Antes de  começar a ler, repita conosco: os cosméticos ajudam a evitar  o envelhecimento. Mas não fazem milagres.

Num estudo publicado este ano, a empresa de cosméticos Olay anunciou a descoberta da impressão digital genética das mulheres cuja pele parece não envelhecer. Após a análise de 20.000 genes, foram identificados 2.000 que embora também sejam comuns ao resto da população, expressam-se de forma diferente nas mulheres “eternamente jovens”. O estudo foi apresentado no Congresso Mundial de Dermatologia realizado em Vancouver, Canadá, entre 8 e 13 de junho deste ano, e estudou mulheres de 20 a 70 anos.

As funções desses genes afetam a capacidade das células para reparar o ADN, produzir antioxidantes e outros fatores relacionados com o envelhecimento. A identificação destes genes é uma boa notícia e representa um avanço significativo no conhecimento científico. Já existem bastantes estudos que descrevem as causas da deterioração biológica que ocorrem com o passar do tempo, mas os investigadores sabem também que o hiato entre conhecer como funciona um processo e ser capaz de manipulá-lo é enorme.

Apesar do estudo ter sido reconhecido como cientificamente sólido, a distância entre o conhecimento obtido e a possibilidade de conceber produtos que o apliquem com os mesmos efeitos ainda é longa. Ou seja, os cosméticos que “incorporem” esta descoberta não vão chegar às mãos dos consumidores amanhã.

Mas a indústria de cosméticos não desarma. Elio Estevez, diretor de comunicação científica da Procter & Gamble Beauty, diz que a sua empresa está empenhada em “identificar moléculas capazes de modificar os processos metabólicos ou bioquímicos para que uma pele não excecional se comporte como uma pele excecional.” Para o conseguir, os testes realizados em laboratório expõem as moléculas a diferentes componentes, e de acordo com Estevez, a pesquisa procura moléculas capazes “de retardar os genes ativados no processo de envelhecimento e fazer com que o ADN se comporte como RNA mensageiro”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mas apesar do que é sugerido em alguns anúncios de cosméticos – que se referem ao ADN ou às células estaminais nos seus anúncios – a possibilidade de se conseguir manipular o material genético da pele para prevenir o envelhecimento ainda é remota. Além de que um produto com a capacidade de alterar o ADN deixaria de ser um cosmético. Isto porque um produto cosmético, por definição, apenas atua na camada superficial da pele, a epiderme. Como aliás, estamos habituados a ler na maioria das embalagens de cosméticos que prometem “milagres”, mas “por ação nas camadas superiores da epiderme”.

Alegações de que determinado cosmético promove “alterações na expressão do genes”, devem ser interpretadas com cautela. As únicas substâncias capazes de produzir a modificação de funções fisiológicas são os fármacos.

Embora se realizem pesquisas de qualidade, como a realizada pela Olay, os produtos da indústria de cosméticos não estão sujeitos aos mesmos controlos a que os fármacos e declarações como “clinicamente testado” não significam que eles tenham sido sujeitos a controlos igualmente rigorosos. Os testes realizados aos cosméticos são mais parecidos aos testes realizados aos produtos homeopáticos, em que os fabricantes apenas têm de garantir a sua qualidade e segurança. A sua eficácia é apenas exigida na minoria dos casos em que são declaradas indicações terapêuticas.

Se quer manter viva a esperança de que pode controlar o processo de envelhecimento através da sua rotina diária de beleza, dois produtos anti-envelhecimento mais eficazes são os cremes hidratantes e os protetores solares com um índice de proteção relativamente elevado. Então, cremes com ingredientes “milagrosos” não existem? Existem. Aliás, a maioria tem “o” ingrediente milagre por excelência. Segundo a Academia Americana de Dermatologia, o ingrediente secreto em muitos cremes anti-envelhecimento é… um bom hidratante.