O escândalo foi dos grandes. A 1 de agosto, uma investigação conjunta entre a ARD, uma estação de televisão alemã, e o Sunday Times, jornal inglês, defendeu que pelo menos um terço das medalhas de provas internacionais de atletismo — Europeus, Mundiais e Jogos Olímpicos — foram conquistadas, entre 2001 e 2012, por atletas sob efeito de doping. Dias depois, o nome Paula Radcliffe, detentora do recorde mundial da maratona (já agora, 2:15.25), passou a ser um dos citados no caso. O parlamento britânico resolveu investigar, abriu um inquérito e a inglesa teve que se defender: “Atletas inocentes, como eu, são apanhados no meio do desejo de expandir a história e torná-la mais sensacionalista”.

Esta é uma das frases que constam entre as mais de 1.700 palavras do comunicado que, esta terça-feira, Paula Radcliffe divulgou, já depois de ser ouvida pelo Comité de Cultura, Media e Desporto do parlamento britânico. A ex-atleta, retirada desde que, em abril, participou na Maratona de Londres (prova que venceu por três vezes, em 2002, 2003 e 2005), negou “categoricamente” alguma vez ter tomado substâncias proibidas pela Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF, na sigla inglesa). E mais: lamentou “o dano” causado ao seu nome e imagem pelas acusações que “ameaçam minar a reputação que [construiu]” e que “poderá nunca ser restaurada”.

No comunicado — publicado, na íntegra, pelo Daily Telegraph –, Radcliffe salientou que sempre foi uma opositora às práticas de doping. Admitiu ter “o maior respeito” por “qualquer pessoa responsável por tentar descobrir doping no desporto”, mas lamenta que, ao vir a público defender a sua imagem, tenha “facilitado a cobertura em massa” do seu nome e, como tal, a “ligação a falsas alegações”. Radcliffe revelou estar “profundamente desapontada” por o “manto do poder parlamentar” estar a ser utilizado para “manchar a [sua] reputação”.

A maratonista, que venceu a prova de Nova Iorque em três anos (2004, 2007 e 2008), defendeu que “nunca uma autoridade anti-doping encontrou qualquer razão para ponderar uma acusação por prática indevida” contra Radcliffe. “Nenhum dos valores indicados pelo Sunday Times ocorreu nos períodos em que registei as minhas melhores prestações ou corridas, incluindo todas as minhas participações na Maratona de Londres”, frisou. Além das vitórias na capital inglesa e em Nova Iorque, a ex-atleta venceu, em 2002, a Maratona de Chicago, nos EUA. A inglesa, aliás, revelou que chegou a encontrar-se com os jornalistas do Sunday Times, antes de a investigação ser publicada. “Foi no espírito de entre ajuda entre atletas, cientistas e, por vezes, os media, que aceitei reunir. Mas fiquei incrivelmente desapontada por notar que eles queriam, simplesmente, ligar-me à história”, criticou.

Paula Radcliffe escreveu ainda que os atletas não deviam revelar publicamente os resultados de análises sanguíneas ou de controlos anti-doping, por considerar que os dados “podem ser mal interpretados ou compreendidos pelas pessoas”. Por fim, e em mais de 20 anos de carreira, a antiga maratonista confessou que apenas por uma vez registou um nível “marginalmente superior” ao nível permitido — aconteceu num teste à urina por EPO (Eritropoetina, substância que afeta a produção de células vermelhas). O teste, porém, foi considerado inválido por ter sido realizado menos de uma hora e meia depois de Radcliffe participar numa meia-maratona, com uma temperatura a rondar os 30ºC.

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