Tom Hayes, o antigo corretor do UBS Group e do Citigroup, a primeira pessoa a ser acusada de manipulação da Libor, foi declarado culpado de oito acusações de conspiração para controlo fraudulento da Libor. Hayes recebeu uma pena de prisão de 14 anos.

A equipa de acusação indicou que Hayes, de 35 anos, era o “cabecilha” de uma rede global de 25 corretores de, pelo menos, dez bancos que tentava controlar a Libor, uma taxa equivalente à Euribor usada tanto em contratos nos mercados financeiros como em empréstimos hipotecários. Estima-se que os contratos indexados à Libor somem cerca de 320 biliões de euros. Subornos, intimidação e compra eram técnicas usadas para conseguir mexer a Libor a seu favor, indicou a acusação.

Esta é mais uma página no livro do escândalo da Libor. Várias entidades financeiras já desembolsaram elevadas quantias em multas e acordos com as autoridades. Barclays, Deutsche Bank, JP Morgan, Royal Bank of Scotland e UBS foram os principais, mas as investigações ainda não terminaram.

Milionário modesto

Tom Hayes explicou aos jurados e durante a investigação que o que o motivou não foi o dinheiro – no pico da carreira, o seu vencimento anual era equivalente a cinco milhões de euros –, mas a satisfação de fazer o seu trabalho o melhor que conseguia.

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Nem mesmo a Madre Teresa não manipularia a Libor se estivesse a calculá-la e a negociá-la.

Tom Hayes, em declarações aos investigadores

No seu primeiro dia no tribunal, Hayes disse que a imprensa o colocava ao nível dos piores fora-de-lei americanos.

Fui apontado [pela imprensa] como o Jesse James da Libor.

Tom Hayes, em declaração aos jurados

No perfil sobre o corretor, o jornal britânico Telegraph defende que Tom Hayes “não encaixa exatamente no estereótipo do [filme] ‘O Lobo de Wall Street’”. “Hayes preferia beber cacau [em vez de champanhe como os colegas], recebendo a alcunha ‘Tommy Chocolate’.”

Como funcionava a rede

Todos os dias úteis, os bancos que participavam na Libor indicavam a taxa a que acreditam que se poderiam financiar junto de outros bancos. A Associação Britânica de Bancos compilava os dados, anulava as indicações mais baixas e mais elevadas e calculava a média das restantes. O resultado era a Libor do dia. Este processo era conduzido para dez divisas e 15 prazos. Por exemplo, a Libor do dólar norte-americano a 12 meses era a taxa de referência para os empréstimos norte-americanos a um ano.

A rede internacional de corretores trocava favores para beneficiar as posições da carteira dos seus bancos. As comunicações entre corretores eram feitas essencialmente por mensagens instantâneas.

É incrível como a fixação da Libor pode fazer tanto dinheiro ou perder, se oposto. Temos agora um cartel em Londres.

Tan Chi Min, corretor do Royal Bank of Scotland, a outros corretores, de acordo com a Bloomberg.

Em 2012, o Departamento de Justiça norte-americano, o equivalente ao Ministério Público, anunciou que tentaria a extradição dos britânicos Tom Hayes e Roger Darin, seu colega no banco UBS. Os investigadores norte-americanos compilaram e publicaram 62 páginas de comunicações que mostravam como funcionavam na busca de ganhos para o banco – e que, mais tarde, se revertiam em elevados prémios profissionais.