O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, num artigo de opinião publicado no Observador, classifica como “dramática” a situação dos migrantes que chegam, todos os dias, à Europa. Juncker não quer mais cimeiras extraordinária de chefes de Estado e de Governo para decidir como lidar com a situação. “Já organizámos muitas cimeiras”, garante. O que Juncker quer é que esses chefes de Estado e de Governo “adotem agora as medidas” que a Comissão Europeia, em maio, apresentou como política comum em matéria de asilo e de refugiados.

“O que é necessário, e que infelizmente ainda não existe, é coragem coletiva para honrar os nossos compromissos – mesmo quando não são fáceis, mesmo quando não são populares. Em vez disso, o que vejo são dedos acusadores – um velho jogo de passa-culpas suscetível de atrair publicidade, talvez mesmo votos, mas que na realidade não resolve qualquer problema”, considera num texto que foi também publicado pelo francês Le Figaro e pelo alemão Die Welt.

No artigo de opinião que assina, Jean-Claude Juncker explica que é “irrealista” pensar que a União Europeia pode “simplesmente abrir as fronteiras”, mas também o é, avisa Juncker, “imaginar que a Europa pode rodear-se de uma muralha para se proteger de toda a angústia, medo e miséria”. Quanto às muitas medidas a adotar pelos 28 Estados-Membros da União (“algumas das medidas propostas pela Comissão já obtiveram apoio”, garante, mas outros chefes de Estado ainda se mostram “relutantes” em aceitá-las), uma delas é a relocalização de 40 mil pessoas noutros Estados-Membros da União Europeia, migrantes esses que estão, hoje, a sobrelotar os campos de refugiados em Itália e na Grécia.

A União Europeia terá, segundo Juncker, nas últimas semanas, “triplicado” a presença no Mediterrâneo. Mas houve mais a ser feito. “Estamos a prestar assistência aos Estados-Membros mais afetados, enviando equipas da Agência Europeia de Gestão das Fronteiras (Frontex), do Gabinete Europeu de Apoio em matéria de Asilo (EASO) e do Serviço Europeu de Polícia (Europol) para ajudar as autoridades nacionais a identificar, registar e recolher as impressões digitais dos migrantes, acelerar o tratamento dos pedidos dos requerentes de asilo e coordenar o regresso dos migrantes em situação irregular”. Por outro lado, garante o presidente da Comissão Europeia, há também que “combater as redes de passadores e a desmantelar os seus cruéis modelos de negócios”.

Jean-Claude Juncker assume que a União Europeia “nunca recusará a entrada às pessoas que nos procuram em busca de proteção”, assumindo que esta “dispõe dos padrões mais elevados do mundo em matéria de asilo”, e recorda: “quando falamos de migração, falamos de pessoas”. Pessoas que tiveram de fugir da guerra na Síria, do terror instaurado pelo Estado Islâmico na Líbia e da ditadura na Eritreia. E deixa um aviso aos políticos, “tanto de esquerda como de direita”, que acusa de serem “populistas”. “Isso apenas conduz à revolta e não a soluções. Os discursos de ódio e as declarações irrefletidas que ameaçam uma das nossas maiores realizações – o espaço Schengen sem fronteiras internas – não são a Europa”.

Recorde-se que cerca de 50 mil imigrantes chegaram à Grécia apenas durante o mês de julho, mais do que durante todo o ano de 2014. A Itália e a Hungria também têm conhecido números recorde de chegadas e pedido ajuda aos seus parceiros europeus. E que num só fim-de-semana, em abril, morreram no Mediterrâneo, ao largo da costa da Líbia, 900 imigrantes.

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