Numa entrevista à CNN, António Guterres defendeu que a crise dos migrantes requer uma resposta coerente e que só a Europa, com base na solidariedade, a pode fornecer.

“Eu reagi com uma terrível frustração”, disse António Guterres quando questionado pela jornalista da estação de televisão norte-americana sobre o que sentiu quando viu a imagem de uma criança morta que deu à costa numa praia da Turquia.

O Alto Comissário das Nações Unidas para os refugiados sublinhou que há muito tempo que se anda a falar nas questões legais que envolvem a mobilidade e a livre circulação de pessoas. “Precisamos de avenidas [ligações] legais para ir para a Europa, para ir para o golfo, onde eu estou agora, e para outros locais de forma a permitir que haja mais reinstalações, mais oportunidades de admissão [de refugiados por motivos] humanitários, reforçar os programas de unificação justos e flexibilizar as políticas de vistos”, disse na entrevista à CNN.

“Estas pessoas são forçadas a irem de barco, pagam 4.000 ou 5.000 euros, e morrem nestas circunstâncias desesperadas. Isto não faz sentido”, afirmou.

António Guterres mostrou-se também preocupado com o bloqueio da Hungria a milhares de refugiados que estão retidos em Budapeste, tendo denunciado e criticado a atitude do Governo de Budapeste, afirmando que a crise se está a agravar devido a este tipo de postura.

Primeiro tentámos pedir autorização para providenciar assistência no terreno junto das autoridades locais. Este pedido até ao momento não foi aceite mas espero que a situação se altere. Depois deixámos bem claro que quando um Governo bloqueia a situação não resolve o problema e é por isso que precisamos de uma resposta coletiva. As coisas como estão não resolvem nada, não ajudam ninguém e estão a provocar junto das pessoas um dramático agravamento da situação.”

O Governo húngaro tem estado a reforçar as leis que impedem a entrada ilegal no país de milhares de refugiados, na sua maioria sírios que tentam chegar à Alemanha. Muitos deles estão ainda retidos nas principais estações de comboio da capital húngara sem possibilidade de viajar e sem qualquer ajuda por parte das autoridades. Apesar disso, Guterres diz que vai continuar a insistir até que seja prestada a ajuda necessária, ou pelo menos, que seja aliviado o sofrimento destas pessoas.

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Pedimos às autoridades locais que interviessem e ajudassem na assistência. Foi-nos dito que a assistência não será dada naquele local mas apenas num centro de acolhimento muito distante da zona. Eu estou longe, em Abu Dhabi, mas pedi aos meus colegas que insistissem com as autoridades húngaras de forma a ser prestada assistência para pelo menos aliviar as dificuldades que estas pessoas estão a enfrentar.”

Por agora, a única resposta do Governo de Budapeste foi a de insistir nos avisos de que serão sancionados todos aqueles que entrarem no país sem documentação.

A 26 de agosto, António Guterres tinha em conjunto com o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, apelado à criação urgente de centros de acolhimento e de triagem face ao fluxo de migrantes e refugiados na Europa. “Temos de acelerar e intensificar as decisões tomadas pelo Conselho Europeu relativo à Agenda para as Migrações. Há questões essenciais como a receção, o registo, os ‘hotspots’ [centros de acolhimento e de triagem], a relocalização e a reinstalação”, disse então Guterres depois de uma reunião com o governante francês em Genebra, de acordo com a agência de notícias francesa.

Guterres deixou também um apelo à comunidade internacional para mostrar uma maior generosidade para com os refugiados sírios, salientando que o apelo feito pela ONU para um financiamento para o efeito obteve contribuições de apenas 41%, até ao momento, do montante total solicitado.