A cerveja está nas canecas (e nas cantigas) de todo o mundo. Seja num pub, numa esplanada francesa, numa tenda do Oktoberfest em Munique ou numa tasca portuguesa, o encanto pela bebida feita de cevada tem sido cantada por vozes de artistas de todo o mundo e de géneros musicais diferentes.

Do blues, passando pelo punk até ao pimba. Seja para remendar corações partidos ou para unir pessoas ao redor de uma mesa, o amor pela cerveja é universal. No dia internacional da cerveja, enumeramos 9 exemplos.

1. Quando a cerveja é um novo começo

Acordar de manhã, dar um golo numa cerveja e olhar destemidamente para o horizonte. Apesar do alcoolismo não ser aconselhado, a faixa que abre o Morrison Hotel, quinto álbum do lendário conjunto norte-americano The Doors, é uma ode à liberdade e ao carpe diem. Reza a lenda que Jim Morrison, o icónico vocalista da banda, baseia-se no dia em que acordou do alegado sono induzido de três semanas. “Acordei nesta manhã e fui buscar uma cerveja. O futuro é incerto, mas o fim está sempre perto”. A versão original tinha “beard” (barba) em vez de “beer” (cerveja), mas foi inevitável: um novo começo com uma nova cerveja.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

2. Quando a cerveja é um desabafo 

Acompanhar um blues com uma cerveja na mão é sempre uma boa ideia. De coração partido, John Lee Hooker pede “Um bourbon, um scotch e uma cerveja”. Apesar deste clássico ser de 1953 e pertencer a Rudy Toombs e Amos Milburn, John Lee Hooker presta a homenagem mais conhecida da canção, acelerando-a e tornando-a mais triste. Segundo Toombs, esta canção conta a história de um homem que “está a tentar enfrascar-se em álcool, durante a hora de fecho de um bar, para esquecer a namorada que o acabara de deixar”. Entre desabafos com o barman, que pergunta o que pode fazer para o ajudar, o homem magoado diz: “Traz-me um bourbon, um scotch e uma cerveja”.

3. Quando a cerveja une culturas

O popular cantautor belga Jacques Brel mostra como a beleza da espuma de uma cerveja pode ser apreciada em qualquer país. Ao som de um típico acordeão francês, “La Bière” é uma ode à cerveja e ao seu “cheiro”, seja “em Londres ou em Berlim”. Brel usa a cerveja como uma linguagem universal, devido ao seu maravilhoso sabor e odor. E “Deus, isso é bom”, desabafa Brel.

4. Quando remenda corações

John Lee Hooker não é o único a remendar o coração com cerveja. Imagine que entra num bar e vê um homem sentado ao piano, de copo na mão e de cigarro na boca, cantando os seus desamores. Se o fizesse nos anos 70 e em Nova Orleães talvez fosse Tom Waits, que “bebe para esquecer” uma mulher. “Warm Beer and Cold Women” pertence ao disco ao vivo de Waits, “Nighthawks at the diner”, uma referência à obra de Edward Hooper “Nighthawks”, uma pintura que dizem refletir sobre a solidão. Nesta canção, as cervejas estão por conta de Waits de coração partido.

5. Quando uma cerveja não chega…

A cerveja não está apenas presente nas saídas ao Bairro Alto dos punk lisboetas, mas também nas canções. Os pioneiros do punk português Mata-Ratos, formados em 1982, nos subúrbios de Lisboa, gostam de cerveja: “Eu só quero é cerveja bem depressa. Se o mundo acabar, e morrer ao meu redor, venha outra rodada”. O tema pertence ao álbum “Novos Hinos para a Mocidade Portuguesa” (2007).

6. Quando só há uma cerveja disponível…

Não é só de guitarra e piano na mão que se celebra a cerveja. O mascarado rapper norte-americano MF DOOM garante que “o champanhe não lhe bate”, apenas cerveja. A canção pertence ao disco MM FOOD, um coleção de metáforas através de comida e… cerveja. Apesar de só haver “uma cerveja disponível” e de os outros “rappers lhe berrarem aos ouvidos”, a vontade de MF DOOM pela frescura da bebida de cevada levá-lo-á a ficar com ela.

7. Quando a cerveja nos deixa bem dispostos 

Alemanha é sinónimo de boa cerveja. E boa cerveja é sinal de amigos unidos à volta de uma mesa. “Ein Prosit” (‘saúde’, em português) é uma canção que usa a cerveja como um convite à irmandade. Para além de ser a canção mais ouvida em Munique durante o Oktober Fest, o festival de cerveja mais famoso do mundo, é também uma das canções mais antigas sobre cerveja. Cantada de geração em geração, foi gravada por Gerhard Jussenhoven e Kurt Elliot em 1957.

Tocada de 20 em 20 minutos durante o famoso festival de Munique, “Ein Prosit” obriga toda a gente na tenda a levantar-se, a cantar e a levantar os copos no ar, brindando com todos os presentes de forma alegre e efusiva, unindo pessoas de todo o mundo.

8. Quando uma cerveja sabe bem depois (e durante) o trabalho

Chan Marshall, mais conhecida como Cat Power, dedicou o slow “Lived in Bars” à sua vida de digressão. Mas, apesar de tudo, a cerveja era a  companheira: “Não há nada como viver da garrafa”.

9. Quando a cerveja sabe bem em Portugal

Quim Barreiros é sinónimo de bailarico, bifanas, acordeões, metáforas sexuais e… cerveja. Seja Super Bock ou Sagres, Imperial ou Cristal, Portugal sabe fazer cerveja e os portugueses sabem-na beber. Depois do trabalho, durante uma sexta-feira à noite, “sai uma rodada” para a mesa. Barreiros, numa versão mais rockeira, não se cansa de repetir no refrão de forma vigorosa “cerveja”, porque, afinal de contas, chegou altura para celebrar e esquecer “o patrão e a prestação”.

Texto editado por Filomena Martins.