O ex-atleta e campeão olímpico Carlos Lopes considera que o pavilhão que ostenta o seu nome, em Lisboa, abandonado há anos e que vai ser requalificado, é o “local certo” para receber o seu espólio, atualmente guardado numa garagem.

“Já houve pensamentos, já houve ideias, já houve pessoas interessadas e estão interessadas [em expor o seu espólio], mas também têm de arranjar local certo. E eu penso que este é o local certo”, afirmou Carlos Lopes à agência Lusa.

O ex-atleta referia-se ao pavilhão a que deu nome, o Pavilhão Carlos Lopes, criado na década de 1920 para celebrar o 100.º aniversário da independência do Brasil.

O espaço, localizado junto ao Parque Eduardo VII, em Lisboa, foi encerrado por falta de condições de segurança em 2003.

Desde aí, foram pensadas várias alternativas para o espaço de propriedade municipal como a criação de um Museu Nacional do Desporto ou o novo Centro de Congressos de Lisboa, mas nenhuma avançou, pelo que a Câmara — que não autorizou a agência Lusa a visita a estrutura, por “razões de segurança” – quer agora encarregar a Associação de Turismo de Lisboa (ATL) de o reabilitar.

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O protocolo que define a cedência do pavilhão, que ainda terá de ser aprovado pela Assembleia Municipal, prevê a criação de um espaço museológico dedicado ao atleta, que mantém as recordações dos seus 22 anos de carreira no atletismo guardadas na garagem de sua casa.

“É uma garagem mas tem uma parte específica para manter o material. Mas há material que também já está degradado. E isso tem de ser tudo requalificado, tem de ser tudo bem pensado e eu tenho pessoas (…) a trabalhar nesse sentido e quando vier para aqui já vem muito bem, com regras estabelecidas e tudo”, contou.

Aquele que foi o primeiro português a conquistar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, em 1984, admitiu que nunca nenhuma entidade lhe apresentou “propostas concretas” com locais para expor o seu legado, foram apenas “pensamentos”.

“E surge agora esta oportunidade. E espero que, realmente, numa zona tão privilegiada e que tem acessos privilegiados”, seja possível mostrar o espólio, “principalmente […] aos jovens e às escolas”, acrescentou, assegurando que este “é o local ideal”.

O ex-atleta, agora com 68 anos, que correu pelo Sporting, admitiu que se o clube de Alvalade lhe oferecesse uma sala para expor o seu legado seria “um caso a pensar”.

Porém, reconheceu que ter uma sala só com os seus troféus “não é fácil”. “O Sporting tem muitos troféus, tem imensos troféus”, referiu.

Apesar de ainda não saber ao certo o que ficará exposto no espaço museológico, Carlos Lopes indicou que deverão ficar patentes ao público “troféus, taças, medalhas” conquistados em provas como o Campeonato do Mundo de Corta-mato (1976 e 1984), a Corrida de São Silvestre de São Paulo, Brasil (1982 e 1984) ou a maratona de Roterdão, Holanda (1985).

Estará ali ainda, “em princípio, uma cópia” da medalha olímpica de ouro conquistada nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, assinalou.

Falando sobre o estado do atletismo em Portugal, Carlos Lopes defendeu que aquilo que o diferenciava era a sua “mentalidade, (…) vivia intensamente aquilo que gostava de fazer”, tinha “consciência” do seu valor, “trabalhava imenso em prol desses valores e, acima de tudo, tinha consciência do que era capaz de atingir”.

“Hoje, os jovens preocupam-se mais com o dia-a-dia, não pensam no futuro”, argumentou.

Quanto ao pavilhão, a Assembleia Municipal de Lisboa debate na terça-feira a constituição de um direito de superfície sobre uma área de 12,9 mil metros quadrados, pelo prazo de 50 anos e por cerca de 3,5 milhões de euros, a favor da ATL, que o requalificará, assim como à sua envolvente.

As obras deverão custar cerca de 8,5 milhões de euros e demorar entre dois a três anos.

O pavilhão irá depois acolher eventos de cultura, artísticos e desportivos.