A Fidelidade vai realizar um aumento de capital de 607 milhões de euros, dos quais 500 milhões pela entrada de dinheiro fresco. A operação tem como finalidade preparar a seguradora para as novas regras de solvência, mas também acomodar a expansão promovida pelo novo acionista, a Fosun, através de compras em Portugal e no mercado internacional.

De acordo com a fonte oficial da Fidelidade, um dos negócios que justifica este aumento de capital foi a compra da Luz Saúde, a antiga Espírito Santo Saúde, adquirida há um ano através de uma oferta pública de aquisição (OPA) num investimento de 460 milhões de euros. A Luz Saúde (dona do Hospital da Luz), que também está a investir para crescer, vai absorver muito capital, no quadro das novas regras de solvência que entram em vigor a 2016. Este foi apenas uma das várias aquisições realizadas pelo grupo Chinês, através da Fidelidade. O último negócio, anunciado na semana passada, foi a compra do Palácio Broggi em Milão por 345 milhões de euros.

O aumento de capital “destina-se justamente a fortalecer a companhia na preparação para o solvência II e do processo de rating iniciado (tendo em vista sermos mais ativos nos mercados internacionais), dando-lhe condições para continuar a crescer e acomodar o investimento estratégico realizado na Luz Saúde (ativo que em solvência II consome muitos capitais)”. Fonte oficial da seguradora reconhece que esta estratégia contrasta com a de outras seguradoras internacionais, que estão a desinvestir.

A operação prevê um reforço total do capital de 607 milhões de euros, através da entrada de dinheiro fresco, no montante de 500 milhões de euros que será um investimento assumido sobretudo pela Fosun, mas também de entradas em espécie, que neste caso são ações de empresas Multicare e Care. Estas empresas autónomas que passarão a estar debaixo da Fidelidade. A Caixa Geral de Depósitos irá participar, através das participações que detém nestas sociedades, mas deverá reduzir a sua posição acionista na Fidelidade, de acordo com informação recolhida pelo Observador -tendo hoje 15% do capital da empresa, face aos mais de 80% da Fosun. A dimensão e contornos da participação do banco público nesta operação ainda estão em aberto. Fonte oficial da CGD não comenta para já.

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A entrada em dinheiro será realizada através da emissão de novas ações no valor de 123 milhões de euros, mas que têm um prémio de emissão (ágio), o que permite um encaixe de cerca de 500,2 milhões de euros para a seguradora. As ações serão reservadas aos acionistas, na proporção de 323 novos títulos por cada 1000 detidos, refere a convocatória da assembleia geral.

Os riscos de uma grande seguradora num mercado pequeno

O aumento de capital, que será votado em assembleia geral a 3 de setembro, insere-se num processo iniciado em novembro de 2014 que visa preparar a empresa para o novo regime de Solvência II, e que inclui também a não distribuição de dividendos, acrescenta fonte da Fidelidade. Desde que passou para a Fosun, em 2013, a Fidelidade não remunera o acionista. Antes de ser vendida, a seguradora distribuiu 600 milhões de euros pelo acionista público, a Caixa, através de redução de capital e de distribuição de reservas.

Por outro lado, fonte oficial da Fidelidade admite que a seguradora foi penalizada nos testes de stress realizados no final do ano passado pelo regulador europeu para testar a solidez financeira, face às regras prudenciais que vão vigorar a partir de 2016. Em causa estava o risco de concentração em ativos de uma grande seguradora (a Fidelidade é a maior empresa do setor) num mercado pequeno como Portugal que dificulta a diversificação do investimento. O teste teve por base os resultados de 2013. No caso da Fidelidade, o risco de concentração passava pela exposição à Caixa Geral de Depósitos, então a maior acionista, em depósitos e outras aplicações, obrigando a consumir mais capital.

Fonte oficial adianta que a seguradora mantém uma margem de solvência de cerca de 170% pelo regime de solvência I, que está em vigor, e sublinha que a Fidelidade tem vindo diversificar os investimentos, em linha aliás com a expansão e estratégia da acionista chinesa. Diversificar também em nome da rentabilidade, não obstante as aplicações na Caixa apresentarem um risco mais baixo do que outros investimentos internacionais.

Para além da compra de ativos imobiliários e participações em empresas, a Fidelidade também aplicou mil milhões de euros em títulos de dívida da Fosun.