Ofir é um lugar que marca um momento importante na história da direita portuguesa no pós-25 de Abril: é que foi lá que, entre 1983 e 1985, se reuniram pessoas como Paulo Portas, António Lobo Xavier, Bagão Félix e António Borges, em torno do projeto de Francisco Lucas Pires, produzindo um conjunto de ideias para um programa para o CDS, ideias que foram compiladas no livro “No caminho da Sociedade Aberta”. Essas ideias marcaram a primeira afirmação clara que havia em Portugal uma direita liberal, defensora da economia de mercado e de princípios como a liberdade de escolha dos cidadãos na Educação ou na Saúde. Na mesma altura um grupo de intelectuais fazia a mesma evolução à esquerda, no quadro do Clube da Esquerda Liberal, que publicou durante vários anos a revista Risco, dirigida por João Carlos Espada, hoje diretor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica e colunista do Público.

Não surpreende por isso que esta sexta-feira, na Escola de Quadros do CDS, que termina no domingo em forma de ‘rentrée’ do partido e decorre precisamente em Ofir, Lobo Xavier venha fazer uma intervenção sobre o percurso “de Ofir a Ofir”. Será num jantar-debate que discutirá as “constantes da relevância do CDS”, mas Diogo Feio recusa que tal corresponda a um acentuar do cunho liberal do partido. “O CDS é um partido que tem características liberais, que tem uma componente de democracia-cristã muito marcada, que tem fundamentalmente algo que achamos essencial, olhar para as pessoas como sendo capazes de investirem e criarem riqueza e não serem esmagadas pelo Estado”, declarou.

“Este é um objetivo natural, sendo que o Grupo de Ofir pensava nos anos 1990 e nós estamos num outro século a olhar para os anos que se vão seguir e para a próxima legislatura, o que é essencial porque nesta legislatura não existiu infelizmente liberdade total e autonomia política no nosso país porque tivemos credores em Portugal, porque o PS nos deixou muito perto da bancarrota”, acrescentou.

Para Diogo Feio, regressar a Ofir mostra que o partido, que “já foi muitas coisas”, também “tem memória”.”Hoje, o CDS está de boa saúde, a prova é esta Escola de Quadros, é o empenhamento de muitos jovens em inscreverem-se a até a impossibilidade que tivemos de ter aqui todos”, afirmou, sobre os 120 alunos que estão nesta escola.

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O vice-presidente do CDS também recusou que o regresso a Ofir seja uma forma de acentuar diferenças face ao PSD: “Os partidos quando estão em coligação não deixam de ter a sua autonomia. Nós estamos na nossa Escola de Quadros, tal como o PSD teve a sua Universidade de Verão. A coligação está de muito boa saúde”. “Tivemos a preocupação de ter um programa ainda mais diverso num ano que é especial, um ano de eleições. Vamos demonstrar de forma totalmente aberta que cumprimos aquele que foi o nosso programa eleitoral nas últimas eleições e vamos fazer uma fatura relativamente às promessas eleitorais do maior partido da oposição”, afirmou.

“É importante que estes jovens entendam que o discurso político tem de ser rigoroso, tem de levar a confiança e a segurança. Não vale a pena não ter juízo crítico sobre o que é o nosso passado, o PS foi incapaz de ter um juízo crítico sobre tudo o que aconteceu até que a ‘troika’ entrou em Portugal e continua a fazer promessas a leilão, a referir que as portagens que podem servir para financiar a Segurança Social”, acrescentou.

Diogo Feio, que dirige a Escola de Quadros do CDS, que termina no domingo em forma de ‘rentrée’ do partido, revelou que o livro comemorativo dos 40 anos, com textos dos antigos presidentes, será lançado sem a presença dos antigos líderes. “Os presidentes escreveram os seus testemunhos. Esta é uma escola para jovens, tem os seus oradores”, disse Diogo Feio à Lusa e à Antena Um, sem querer revelar em qual dos dias da Escola de Quadros decorrerá o lançamento do livro.