Diz que em três eleições para a Câmara Municipal de Lisboa fez sempre mais do que prometeu, que o primeiro-ministro “está viciado no engano” e que a grande vantagem que tem sobre Pedro Passos Coelho é o facto de ter um passado que todos conhecem. Em entrevista (link não disponível) ao jornal i, António Costa fala da família, do passado, de Sócrates, da Grécia, da Europa e das presidenciais.

“Não gosto de ser imprudente. Sabe porque é que eu fui subindo de 29,5% até 52% em Lisboa? Porque em três eleições fiz sempre mais do que prometi. Prefiro perder hoje um voto porque as pessoas têm esse receio do que estar a fazer um desenho com um compromisso concreto sobre os escalões que depois não posso cumprir”, afirmou.

Com a indicação de que “governar não é ligar o piloto automático”, o líder do PS sublinha que vai mexer nos escalões do IRS para melhorar a progressividade e aliviar a classe média, mas que não sabe quando. “Detalharemos ao longo da legislatura”, adiantou ao i, referindo que tem” experiência de saber o que é governar nas diversas condições” e que se “desenvencilhou sempre” das circunstâncias eleitorais.

Tenho uma enorme vantagem sobre Passos Coelho: é que ninguém sabe bem o que ele fez antes de ser primeiro-ministro“, referiu, acrescentando que concorre ao cargo “com um passado que as pessoas conhecem”, porque sabem como agiu quando esteve em três ministérios e em três mandatos na Câmara Municipal de Lisboa.

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“Viram-me em três mandatos sucessivos na Câmara e portanto sabem que não sou propriamente um melão do qual só se vai saber a qualidade depois de abrir”, disse.

Referindo-se a si próprio como “previdente”, diz que Pedro Passos Coelho está “viciado no engano” e que acha que “pode enganar toda a gente durante todo o tempo e sobre todas as matérias”. “Cria esta ideia de que a política não se pode levar a sério. Como me honro muito de ser político, envergonho-me bastante de ver exemplos desta natureza”, diz António Costa.

Plano A: cumprir. Plano B: mudar regras

Sobre a União Europeia e o Partido Socialista Europeu, diz que “o grande mérito” do cenário macroeconómico do PS foi o de “acabar com o mito de que não há alternativa à austeridade dentro do euro” e que “é preciso mudar de política de política cumprindo as regras do euro” É este o seu plano: “o nosso plano A é cumprir as regras, mas temos um plano B que é que elas sejam mudadas”, disse.

E com a Grécia em cima da mesa, o líder do PS diz que “ninguém pode partir numa aventura irresponsável, de peito feito às balas, qual cavaleiro andante”, para “ir de mota derrotar a Alemanha”, numa alusão ao ex-ministro das Finanças, Yanis Varoufakis.

Sobre a polémica em torno das presidenciais e a candidatura de Sampaio da Nóvoa, o líder do PS remete os seus comentários para “a cassete” dos últimos dias, mas refere que não crê que a disputa entre Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Santana Lopes e Rui Rio esteja “a favorecer muito a direita”.

“Acho que à esquerda repetir-se esse espetáculo não seria certamente positivo”, afirmou.

E no que diz respeito às listas, uma palavra para as da coligação, que considera mostrarem um “sinal de fim de ciclo, de esgotamento”. “Nem sequer os ministros que menos mau desempenho tiveram nesta governação conseguiram ser mobilizados para as listas“. Quando o jornal lhe pergunta de quem fala, responde que é de Paulo Macedo, por exemplo.

Sócrates e o “monstro burocrático” da avaliação dos professores

Quando o assunto é José Sócrates, António Costa diz que não é sua intenção visitar o ex-primeiro-ministro antes das legislativas e que é um caso obviamente doloroso do ponto de vista pessoal.

“Vou fazer uma declaração à Vítor Gaspar: não sei bem qual a parte da minha declaração que não percebeu. Não tenciono comentar o caso, muito menos julgar o caso e ainda menos com base em informações que circulam de um inquérito que deve ser desenvolvido na paz do Senhor pelas autoridades competentes, no respeito pelo exercício dos direitos de defesa, pela isenção e imparcialidade do juiz a quem cabe julgar”, diz.

E sobre a avaliação dos professores, medida do Governo de que fez parte, diz que o PS aprendeu “uma lição importante, a de que não é possível fazer reformas contra toda uma classe profissional” e que é preciso dialogar.

“Vi o absurdo que constitui aquele modelo de avaliação de professores. Gastei fins de semana procurando preencher aquelas quinhentas fichas de avaliação e percebi bem o absurdo do monstro burocrático que se estava ali a criar. Não me surpreendeu o grande castigo político que o PS sofreu por causa disso”, disse.