Passear por Lisboa é passear pelos vestígios de várias épocas onde debaixo das linhas de elétrico, das ruas asfaltadas e dos túneis de metros rezam as histórias de quem por lá passou, viveu e morreu. Mas nem para todos o passado está esquecido. Os arqueólogos vão descobrindo, escavação após escavação, memórias de séculos de vivência. Seja nas ruínas de uma casa ou num conjunto de cacos.

Foi esta paixão que levou Inês Ribeiro e Raquel Policarpo a lançarem o livro Os Segredos de Lisboa (A Esfera dos Livros). Tudo começou quando se conheceram na licenciatura em História da Universidade de Lisboa e decidiram, mais tarde, criar uma agência de animação turística dedicada à divulgação da História, Cultura e Arqueologia de Portugal.

Assim nasceu a Time Travellers. Como consequência dos passeios e atividades organizadas por ambas, surgiu a ideia de lançarem um livro que reunisse os séculos escondidos de história através de histórias e personagens que poderão (ou não) ter existido. Alguns deles desapareceram para sempre, mas outros ainda podem ser visitados.

Segredos de Lisboa

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Dos 15 vestígios arqueológicos referidos no livro pedimos às autoras que selecionassem cinco que não se deve deixar de visitar. Ei-los:

1. Muralha Fernandina

A Torre do Jogo da Pela está à vista de todos mas aos olhos de poucos: passa facilmente despercebida na animada Praça do Martim Moniz. “Entre várias renovações urbanas, desastres naturais e a inevitável apropriação por parte da população, os quase sete séculos da Muralha Fernandina foram-se desgastando e apagando os seus vestígios da cidade de Lisboa”, conta Raquel ao Observador.

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A Torre do Jogo da Pela quase passa despercebida na Praça do Martim Moniz mas há alguns séculos a cidade acabava ali. (Foto: Global Imagens)

Este é um troço da muralha que demorou 2 anos a concluir por cerca de 2000 pessoas e que foi tão importante na defesa da cidade medieval e de uma nova dinastia. A Muralha Fernandina começou a ser construída em 1373 e chegou a ter 8 metros de altura por 2 metros de espessura.

Nome: Torre do Jogo da Pela
Morada: Praça do Martim Moniz
Preço: Visita gratuita

2. Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros (NARC)

Em 1755, o grande terramoto de Lisboa mudou a baixa da cidade para sempre. No entanto, ainda é possível visitar este sítio arqueológico e “encontrar os vestígios de uma fábrica romana de molhos de peixe – que eram muito apreciados pelo império romano – como tanques onde eram colocados peixes e sal”, conta Raquel.

Além do próprio edifício, é possível ver a famosa estacaria pombalina e outros elementos, como o forno de pão que foi instalado dentro do edifício já no século XVIII e os poços que forneciam água aos quarteirões em redor.

Nome: Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros
Morada: Rua dos Correeiros, 21, Lisboa
Horário: Todos os dias das 10h às 17h
Preço: Entrada gratuita

3. Teatro Romano de Lisboa

Esta é uma das poucas estruturas da cidade romana que conseguiu ser preservada. Hoje apresenta-se ao público acompanhada de um museu mas foi descoberta pela primeira vez durante a reconstrução de Lisboa. “No século IV, foi abandonada e escondida debaixo de uma cidade em constante mudança”, explica Raquel Loureiro.

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Do antigo teatro romano de Lisboa restam hoje as primeiras bancadas, parte da orquestra e a zona onde estava instalado o palco. (Foto: Inês Ribeiro & Raquel Policarpo)

No interior do sítio arqueológico, quando os nossos olhos se habituam à escuridão, podemos ver o que resta das bancadas escavadas na rocha. Já o passadiço que atualmente permite a visita situa-se no local onde estaria o palco sustentado por pequenas colunas. É uma referência com quase 2000 anos de história: viu crescer a cidade romana, testemunhou a queda de um império e a chegada de outros.

Nome: Teatro Romano de Lisboa
Morada: Rua de São Mamede, Lisboa
Horário: Terça a domingo das 10h às 18h
Preço: 2€

4. Cláustro da Sé de Lisboa

“Para todos quantos passam hoje à frente da Sé, resta fechar os olhos e imaginar um tempo longínquo, em que uma pequena basílica cristã se mantinha a funcionar no meio de uma cidade islâmica, que anos mais tarde ali construiu a sua mesquita e a viu ser substituída pela catedral da capital de um novo reino cristão”, contam Inês Ribeiro e Raquel Policarpo.

Nesta combinação de estruturas de várias épocas foram encontrados vestígios das épocas romana, tardo-romana e islâmica.

Nome: Sé Catedral de Lisboa
Morada: Largo da Sé, Lisboa
Horário: Segunda a sábado, das 10h às 17h
Preço: 2,50€

5. Muralha de D. Dinis

Encontra-se aberta ao público na Igreja de São Julião e é uma visita obrigatória para todos os que queiram conhecer a Lisboa medieval e uma estrutura que D. Dinis construiu no vale da baixa, em 1294. Na altura, Lisboa era uma cidade que vivia em sobressalto com receio que uma nova investida moura voltasse a atravessar o Tejo.

Lisboa, 21/04/2015 - O Núcleo de Interpretação da Muralha de D. Dinis. Os trabalhos arqueológicos realizados na Sede do Banco de Portugal revelaram um troço da muralha que D. Dinis mandou construir em 1294. (Global Imagens )

Os trabalhos arqueológicos realizados na Sede do Banco de Portugal revelaram um troço da muralha que D. Dinis mandou construir em 1294. (Foto: Global Imagens)

“A entrada faz-se pela igreja e obriga a uma passagem pela apertada segurança do edifício para entrar neste monumental edifício que constitui mais um importante elemento para o conhecimento da história de Lisboa, que veio finalmente esclarecer as antigas dúvidas sobre uma antiga muralha à beira-rio construída”, conta Raquel.

Nome: Núcleo Museológico da Muralha de D. Dinis
Morada: Rua de São Julião, Lisboa
Horário: Quarta a sábado, das 10h às 18h
Preço: Entrada gratuita

Texto editado por Ana Dias Ferreira.