Um dos principais acionistas do El Corte Inglés, a Corporación Ceslar, vai tentar impedir pela via judicial a entrada do investidor do Qatar Hamad Al Thani no capital do grupo, por considerar que o acordo prejudica a companhia.

O grupo espanhol de centros comerciais anunciou a 14 de julho que o xeque Hamad Bin Jassim Al Thani – membro da família real do Qatar – tinha adquirido 10% das ações da companhia, por um montante de mil milhões de euros. A entrada de Al Thani no capital do grupo foi aprovada pela maioria do Conselho de Administração do El Corte Inglés, que também tem presença em Portugal.

No entanto, outro dos acionistas de referência do grupo, a Corporación Ceslar – sociedade que agrega a participação da família Areces – está contra a decisão e ameaça agora ir para tribunal para a travar.

Em duas entrevistas publicadas esta quarta-feira, no jornal Expansión e no El Mundo, a representante da Corporación Ceslar no Conselho de Administração do El Corte Inglés – Carlota Areces – diz que a operação “não beneficia” o grupo nem os seus acionistas e considera que houve “falta de transparência”.

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“A nossa intenção é ir para tribunal. Faltou transparência e fizeram-se as coisas à pressa”, declarou ao Expansíon.

O El Corte Inglés informou que Al Thani vai comprar 10% de ações próprias (das quais apenas o grupo pode dispôr) por mil milhões, através de um instrumento convertível em ações no prazo de três anos.

“Inicialmente disseram-nos que era a colocação de ações de compra própria (de 10% do capital) por mil milhões, mas vejo na documentação que não é assim. Por esses mil milhões ele pode adquirir 12,25%, como mínimo, e 15,25% como máximo, porque há uma série de penalizações”, afirmou Carlota Areces ao jornal.

Essas condições penalizadoras envolvem o pagamento de uma taxa de juro de de 5,25% anuais, bem como outras quantias caso o EBITDA recorrente (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) do El Corte Inglés não cresça 12% nos próximos cinco anos (em 2013 este indicador caiu 0,2% devido à queda do consumo).

Por outro lado, acusa a representante, o El Corte Inglés garantiu o investimento, pelo que se Al Thani vender a sua participação no prazo de cinco anos por um montante inferior a mil milhões, o grupo compromete-se a compensá-lo pelo prejuízo. O mesmo se passa se o El Corte Inglés entrar em bolsa e a participação do investidor valer menos do que os mil milhões.

No Conselho de Administração que ditou a decisão, a 12 de julho, a Corporación Ceslar e a Cartera Mancor, dona de outros 10% do capital, votaram vencidos.

“Perguntei porque não se procuraram outros investidores e disseram-nos que era a única opção. Pedi para adiar a decisão e disseram-nos que não se podia, mas não justificaram nem a pressa nem a operação em si. Dá a impressão que o El Corte Inglés tem uma necessidade imperiosa de financiamento e isso não é certo”, acrescentou Carlota Areces.

A Corporacíon Ceslar diz que estava disposta a comprar os 10% que o xeque comprou e que, agora, continua disponível para chegar a um acordo.

“Desde que não prejudique a companhia. […] Se entra um investidor, que assuma o mesmo risco que o resto dos acionistas”, concluiu.

O xeque Hamad Bin Jassim Bin Jaber Al Thani foi primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar.