Qualquer médico recomendará uma dieta saudável e equilibrada e uma vida ativa, se possível com exercício físico. Recomendações que podem prevenir ou retardar alguns problemas, incluindo o excesso de peso, mas que não servem de tratamento e muito menos de cura para a obesidade. Grande parte dos fatores que influenciam a obesidade está escrita nos genes, por isso a abordagem terá de ser muito diferente, como mostra uma equipa da Escola Médica de Harvard e do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT) num artigo publicado na revista científica The New England Journal of Medicine (NEJM).

A obesidade resulta de uma grave perda de equilíbrio entre a energia que ingerimos e a que gastamos. Direta ou indiretamente, os nossos genes regulam a forma como gastamos energia, seja nas atividades diárias, quando realizamos exercícios físicos ou quando o corpo produz calor. Falhas numa ou várias regiões desses genes podem resultar numa acumulação excessiva de gordura nos adipócitos (células que acumulam lípidos), que por sua vez conduz ao excesso de peso e obesidade.

Os cientistas já tinham verificado que uma variação num gene designado como FTO provocava no cérebro o aumento do apetite, mas ainda não se sabia muito bem como é que esse gene afetava a obesidade, refere o site Science News. Agora o que os investigadores descobriram é que as variações no gene podem condicionar que tipo de células adiposas que são produzidas – privilegiando as que são melhores a acumular gordura (gordura branca) em detrimento das que são melhores a queimar calorias (gordura castanha ou bege).

Com a manipulação dos genes de ratos, os investigadores verificaram que as células adiposas que armazenam gordura podiam transformar-se em células que queimam gordura, libertando energia pela produção de calor.

A obesidade mais do que duplicou desde 1980, refere a Organização Mundial de Saúde. Em 2014, 600 milhões de adultos eram obesos e 1,3 mil milhões de adultos com excesso de peso. Entre as crianças havia 42 milhões de obesos em 2013. As variações do FTO que podem potenciar o aparecimento da obesidade são encontradas em 40% dos europeus, em 42% dos habitantes do sudeste asiático e apenas em 5% dos africanos.

Os medicamentos atuais contra a obesidade, normalmente tratamentos temporários que visam uma perda de peso ou a redução de apetite, são dirigidos mais ao funcionamento do cérebro do que ao metabolismo, refere a CBSNews. Embora a identificação dos genes possam abrir o caminho para o tratamento da doença, os autores do estudo da NEJM lembram que há ainda um longo percurso a fazer até se encontrar um medicamento que o faça.

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