O papa Francisco recordou hoje a memória de inúmeros “empreendedores missionários” que tiveram a “coragem” de seguir para Timor-Leste onde, no próximo dia 15 de agosto, se assinalam os 500 anos da evangelização do território.

Numa mensagem divulgada pela sala de imprensa da Santa Sé, Francisco refere-se às comemorações – onde estará o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin – considerando “justo e oportuno que este acontecimento seja recordado adequadamente”.

A mensagem do Papa é transmitida numa carta dirigida a Parolin, na qual o pontífice recorda as “incontáveis dificuldades” de quem, há séculos, levou o Evangelho até essa região do globo.

À Igreja Católica, escreve, “cabe a liberdade de anunciar o Evangelho de modo integral, até quando vai contracorrente, defendendo os valores que recebeu e aos quais deve permanecer fiel”.

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Recorda o papel da igreja na história timorense, o “suspirado e feliz nascimento desta pátria” e as “dolorosas surpresas” que a igreja em Timor-Leste enfrentou no longo processo de “concertação nacional”.

Na sua mensagem, em latim, o papa Francisco desafia os bispos e a igreja timorense para que continuem a ser uma “consciência crítica da nação”, mantendo a independência do poder político numa colaboração equidistante que deixe a este a responsabilidade do bem comum da sociedade e de promovê-lo”.

Recorde-se que Timor-Leste e o Vaticano assinam este mês a Concordata, o quadro jurídico das relações bilaterais entre os dois Estados, sendo a primeira vez que um documento deste tipo é assinado fora do Vaticano.

O acordo vai ser assinado pelo primeiro-ministro timorense, Rui Maria de Araújo, e pelo cardeal Parolin, que ocupa no Vaticano um cargo equivalente ao de primeiro-ministro.

Em comunicado recente, o chefe do executivo timorense referiu que “a Igreja Católica, ao longo de 500 anos, prestou um grande apoio espiritual, humano e material ao povo” de Timor-Leste “tendo também contribuído de forma decisiva para o processo de libertação” do país.

“A sua ação é reconhecida e valorizada na Constituição da República. Com efeito, durante a luta pela Independência, fomentou a resistência do povo e legitimou internacionalmente os propósitos da resistência”, sublinhou.

“A Igreja Católica continua a ser uma referência fundamental para a população, pelo empenho que continua a manifestar em apoiar os caminhos do desenvolvimento nacional, sobretudo na área da educação. Tudo isso justifica que Timor-Leste seja o país com maior percentagem de população católica em todo o mundo,” acrescentou o primeiro-ministro.

A visita a Timor-Leste ocorre numa altura em que o papa Francisco continua a deliberar sobre quem será o sucessor à frente da Diocese de Díli do bispo Alberto Ricardo da Silva, que se tinha demitido do cargo no início do ano, por motivos de saúde e que acabou por morrer a 02 de abril.

Desde 2006 que Timor-Leste tem procurado concretizar a Concordata com a Santa Sé, tendo na altura criado uma comissão para discutir os termos do acordo.

A versão mais recente do texto do acordo, que começou a ser negociado pelos dois Estados em 2009, foi analisada em detalhe pelo Conselho de Ministros na sua reunião do passado dia 23 de junho.