O comandante operacional nacional de operações de socorro da proteção civil, José Manuel Moura, apelou aos portugueses para terem mais cuidado com o uso do fogo no verão, alertando que 90 por cento dos incêndios são de origem humana.
“Há todos os dias algumas dezenas, centenas de pessoas que, de forma negligente ou descuidada ou por dolo, que colocam fogo na nossa floresta. E isto é um trabalho de todos”, disse o comandante da Autoridade Nacional de Proteção Civil, em entrevista à agência Lusa.
José Manuel Moura adiantou que “90 por cento dos incêndios são de origem humana, seja doloso ou por descuido”, sublinhando que muitos fogos “são por descuido”.
Como exemplo, refere que o usar de maquinaria agrícola pode causar um incêndio.
“Nós temos uma prática do uso do fogo, dos nossos costumes que tem de ser muito repensada, tem de haver muitas ações de sensibilização junto das populações”, afirmou.
Dados da ANPC indicam que perto de 40 por cento dos incêndios têm início durante à noite, o que José Manuel Moura considera ser “estranho”, uma vez que, a essa hora, “não são de causa natural”.
“Temos incêndios a começar à meia-noite, uma, duas, três e quatro da manhã. A todas as horas do dia há o início de ignições. É, de facto, francamente estranho”, realçou.
José Manuel Moura considerou também que, “para o combate, era muito importante que todos os que têm apetências para terem ações criminosas no âmbito dos incêndios florestais sejam detidos”.
Na semana passada, a GNR indicou que, até 06 de agosto deste ano, já foram detidas 48 pessoas pelo crime de incêndio florestal, mais nove do que em igual período de 2014.
Em declarações à Lusa, o comandante operacional nacional disse também que a “grande dificuldade” que o dispositivo de combate está a encontrar este ano é “a baixa de humidade dos combustíveis finos” (vegetação rasteira), permitindo que “os incêndios, logo na origem tenham uma velocidade de propagação tremenda”.
“Em condições normais, a propagação de um incêndio dava tempo ao dispositivo de reagir e resolver mais cedo esses incêndios. Agora se não estamos logo em cima com meios, sejam meios aéreos ou terrestres, a possibilidade de nós o perdermos é grande, sobretudo se há simultaneidade”, explicou.
“Havendo 10, 15, 20 grandes incêndios em simultâneo, é evidente que o dispositivo vai dispersando para conseguir chegar a todos, é claro que esta dispersão perde qualidade no combate”, acrescentou, destacando a utilização “muito significativa” das máquinas de rasto, que este ano foram utilizadas perto 200 vezes.
Para o comandante, as máquinas de rastos “acabam por ser uma ferramenta muito interessante porque acabam por permitir a abertura de caminhos e de acessos para os operacionais poderem chegar às diferentes frentes de fogo”.