Palavras de ordem, braços no ar de punho fechado, cartazes reivindicativos e megafones ligados. Agosto ainda não chegou ao fim, mas já há vários setores a preparar protestos contra o Governo e a campanha eleitoral parece ser o momento ideal para soltar a voz.

Reformas, salários, horários de trabalho ou concessões de empresas, são alguns dos motivos que servem para apontar o dedo ao governo e sair estrada fora, lado a lado com os candidatos.

Na saúde, os enfermeiros começaram a paralisação na semana passada, mas admitem novos protestos além dos já agendados para agosto. Quer isto dizer que a hipótese dos caminhos dos profissionais de saúde se cruzarem com os dos candidatos em plena campanha eleitoral, não está totalmente excluída.

E há mesmo quem avance que escolheu ir para a rua em paralelo com os candidatos em campanha. Os militares da GNR e os polícias querem a aprovação dos Estatutos Profissionais, reagindo primeiro contra o Ministério da Administração Interna (MAI), mas estendendo as reivindicações a todo o Governo.

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No setor dos transportes, o primeiro protesto do Metro e da Carris acontece em simultâneo, e está marcado para próximo dia 27. Mas os sindicalistas apontam que a greve que não aconteceu em agosto terá uma nova data – a decidir no debate público que promovem na primeira quinzena de setembro.

Os taxistas, por outro lado, rejeitam as manifestações durante a campanha eleitoral, já que acreditam que esse não é o momento certo para fazer greve, apesar da urgência que dizem sentir em resolver a “ilegalidade da Uber”. Mas os quinze dias que antecedem a campanha já parecem adequados: na primeira quinzena de setembro espera-se que os taxistas se manifestem em todo o país.

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Os primeiros a ir para a rua são os enfermeiros, esta quarta-feira na região centro, com cerca de 70% de profissionais em greve. Os profissionais de saúde contestam a ausência de propostas do Governo sobre a revisão salarial e ainda os horários de trabalhos, na greve convocada pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP).
A paragem dos enfermeiros tem causado transtorno, sobretudo nos blocos operatórios e, prevê-se, terá impacto nos internamentos, durante o turno da noite.
Quinta-feira é a vez dos protestos chegarem ao norte do país. Recorde-se que a greve dos enfermeiros já começou na semana passada, entre 11 e 13 de agosto, no Alentejo e no Algarve.
Ao Observador, o SEP adianta estar concentrado nas greves já marcadas, mas não exclui novos protestos durante o mês de setembro.

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Se o Governo não aprovar os Estatutos Profissionais até ao final de agosto, os militares da GNR vão para a rua em plena campanha eleitoral.
A Associação dos Profissionais da Guarda (APG/GNR) depende da próxima reunião, marcada para dia 28 de agosto, para avançar as eventuais datas oficiais e locais de protesto. No encontro, a direção do sindicato vai decidir, em conjunto com a direção nacional, quais os próximos passos a dar.
César Nogueira, presidente da APG, destaca as principais reclamações da Guarda Nacional Republicana: horário de trabalho (para 40 horas semanais); aumento das reformas e o afastamento gradual dos generais do exército que atualmente comandam a GNR. “Não são guardas, são generais. Daqui a cerca de seis anos a GNR já terá guardas competentes e formados para comandar”, explica Nogueira.
Sabe-se que, a acontecer um protesto da GNR, será em conjunto com a PSP.

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Como acontece com a GNR, é a aprovação dos Estatutos Profissionais que está em causa e os polícias apontam a época de campanha eleitoral para dar o corpo ao manifesto. A Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) admite começar os protestos a 31 de agosto, nos quais se incluem manifestações, vigílias e encontros. As ações estendem-se até ao final de setembro, semanalmente, cruzando-se com a campanha eleitoral.
“O governo é o principal responsável pelo timing, não fomos nós que o escolhemos. E não vamos deixar de reagir por causa das legislativas”, diz Paulo Rodrigues, presidente da ASPP.

A discussão acerca dos Estatutos Profissionais da PSP começou a ser analisada ainda com o ex-ministro da Administração Interna, Miguel Macedo e, explica Paulo Rodrigues, “tem sido empurrada pelo Governo até hoje, quando já estava assinada e concluída. O Governo comprometeu-se e não cumpriu.”

Em causa está a aprovação da reforma dos profissionais da PSP até aos 60 anos, sem o corte da taxa de sustentabilidade; a aprovação da pré-reforma 60 dias depois do pedido; os critérios de progressão na carreira e a resolução das remunerações intermédias de alguns elementos da polícia.

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O setor dos transportes também já preparou protestos para os próximos dias. Para já, dia 27 de agosto, começam com uma concentração de trabalhadores e de reformados do Metro e da Carris, em frente à sede da empresa, na Avenida Fontes Pereira de Melo.
Os motivos? Manifestam-se contra os cortes da totalidade do complemento das reformas e contra a concessão da empresa, que, diz o secretário-executivo da UGT, “está a ser feita em cima do joelho.” Sérgio Monte explica: “O secretário de Estado dos Transportes vai abrir concurso e o governo quer fazer tudo à pressa. Não esperar que os processos parem e que seja o novo Governo a preparar tudo com calma, pode ficar mais caro para o contribuinte.”
O também secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes (SITRA) diz que, apesar de ainda não estar agendada nenhuma greve, essa ideia está em cima da mesa.
Sérgio Monte recorda que a paragem agendada para o mês de agosto não aconteceu porque nem todos os sindicatos dos transportes concordaram com o momento escolhido: “Não valeria a pena ser só a Carris e o Metro a fazer greve, mas não abandonamos essa ideia”, explica.
As próximas greves e manifestações, que podem acontecer durante a campanha eleitoral, serão decididas num debate público sobre os transportes, que deverá acontecer na primeira quinzena de setembro.
O dirigente sindical avança ainda que, apesar de ainda não estar nada agendado para o setor do ensino, “os professores devem fazer alguma coisa em setembro.” Mas, acrescenta, “o setor mais agitado é o dos transportes.”

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A data oficial não está decidida, mas os taxistas vão para a rua na primeira quinzena de setembro, antes da campanha eleitoral: “Não queremos interferir nas legislativas, é errado qualquer instituição agir num momento democrático”, defende o presidente da Associação Nacional dos Transportes Rodoviários e Terrestres (ANTRAL). Ainda assim, Florêncio de Almeida não resiste a vociferar: “Temos um governo fora da lei! Não compete ao Governo legalizar aquilo que é ilegal!”. Os motoristas dos táxis vão protestar contra a “ilegalidade da Uber” e, para isso, a direção reúne na próxima sexta-feira, altura em que vai agendar os dias e locais das manifestações. Para já, sabe-se que no sul do país a concentração de taxistas vai acontecer no aeroporto de Faro.