A freguesia do Parque das Nações, em Lisboa, é considerada uma zona nobre da cidade, mas continuam a faltar-lhe serviços públicos fundamentais como um centro de saúde, escolas e uma rede de transportes, como reclama a junta.

Criado há 17 anos por ocasião da Expo’98, o bairro tornou-se formalmente numa freguesia em 2012, na sequência da reforma administrativa da cidade.

Segundo o presidente da junta, José Moreno, atualmente residem ali cerca de 30 mil pessoas e trabalham outras tantas. Contudo, a zona, com muitos casais jovens com filhos, continua sem escolas suficientes.

José Moreno explicou à Lusa que estavam projetadas quatro escolas, das quais “uma caiu” e outra nunca foi construída e “ninguém fala dela”. Outra — a Vasco da Gama – está a funcionar e a quarta tem de ser terminada — a Escola Básica do Parque das Nações.

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“Eram quatro no total. Neste momento estão restringidas a uma e meia”, disse.

Como as escolas públicas não conseguem dar resposta à “procura muito grande”, os colégios privados estão, “de forma geral, cheios” e outras crianças estão em escolas dos Olivais ou da Portela.

O autarca lamentou que o Governo continue sem dar resposta quanto à construção da segunda fase da Escola Básica do Parque das Nações, que estava projetada para lecionar até ao 9.º ano e tem instalações apenas para o jardim de infância e para o 1.º ciclo.

Apenas 23,7% (196) das crianças que concorreram às duas escolas para o próximo ano letivo (825) tiveram vaga e todas para o pré-escolar ou para o 1.º ano, de acordo com dados do agrupamento de escolas Eça de Queirós, que engloba ambas.

A Escola Básica/Integrada Vasco da Gama teve 240 candidatos ao pré-escolar e 180 candidatos ao 1.º ano, tendo entrado 45 e 46, respetivamente.

Concorreram à Escola Básica do Parque das Nações 230 crianças para o pré-escolar e 175 para o 1.º ano e entraram 52 e 53, respetivamente.

Em ambos os casos, só foram admitidos alunos novos para o pré-escolar e 1.º ano porque a colocação “está dependente da mobilidade de alunos já integrados”, uma vez que “as turmas vêm constituídas e completas dos anos de escolaridade precedentes, não originando vagas”, explicou a diretora do agrupamento, Maria José Soares.

Também projetado para a freguesia desde o início está o centro de saúde, que não existe, mas “já custou uns milhõezitos ao erário público porque já foram feitos, pelo menos, dois projetos”, disse o presidente da junta.

José Moreno recorda-se de haver um projeto no Governo Sócrates e foi assegurado que a obra avançaria. “Já fiz uma reunião com a Administração Regional de Saúde e foi dito que não estava nas prioridades”, afirmou.

Os residentes no Parque das Nações estão distribuídos por três centros de saúde: Olivais, Moscavide e Sacavém.

O autarca admite que “o Governo joga com o facto de saber que os residentes na freguesia são de uma classe média/alta, pouco dada a manifestações de rua, como acontece noutros sítios”.

Outra necessidade prende-se com a mobilidade: “Precisamos de uma melhor rede de transportes públicos nas zonas residenciais, periféricas. Temos uma frente de 5,5 quilómetros de um extremo ao outro e uma carreira que faz a articulação entre o norte e o sul, mas é só um autocarro e tem um intervalo muito grande entre uma paragem e outra. Além disso, não circula aos fins de semana e feriados e de semana termina às 20:00”.

Segundo José Moreno, é preciso “mais uma carreira a circular”.

Contactada pela Lusa, a rodoviária Carris disse que a oferta está dimensionada para a procura e indicou que o Parque das Nações é servido por duas carreiras suas: 728, entre Parque das Nações Sul e Estação do Oriente, e 708, entre Estação do Oriente e Parque das Nações Norte.

“Convergem na Estação do Oriente várias outras carreiras de diversas proveniências, parte das quais circulam via Av. D. João II, entre a Estação do Oriente e Moscavide”, acrescentou.

A Carris exclui a possibilidade de pôr mais autocarros a fazer a carreira 400 porque o “reduzido nível de procura não aponta para qualquer necessidade de aumento”.

A Lusa contactou os ministérios da Educação e da Saúde, mas ainda não obteve resposta.

