâmides de Gizé. O supervilão quis incluir as filhas nos planos maléficos, mas acabou por aperceber-se do quão deliciosa pode ser a vida em família e deixou o lado lunar de lado. “Nós fomos parte fundamental para esta mudança, porque sempre ajudámos Gru a ultrapassar os problemas que tinha”, dizem Stuart, Kevin e Bob.

“Se não fossemos nós, o primeiro filme Gru Maldisposto não tinha alcançado um lucro de 540 milhões de dólares, nem se tinha tornado no 10º filme de animação mais rentável dos Estados Unidos”, argumenta um deles. Foi o segundo filme de animação com mais sucesso da Universal – apenas ultrapassado pelo Jurassic Park.

Dar protagonismo a personagens secundárias de um filme não é ideia nova: já o vimos acontecer com Timon e Pumba (vindos do Rei Leão) e com os Pinguins de Madagáscar. Mas o filme que estreia esta quinta-feira traz outro trunfo na manga: “Tivemos a oportunidade de contracenar com a primeira personagem maléfica interpretada por Sandra Bullock na versão americana”. Estamos a falar de Scarlett Overkill, uma supervilã reconhecida internacionalmente, de quem não se pode dizer muito: “Se querem saber mais, peguem na vossa família e vão ao cinema mais próximo”.

No final da entrevista, nem todas as perguntas puderam ser respondidas. E uma delas vai deixar o público realmente intrigado: afinal de contas, como é que eles se reproduzem e nascem? Stuart, Bob e Kevin limitaram-se a abandonar a redação, sem nos conseguirem esclarecer. Talvez vejamos esta questão resolvida num próximo filme dos Minions.

https://www.youtube.com/watch?v=AGizmgReKcw

Texto editado por Rita Ferreira