“Se [os eleitores] estiverem de alguma forma reticentes, é este momento de os procurar conquistar pelo seu coração”, apelou esta noite o primeiro-ministro e cabeça de lista, Passos Coelho, aos milhares de militantes do PSD e do CDS que acorreram à tradicional festa do Pontal. Foi assim, pedindo mais do que um voto pela “razão”, que Passos lançou a campanha da coligação pedindo um resultado “inequívoco” nas eleições. Com uma imagem muito vincada, claramente o trunfo que os dois líderes levam para procurar os últimos votos de indecisos: o terceiro resgate à Grécia.

Num discurso de meia hora, Passos passou vários minutos por Atenas. Pediu aos portugueses para olharem para a situação na Grécia e “verem o que essa experiência [a de Alexis Tspiras] trouxe aos cidadãos” desse país. “As pessoas hoje têm o filme todo à sua frente sobre o que poderia ter acontecido a Portugal. Podemos olhar para aquilo que se passou na Grécia e podemos ver o que é que essa experiência trouxe aos cidadãos gregos”, disse o primeiro-ministro. Garantido que não deseja mal nenhum à Grécia e que Portugal está a contribuir para a resolução dos problemas do país, Passos quis vincar que não esquece quem contou “histórias da Carochina” quando o novo Governo grego tomou posse e diria que teria uma nova resposta à crise, sem austeridade e com aposta no crescimento. A farpa a António Costa ficou marcada, embora sem referência explícita.

Foi recorrendo ao exemplo de Atenas – e ao que disse ser a prova de que foi a resistência do Governo português que melhorou a vida aos portugueses – que Passos pediu um voto com “razão e coração” aos portugueses. O chefe de Governo admitiu que existe “um certo azedume e ressentimento” face aos últimos quatro anos de governação, mas disse e repetiu que o único motivo foi, não a sobrevivência do Governo, mas o bem estar dos portugueses:

Os portugueses também sabem hoje do que se livraram. E livraram-se disso porque percebem hoje que, apesar das dificuldades que vivemos, sempre nos preocupámos com os pensionistas, com os desempregados, com os funcionários públicos, com todos os que teriam uma vida muito mais difícil se não tivemos tomado essas decisões difíceis”

Passos insistiria na mensagem, mais perto do fim do discurso. “Se estiverem ainda reticentes”, disse, “é este o momento de conquistar o seu coração: durante 4 anos governámos só a pensar nos portugueses. E ainda hoje é assim: apesar das eleições, nós estamos a gastar menos do que em 2014 (…). Podem reconciliar-se com os que lutaram todos os dias pelo país. Não é apenas porque é mais racional, é porque estamos mais próximos de nos preocuparmos com os portugueses do que alguns dos nossos concorrentes.”

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Depois, viria o pedido: após um mandato com muitas dificuldades, a coligação gostaria de “ter também a possibilidade governar em tempos mais normais”, disse o líder social-democrata.

Meia hora antes, também Paulo Portas tinha subido ao palco usando a Grécia como comparador -lembrando que Portugal teve um resgate, enquanto “a Grécia teve três”. “Bem pode fazer promessas em cartazes, não são viáveis”, lançou o líder do CDS ao PS, afirmando que a coligação “representa o fator estabilidade” e avisando que o voto à esquerda pode significar uma “radicalização” que põe em causa “a confiança na economia de Portugal”.

Durante o seu discurso de estreia no Pontal, Portas usou sempre adjetivos positivos: falou de “confiança”, “mudança”, “estabilidade”, “esperança”. E atirou sempre aos socialistas: “Prometer tudo a todos é levar o país para o ponto de origem.”

Para Portas, a coligação fará uma campanha “sem euforia, mas também sem desespero”. E com “humildade”:. “Sabemos que temos de ouvir e saber explicar, esclarecer os que têm dúvidas”, disse o líder centrista.

Um discurso assente na confiança e por uma maioria

A palavra “confiança” foi, assim, a mais vincada dos discursos dos dois líderes. Confiança no trabalho feito pela coligação, confiança num futuro melhor para o país e em contraponto, a desconfiança face à alternativa personificada no PS. “Quem representa o fator confiança? O PS levou o país à bancarrota”, lembrou Portas. Já Passos Coelho, sem mencionar o PS ou António Costa, seguiu os passos ao parceiro de coligação: “Estamos a recuperar, a crescer a exportar mais, a colher os frutos do que fizemos antes. Se é assim, por que razão havíamos agora de colocar em causa tudo o que passámos?”

No palco, antes da fotografia que juntou todos os principais candidatos dos partidos, Passos e Portas mostraram confiança também na vitória nas legislativas, mostrando estarem motivados pelas recentes sondagens que aproximam a coligação do PS. “Há um ano, poucos diriam que a coligação podia ganhar as eleições. […] Devemos continuar o nosso rumo”, aconselhou o líder centrista.

Foi Passos quem o deu a fasquia: não falou de maioria absoluta, preferiu um eufemismo: um resultado inequívoco. Com o aviso de que, sem ele, o próximo Governo terá sérios problemas. “O meu desejo é que o resultado das próximas eleições seja politicamente inequívoco. Um resultado que nos permita governar para resolver os problemas das pessoas e não andar à procura de como se resolvem os problemas do Governo. Porque se o resultado não for inequívoco, o próximo Governo será seguramente um governo cheio de problemas”, avisou o líder do PSD.

Estiveram presentes nesta festa do Pontal, histórica por ser organizada em conjunta pelo PSD e pelo CDS, cerca de 3500 militantes dos dois partidos, com os cabeças de lista dos vários distritos e a as lideranças das estruturas partidárias do Algarve. Esta festa marca a rentrée política da direita e serviu como pontapé de saída para a campanha eleitoral.