Falta de vagas obriga alunos a ir para o privado ou outra freguesia

A dificuldade em conseguir inscrever os filhos nas duas escolas públicas do Parque das Nações, em Lisboa, tem revoltado os pais, que se veem obrigados a optar pelo ensino privado ou por escolas fora da freguesia.

É o caso de Bruno Maurício, que tentou colocar a filha de quatro anos na pré-escola e não conseguiu vaga.

“Concorreu à Escola Vasco da Gama, que pertence à minha área de residência e na qual tem prioridade por ser moradora. Concorreu também à Escola Parque das Nações, na zona sul, como alternativa e na qual não tem prioridade”, e não entrou em nenhuma, disse à Lusa.

Segundo o morador, em ambas as escolas houve casos de crianças com cinco anos que não foram admitidas e irmãos que tiveram de ser separados porque um deles não obteve vaga.

Afirmando que terá de optar pelo privado, Bruno Maurício lamenta que este problema não seja resolvido “numa das zonas mais jovens da cidade”.

“Uma solução imediata e possível seria a criação de protocolos com a oferta privada existente até se conseguir aumentar a capacidade pública”, defendeu.

Apenas 23,7% (196) das crianças que concorreram às duas escolas para o próximo ano letivo (825) tiveram vaga e todas para o pré-escolar ou para o 1.º ano, de acordo com dados do agrupamento de escolas Eça de Queirós, que engloba ambas.

Também Sónia Morais Santos tentou inscrever um filho no 5.º ano na escola Vasco da Gama, sem sucesso.

“Vou ficar mais um ano com cada um dos meus três filhos numa escola”, referiu. Um dos filhos está na Vasco da Gama, no 9.º ano, uma filha que andava na pré-escola da Parque das Nações entrou para o 1.º ano no mesmo estabelecimento e o outro vai manter-se num colégio privado.

A filha de Inês Rodrigues concluiu o 1.º ciclo na Escola Básica do Parque das Nações e tentou, sem sucesso, entrar para o 5.º ano na Vasco da Gama.

“Sabia que ia ser difícil, mas tinha alguma esperança. Moro na rua da escola, fiquei com esperança de ela entrar. Mas, segundo a listagem, até vários que fizeram lá o 4.º ano ficaram de fora”, contou.

A hipótese agora colocada é colocar a filha na Escola Secundária Eça de Queirós, que, “apesar de ser secundária, está a receber os meninos que não têm vaga no Parque das Nações”. A ideia não agrada a Inês Rodrigues, que pondera inscrevê-la num colégio privado, mais perto de casa.

Contactado pela Lusa, Alexandre Marão, presidente da Associação de Pais da Escola Básica do Parque das Nações, admitiu que “são sempre centenas [de alunos] que ficam de fora” e defendeu que parte deste problema seria resolvido se fosse construída a segunda fase daquele estabelecimento.

O projeto previa ensino até ao 9.º ano, mas só existem instalações para lecionar até ao 4.º.

“Os 2.º e 3.º ciclos ficaram por construir. Não há biblioteca, ginásio, sala de convívio ou refeitório. As crianças comem num monobloco que a câmara colocou para servir de refeitório. A comida vem em embalagens pré-aquecidas”, frisou Alexandre Marão, acrescentando que a Vasco da Gama “está sobrelotada e terá o dobro das crianças que deveria ter”.

O responsável considerou que o ensino intermédio no Parque das Nações está lotado: “Ou se entra para o jardim de infância e se consegue ficar na escola ou, a meio, é impossível”. Mesmo assim, os que entram para o jardim de infância não têm o futuro assegurado, porque “há mais turmas” neste nível do que do 1.º ano.

Alexandre Marão lembrou que “estão a entrar novos moradores e com índices de natalidade” elevados e sublinhou que a conclusão da escola está no Orçamento do Estado, com projeto aprovado e terreno. A tutela, que não respondeu às questões da Lusa, não responde também à petição do bairro e às recomendações do parlamento e da assembleia municipal.

Sílvia Cristóvão, presidente da Associação de Pais da Escola Vasco da Gama, frisou que o estabelecimento de ensino “sofre pelo facto de não haver alternativa no bairro”.

“Se a segunda fase fosse acabada, permitia mais salas do 5.º ao 9.º ano. São cinco anos que estão por construir. Era muito bom que fosse concluída”, afirmou.

Segundo Sílvia Cristóvão, a escola Vasco da Gama foi concebida para receber 400 alunos e tem 800, pelo que tem de funcionar em turno duplo.