O segundo acórdão do Tribunal da Relação, que em julho manteve José Sócrates preso, revela dados novos sobre os esquemas que o ex-primeiro-ministro e Carlos Santos Silva tinham para ocultar a proveniência do dinheiro, avança esta sexta-feira o semanário Sol. Faturas de viagens e hotéis, passadas primeiro em nome de Sócrates e depois em nome de Carlos Santos Silva, ou a aquisição de quadros valiosos em nome de Santos Silva, são, segundo a Relação, indícios de que o ex-primeiro-ministro tentou ocultar e adulterar provas no meio do processo.

Um exemplo: quando viajava, Sócrates começava por pedir factura em seu nome, mas depois essa factura era anulada pela agência de viagens, que a substituía por uma nota de crédito. Mais tarde, a agência emitia nova factura desta vez em nome do amigo Carlos Santos Silva ou da empresa XLM, que só aí pagava a despesa.

“Havia uma primeira emissão de facturas em nome de José Sócrates e posteriores pedidos de substituição por facturas a pagar por carlos Santos Silva”, lê-se no acórdão, citado pelo Sol.

Estes pormenores são avançados pelo semanário, que escreve ainda que o esquema em causa terá sido detetado durante buscas a agências de viagens e hotéis realizadas no âmbito da Operação Marquês, já depois da prisão de Sócrates. As buscas terão sido feitas às agências do grupo Top Atlântico, em dezembro (Sócrates foi preso em novembro), e ao Sheraton Pine Cliffs de Albufeira, um mês depois. Os registos do hotel dizem inclusive que os pagamentos foram feitos “em numerário, por vezes de quantias próximas dos 10 mil euros”. No total, entre 2009 e 2014, as facturas indicam que Sócrates terá gasto com viagens e estadias (para si e para a família e amigos) 350 mil euros.

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Este tipo de indícios é, segundo se lê no acórdão de 21 de julho da Relação de Lisboa (o segundo em que a Relação apreciou a prisão preventiva), um dos principais motivos por §§que o ex-primeiro-ministro continua com aquela medida de coação. Os fundamentos do acórdão eram até aqui desconhecidos, sabendo-se apenas que o Tribunal optara por manter Sócrates em preventiva.

Trata-se, segundo o semanário Sol, de um acórdão “muito duro”, que liga o ex-primeiro-ministro à prática reiterada de ocultação de provas. O caso dos quadros é outro exemplo. Segundo o Sol, Santos Silva adquiria quadros valiosos à galeria de arte de Lisboa Antik Design, quadros esses que estavam depois na casa de Sócrates e aí inventariados durante as buscas ao apartamento na Braancamp. Mais tarde, de acordo com relatos feitos pelo procurador Rosário Teixeira à Relação, algumas dessas obras foram “deslocadas para a casa da empregada da mãe” de Sócrates.

Os juízes da Relação dizem ainda que Sócrates nunca deu explicações sobre estes indícios. E os juízes que proferiram o acórdão, Fernando Estrela e Guilherme Castanheira, disseram mesmo que “não acreditavam minimamente no argumento da amizade” entre Santos Silva e José Sócrates.