Quando Maxime Qavtaradze saiu da prisão em 1993 decidiu mudar de vida de vez. Desde jovem que bebia em excesso, traficava droga e também a consumia. Já longe das grades da prisão, Maxime, hoje com 61 anos, decidiu adotar os hábitos gregorianos e levou-os muito a sério: mudou-se então para um penhasco (um monólito) com 40 metros de altura, o Katshki Pillar, no cimo do qual existia uma velha igreja em ruínas, na cidade de Chiatura, na Geórgia, conta o La Voz del Muro.

Qavtaradze já conhecia a região. Costumava beber com amigos nos montes em redor daquela rocha estranha e admirava as histórias em redor dela. Pouco se sabe da igreja erguida no cimo do monólito, mas admite-se que terá sido construída entre os séculos VI e VIII e que terá sido abandonada no século XV, quando os otomanos invadiram o país.

Os monges isolavam-se em locais como este na tentativa de fugir das tentações mundanas. Normalmente, eram os mais importantes — estilitas — que subiam até ao monólito para penitência e oração. E histórias sobre Katshkpi não faltam. Um dos mais famosos a usar o local terá sido São Simão que, contam as lendas, permaneceu sentado no alto da coluna por trinta anos. São Alípio também terá passado por lá: diz-se que esteve 67 anos de pé e só se encostou 14 anos antes da sua morte, quando já não conseguia suportar o próprio peso.

Lendas à parte, sem confirmação possível, podemos voltar a Maxime Qavtaradze, cuja história é bem real. Subiu o monte e encontrou a igreja em ruínas quando chegou ao cimo da rocha. Deparou-se também com o esqueleto de um antigo monge que morreu na velha igreja. Reabilitou o lugar e agora passa o tempo a rezar enquanto espera pela morte. De vez em quando recebe pessoas em busca de conselhos, ou então desce para rezar com elas, mas apenas duas vezes por semana. Todos estes movimentos criaram até uma comunidade religiosa na região.

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As alturas nunca assustaram o homem de 61 anos. Antes trabalhava como operador de guindastes e habituou-se a subir a alguns pontos elevados. Agora os propósitos são outros, conta o Daily Mail: “É aqui no silêncio que se sente a presença de Deus”, disse. Demora vinte minutos a descer o monólito, através de um elevador que foi construído quando o local passou a ter mais movimento e interesse turístico.

Mas nem todos conseguem chegar à fala com Maxime Qavtaradze. O fotojornalista Amos Chappel teve de participar nas sessões de oração de sete horas durante quatro dias para conseguir subir à igreja e conversar com este monge. Por norma, apenas padres e alguns homens que necessitam de conselhos conseguem ter acesso ao local de culto. Foi então que conseguiu conversar com o monge sobre os primeiros tempos na vida que escolheu há 22 anos.

Nos primeiros dois, dormia dentro de um frigorífico para se proteger das condições climatéricas porque não havia nada que o pudesse confortar. Hoje é diferente: tem uma cama e alguns privilégios, graças ao investimento da comunidade ortodoxa de Chiatura.

Katshki Pillar

Que montanha é esta? É um monólito, ou seja, uma estrutura geológica com uma rocha apenas trabalhada pelos agentes de erosão como a água ou o vento. Feito de calcário, Katshki Pillar foi pela primeira vez descrito no século XVIII pelo geógrafo Vakhushti: “Há uma rocha na ravina que permanece como um pilar, consideravelmente alto. Há uma pequena igreja no topo, mas ninguém é capaz de subir até ela ou saber como fazê-lo”.

Com tantas dúvidas sobre como alguém conseguiu subir o monte e construir uma igreja no cimo, as lendas não tardaram a aparecer. Uma delas diz que o topo do monólito estava ligada por uma corrente de ferro até a uma igreja localizada a quilómetro e meio dali.

Só em 1944 é que um arquiteto se deslocou até ao local para participar num documentário sobre o monólito e a igreja no topo da rocha. Depois de escalar a montanha rocha, soube que as ruínas eram afinal de duas igrejas estilitas com menos de 16 metros quadrados, mas apenas 55 anos mais tarde é que as pesquisas em redor do monólito se intensificaram.

Em 2007, foi encontrado um prato de calcário com inscrições do século XIII que faziam referência a alguém chamado “Georgi” que teria construído três celas ermitas naquela zona.

Hoje existe um elevador que leva os homens e padres que querem visitar a igreja até ao topo do monólito e a montanha tornou-se local de culto e turismo graças ao investimento da Preservação do Património Cultural da Geórgia.