O primeiro debate das legislativas ficou marcado pela falta de confronto de ideias. Tanto Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, como Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP – que encabeça a candidatura da CDU -, afirmaram no início do debate que as preocupações dos seus partidos são comuns. Embora assumindo posturas diferentes, deixaram logo claro que não estavam ali para se confrontar diretamente. O alvo era outro: o PS e as políticas da coligação levadas a cabo nos últimos quatro anos em termos de emprego e posicionamento na Europa.

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“O PS, para fazer um governo de direita, precisa de um partido de esquerda? Não, pode fazer com um de direita. Não é para isso que cá estamos”, disse Catarina Martins

“O PS em minoria ou maioria absoluta sempre fez uma opção de praticar aquilo que classificamos como política de direita”, disse Jerónimo de Sousa

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Os dois líderes partidários estabeleceram, logo desde o início, que o seu alvo preferencial não se encontrava à sua frente e houve apenas momentos mais acesos quando se falou do PS ou das medidas de austeridade.

Tanto Bloco de Esquerda como PCP questionaram as opções do programa de António Costa, nomeadamente no que diz respeito à reestruturação da dívida, com Catarina Martins a acusar o PS de ter medo de “levar com a porta de Bruxelas” na cara. Questionado sobre uma alternativa à esquerda construída pelos partidos que agora estão na oposição, Jerónimo de Sousa disse que o PS tem “uma política de direita” e que as diferenças do partido face à coligação são apenas “de ritmo, modo e grau” e não em termos de medidas de fundo.

O secretário-geral do PCP deixou ainda claro que o seu partido está “pronto e preparado para integrar uma alternativa governativa”, mas não participará num Governo forçado. “Seremos parte de um Governo em conformidade com a vontade do povo português, nunca será por favor de outros ou em nome de mera estabilidade política”, afirmou o líder comunista.

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Outro ponto forte do debate foram as críticas aos últimos quatro anos de governação, em que, segundo o PCP a emigração de meio milhão de pessoas ficará como “marca de água” da coligação, enquanto Catarina Martins defendeu que o balanço dos últimos quatro anos “foi profundamente desastroso para o país”. Sobre os dados divulgados esta semana, com números mais baixos de desemprego, a líder do Bloco questiona se “esta descida da taxa de desemprego significa que a vida melhorou ou que as pessoas estão a ser abusadas”, referindo os estágios profissionais e a formação profissional como maneiras de esconder os verdadeiros números dos portugueses que não têm emprego.

Um ponto em que os dois partidos poderiam divergir, mas que a própria Catarina Martins afirmou que não tinham assim visões tão díspares, foi a Europa. Tanto Bloco como PCP defenderam que Portugal precisa de um plano de contingência caso queira sair voluntariamente do euro ou seja obrigado a sair. “Portugal tem ou não o direito a um desenvolvimento soberano? Não defendemos um ato súbito, isto tem de ser um processo. Mas é irresponsável não fazer esse estudo e essa preparação”, avisou Jerónimo de Sousa.

A Justiça ainda veio à baila, devido às afirmações de Paulo Rangel durante o fim-de-semana, mas Jerónimo de Sousa disse apenas que confia “que o poder judicial não se deixe pressionar por questões de ordem política e eleitoral”, referindo que as afirmações do eurodeputado são inaceitáveis, quer para a Justiça, quer para o PS, e o PCP “não vai por aí”. Ainda sobre Justiça, Catarina Martins diz que não alinha na política de “toca e foge” e não quer “amesquinhar” o discurso político, preferindo dizer que está contra o mapa judiciário que entrou em vigor com a coligação e com a falta de funcionários nos tribunais.

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Mas não havia diferenças entre a posição do Bloco de Esquerda e o PCP sobre a saída do euro? Bem, olhando para os programas, o Bloco de Esquerda não fala frontalmente sobre a saída do euro, mas deixa antever essa possibilidade referindo que os últimos seis meses de impasse entre a Grécia e os Governos europeus encabeçados pela Alemanha nas negociações sobre o novo programa de ajustamento, mostraram essa necessidade.

“O desenlace destes seis meses de enfrentamento, onde a abertura do governo de esquerda grego para um acordo viável entre Estados iguais contrastou com o extremismo e a vingança dos ‘parceiros europeus’, transformados em credores, demonstra que uma esquerda comprometida com a desobediência à austeridade e com a desvinculação do Tratado Orçamental tem de estar mandatada e preparada para a restauração de todas as opções soberanas essenciais ao respeito pela democracia nacional“, está no programa bloquista.

Catarina Martins já tinha referido esta possibilidade em várias entrevistas e frisou esta noite que “a saída do euro por si só, pode ser o pior dos dois mundos”.

No programa do PCP, que serve de base à coligação da CDU, a posição é explícita. “O euro representou estagnação e recessão, desinvestimento e degradação do aparelho produtivo, perda de competitividade e endividamento externo, endividamento público e ataque especulativo à dívida soberana […] Mas há sempre a possibilidade de o País, por vontade do seu povo decidir a sua própria libertação. Em qualquer dos casos, deve estar preparado, avaliar impactos, minimizar custos, garantir o aproveitamento das vantagens”, está escrito no programa do PCP.

O próximo debate vai ter lugar no dia 8 de setembro, será entre Paulo Portas e Catarina Martins na SIC Notícias. Conheça as propostas dos vários partidos no Guia Eleitoral do Observador.