O livro “Pyongyang”, no qual o autor canadiano Guy Delisle regista, em banda desenhada, a experiência dos dois meses que viveu na Coreia do Norte, chega agora às livrarias portuguesas, editado pela Devir.

Em “Pyongyang – Uma viagem à Coreia do Norte”, publicado originalmente em 2003, Guy Delisle revela algumas das particularidades do quotidiano naquele país asiático, à época liderado por Kim Jong-il: uma “sociedade extremamente hierarquizada”, um “ambiente assético” nas ruas e um clima de isolamento em relação ao exterior.

O autor viveu na Coreia do Norte durante dois meses, para trabalhar com o estúdio de animação norte-coreano SEK, tendo levado um leitor de música, um álbum de Aphex Twin, o livro “1984”, de George Orwell, e um rádio, escondido na bagagem.

“Pyongyang: cidade-fantasma num país eremita. Afinal, estava à espera de pior, porque as raras imagens que se podem ver no Ocidente são bastante mais sombrias. (…). Na rua, ninguém se demora. Toda a gente caminha bem a direito, em direção a um destino concreto”, escreve Guy Delisle nas pranchas dominadas pelos tons a preto e branco.

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Entre o espanto, o humor e resignação perante o regime que perdura, o autor canadiano traça um retrato do país do ponto de vista de um estrangeiro, descrevendo algumas das mais banais do dia a dia, como andar de carro, ir a um restaurante ou ouvir música, e a atitude de obediência cega perante os líderes políticos.

“Há uma pergunta que deve queimar a língua de todos os estrangeiros que visitam este país. Uma questão que temos bastante cuidado para não formular. Uma interrogação que, por fim, colocamos a nós próprios… Será que eles [norte-coreanos] acreditam em todas as cretinices que tentam obrigá-los a engolir?”, questiona o autor.

“Pyongyang – Uma viagem à Coreia do Norte” é o primeiro livro de Guy Deslisle publicado em Portugal.

O autor, nascido no Quebeque, em 1966, publicou várias obras em banda desenhada a partir de viagens que fez, por razões familiares, já que a mulher trabalha na organização Médicos sem Fronteiras.

Além deste livro, neste registo de narrativa de viagens, Guy Delisle tem publicados “Shenzhen” (2000), “Chroniques Birmanes” (2007) e “Croniques de Jérusalem” (2011), este último premiado como melhor álbum em Angoulême.

A estes juntam-se ainda, num registo completamente distinto, os três livros em torno da paternidade, intitulados “Guide du mauvais père”.