Estar sozinho e gostar de estar sozinho. É daqueles que procura ouvir-se no espaço que conhece melhor – o seu – em silêncio? E que ao mesmo tempo tem uma equipa de 50 ou 100 pessoas para gerir? Não se aflija: a gestão também sai a ganhar com a introversão. (E não, não estamos a falar de timidez.) Sabe quem é Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook? Aos 31 anos tem uma fortuna pessoal estimada em 34 mil milhões de euros, segundo a Forbes. E sim, é introvertido.

Se, quando pensa num empreendedor, ou gestor de sucesso, vê alguém muito efusivo, aberto e com uma vida social muito preenchida, pense melhor. O sucesso não é consequência exclusiva dos extrovertidos. Nem dos introvertidos. Mas depende da forma como cada um deles lida com as características que os inserem ou afastam da vida social – que são, no fundo, vantagens competitivas. Sem querer estereotipar, pensemos apenas em características comuns: porque não usar cada uma delas para progredir?

Susan Cain, autora do livro “Silêncio – O poder dos introvertidos num mundo que não para de falar” lançou este ano, nos Estados Unidos, o Quiet Leadership Institute, uma consultora que pretende ajudar as empresas a retirar proveito das características dos colaboradores mais introvertidos. E ajudá-los a crescer.

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Ao The Wall Street Journal, Susan Cain disse que os introvertidos não estão interessados em liderar por glória pessoal e que o seu foco está em criar algo no mundo, e não em si mesmos. “Os bons empreendedores são capazes de dar a si próprios a solidão que precisam para pensar e agir criativa e originalmente – para poderem criar algo onde antes não existia nada”, disse. Não têm medo da solidão.

Beth Buelow, fundadora  do site The Introvert Entrepreneur, acrescentou que os introvertidos tendem a pensar muito antes de decidirem o que quer que seja – e antes de a comunicarem aos outros. Enquanto os extrovertidos tendem a construir a maior parte da suas ideias no discurso e na interação com os outros.

“Os melhores líderes de negócios não são necessariamente os melhores oradores, mas são os melhores ouvintes, aqueles que fazem as perguntas certas”, disse.

Para Pedro Barbosa da Rocha, psicólogo especialista em stress e bem-estar na Oficina de Psicologia, nenhuma destas características é, por si só, determinante para o sucesso de uma organização. Mas devem ser utilizadas de maneira diferente, pelas pessoas, que também são diferentes. Se por um lado, a solidão ajuda a analisar e a ponderar, por outro, a extroversão ajuda a reagir.

“Se estivermos perante uma tarefa que requer rapidez de raciocínio e de resposta, uma pessoa extrovertida pode ter algum tipo de vantagem. Mas se estivermos numa situação em que existe tempo para recolher todos os dados para tomar uma decisão fundamentada, talvez o introvertido tenha uma maior vantagem”, diz ao Observador.

Porquê? Porque uma pessoa introvertida “vive com maior tranquilidade os silêncios”, explica. Porque é mais analítica, introspetiva e observadora. “Pode ser uma vantagem quando estão em causa decisões estratégicas, que vão além dos demais diretores da empresa. Porque são mais neutros em relação ao impacto da opinião do outro“, explica.

Laurie Helgoe, autora do livro “Introvert Power: Why Your Inner Life is Your Hidden Strength” (sem tradução para português), acrescenta que os introvertidos tendem a ser mais críticos, porque são mais realistas quando analisam a informação que lhes é dada, e não se deixam levar facilmente por “distrações felizes,” como o reconhecimento dos pares ou o número de seguidores que têm no Twitter.

Pedro Barbosa da Rocha explica que o ideal é que haja um equilíbrio – não ser 100% introvertido ou extrovertido e saber aproveitar e canalizar cada uma das características para o sucesso das equipas e da organização. E aqui insere-se outro conceito: o de inteligência emocional. “Um extrovertido com inteligência emocional tem sensibilidade para saber quando tem de se calar e ouvir mais os outros, por exemplo”, diz.

E no meio está a virtude.

As vantagens de ser um líder mais introvertido

  • Capacidade de trabalharem, desenvolverem tarefas e tomarem decisões sozinhos. Lidam melhor com a solidão e conseguem ser produtivos e atingir objetivos desta forma. Não precisam tanto do contexto social para ganharem energia para produzirem;
  • Podem ser mais capazes de fundamentarem as suas opiniões, porque debatem-nas consigo próprios. Demoram algum tempo a debatê-las e só as comunicam quando estão seguros do que têm para dizer;
  • Por serem mais compenetrados e introspectivos, são bons observadores, explica Pedro Barbosa da Rocha. Porque observam muito antes de emitirem opiniões ou tomarem decisões. Para estarem seguros das suas opiniões.

As vantagens de ser um líder mais extrovertido

  • Perante uma tomada de decisão rápida, podem ter maior capacidade de reação, explica Pedro Barbosa da Rocha;
  • Têm maior capacidade de dinamização das redes sociais, porque se sentem mais confortáveis socialmente. O que também pode ser mais vantajoso na relação com os clientes ou consumidores;
  • Podem trabalhar melhor em equipa e fazer com que essa equipa tenha melhores resultados