O Movimento dos Emigrantes Lesados (MEL) do BES enviou uma carta ao Novo Banco e ao Banco de Portugal afirmando que a proposta da instituição para ressarcir os clientes “é impercetível, indeterminada, pouco sólida” e geradora de “perdas de direitos”.

A carta, a que a Lusa teve acesso, foi enviada quinta-feira e pede a Stock da Cunha, líder do Novo Banco, e a Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, “uma negociação à mesa redonda, com representantes de todos os intervenientes e em curto espaço de tempo”, propondo uma resposta “num espaço de cinco dias” para que esclareçam se as propostas colocam ou não os “direitos anteriores adquiridos pelos emigrantes lesados”.

O MEL observa que os emigrantes lesados “apenas subscrevem propostas que não coloquem em causa todos os direitos anteriores – particularmente os direitos à justa indemnização por venda de produtos associados a informação técnica deficiente”.

O MEL ameaça que se houver falta de resposta tanto do presidente do Novo Banco como do governador do Banco de Portugal, o movimento informará “os seus membros de que não deverão aceitar as referidas propostas”.

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Na carta, o movimento queixa-se que a proposta de pagamento dos créditos dos emigrantes lesados do Banco Espírito Santo “tem sido feita através de uma política agressiva dos balcões do Novo Banco que faz recordar o tempo que nos levou a esta situação”.

Acrescenta ainda que o movimento não pode “admitir, mais uma vez, ser forçado a subscrever produtos lesivos e demagógicos, na tentativa de salvar autoridades independentes vestidas de incompetência e parcialidade”.

Segundo Helena Batista, do MEL, o Novo Banco está a propor aos emigrantes lesados que os créditos dos produtos sejam transformadas em 60% em obrigações da nova instituição financeira, 30% em depósitos a prazo e o restante em depósitos anuais crescentes em seis anos.

O receio do movimento é que, os emigrantes, ao subscreverem as propostas, possam estar a incorrer novamente em riscos, principalmente nas novas obrigações do Novo Banco, em que não acreditam.

O Novo Banco começou a apresentar aos emigrantes uma solução comercial há cerca de três semanas para reaver o dinheiro, investindo nos produtos Poupança Plus, Top Renda e EuroAforro e aguarda agora a aprovação da maioria dos sete mil clientes para avançar.

No início de agosto, fonte oficial do banco referia que a proposta comercial garante pelo menos 60% do capital investido, e liquidez se essa for a opção, assim como um depósito anual crescente a seis anos, que possibilita recuperar no mínimo 90% do capital investido.

Nessa altura, o Novo Banco anunciou ter já chegado a acordo com 2.000 dos 7.000 emigrantes que subscreveram produtos comerciais aos balcões do BES.

A fonte oficial do banco disse na altura que “a adesão à solução para os clientes emigrantes está a correr de forma muito positiva”, adiantando que à data de sexta-feira, dia 31 de julho, a adesão se traduzia em “2.000 propostas a clientes assinadas”, quase “um terço dos clientes”.

Segundo a mesma fonte, aos 7.000 casos correspondem aplicações num valor global de 720 milhões de euros.

A situação dos emigrantes não é a única que o Novo Banco tem para resolver, depois da resolução do BES em agosto do ano passado. Segundo a mesma fonte, desde outubro do ano passado que o Novo Banco está a resolver situações que tinham como ativos subjacentes dívida sénior do BES que transitou para o Novo Banco.

Segundo os dados facultados à Lusa pelo Novo Banco, as soluções apresentadas desde outubro envolveram um total de quase 14.000 clientes e um valor aplicado de 2.120 milhões de euros.

O MEL e a Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC) estão hoje a manifestar-se frente ao Novo Banco dos Aliados, no Porto.