A internet vai ser privatizada. O mandato dos Estados Unidos da América sobre o ICANN (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers) vai acabar e esta entidade, que gere os destinos da rede global, terá de passar por uma reconfiguração. O processo deveria estar concluído até 30 de setembro, mas o prazo foi alargado para meados de 2016.

Temas como este, ligados ao futuro da internet, têm sido alvo de discussão por parte da comunidade internacional. Esta quinta-feira, o debate chegou ao Porto. A cidade acolheu a quarta edição do Fórum Sociedade da Informação na Porto Design Factory, uma conferência que para além de outros nomes incontornáveis, contou com a presença de Markus Kummer, membro da direção do ICANN.

Atualmente, a internet funciona e é essencial para a vida em sociedade tal como a conhecemos. Mas e se um dia deixar de funcionar? E se a reconfiguração do ICANN não decorrer da forma esperada? A generalidade do público parece estar alheia às questões relacionadas com a governação da rede. Essa foi uma das posições defendidas por Pedro Carneiro, vice-presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), que numa das suas intervenções destacou a necessidade de “aproximar estes temas da sociedade e da comunidade”. Ao Observador, Pedro Carneiro explicou que muitas vezes estas questões são discutidas “num fórum específico e fechado e acabam por não chegar junto do consumidor final”. Por isso, a FCT associou-se à iniciativa enquanto uma das instituições organizadoras.

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Na sessão de abertura, Filipe Araújo, vereador da inovação e ambiente da Câmara Municipal do Porto, destacou a importância da análise de dados (big data) na sociedade de hoje, dando como exemplo o próprio município no qual é autarca. “A gestão da cidade do Porto vai passar a ser cada vez mais baseada em dados”, disse o vereador — dados esses conseguidos graças à constante comunicação entre objetos e dispositivos com a rede global. Leonor Parreira, secretária de Estado da Ciência, optou por referir a relação da sociedade com este novo paradigma: “As tecnologias são tão transversais na sociedade que não há nenhum setor que não as utilize”, concluiu.

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Nas diversas sessões do fórum falou-se ainda:

  • Do futuro da governação da internet e da passagem das funções da IANA (Internet Assigned Numbers Authority) para uma rede multistakeholder, ou seja, onde os vários parceiros participam e gerem a entidade de forma igual — “Não [é um modelo] para negociar, mas para discutir”, afirmou Markus Kummer;
  • Dos novos media e do desenvolvimento do mundo digital. Abordou-se o impacto dos meios digitais na evolução e no comportamento dos media, bem como a revolução no modo como os conteúdos são feitos e distribuídos: “No online tudo é possível”, garantiu David Dinis, diretor do Observador, que também participou no painel;
  • Da empregabilidade, inclusão social e das próprias competências digitais, um painel que procurou perceber de que forma as tecnologias desta “Sociedade da Informação” mudaram a empregabilidade e o mercado de trabalho;
  • Da privacidade, segurança na internet e gestão de risco, porque o “paradigma da internet livre, aberta e única” acarreta novos “riscos e falhas”, não só para os utilizadores como para as empresas;
  • Dos domínios na web e da importância de as empresas manterem uma presença forte na rede, uma sessão que se focou também na credibilidade de certos domínios de topo (como o .pt) e nas alterações estruturantes que vários domínios aprovados e introduzidos recentemente trarão à internet (como o .wine, .vin, .bank, entre outros).

PS, BE e PCP debateram na sessão final do fórum. Esperava-se ainda a presença de representante da coligação PàF e do partido “Os Verdes”. (Imagem: Flávio Nunes)

A pensar no Internet Governance Forum (IGF)

Em julho de 2006, Kofi Annan, na altura secretário-geral da ONU, anunciou formalmente a criação de um novo fórum de discussão: o Internet Governance Forum, ou IGF, cuja tradução para português poderá ser “Fórum da Governação da Internet”. O grupo de debate — que reuniu pela primeira vez em Atenas (Grécia), em 2006 — junta anualmente diversas personalidades influentes na área da governação da rede.

Este ano é considerado “um ano chave para a governação da internet” devido a todas as mudanças que deverão ser feitas nas entidades que gerem a rede em conjunto. Além disso, a décima edição do IGF realizar-se-á no Brasil, de 9 a 13 de novembro de 2015. Não é por isso de estranhar a presença representada de Benedicto Fonseca Filho, embaixador brasileiro e copresidente honorário do Grupo Consultivo Multistakeholder do IGF, que interveio na primeira sessão plenária da iniciativa desta quinta-feira.

Assim, esta quarta edição do Fórum Sociedade da Informação assumiu um papel ainda mais relevante, servindo quase como uma preparação para o IGF 2015. Estas iniciativas paralelas derivam essencialmente do IGF, resultando do interesse das comunidades na discussão do tema “a nível local”, como referiu numa das sessões a moderadora Ana Cristina Neves, da FCT.

Será o domínio realmente importante?

Em qualquer parte do mundo, quando entra em “google.pt” o seu browser carrega a página principal do Google. O mesmo acontece quando digita “observador.pt” e é automaticamente reencaminhado para a homepage do Observador. Ou seja, o domínio pode ser visto como a porta de entrada para um site. Mas será assim tão importante?

Esta questão gerou discussão num dos painéis. Luísa Gueifão, da associação DNS.pt (a entidade que gere todos os domínios terminados em .pt), defende que sim: o domínio tem relevância. Luísa Gueifão defendeu que o “.pt” é visto como “um domínio de confiança”. “É importante que as empresas estejam online e é importante estarem online com um domínio .pt”, referiu. No entanto, Pedro Seabra, da Viatecla, argumentou que “a marca é que tem credibilidade, não o domínio”.

Seja de que forma for, a internet tem de continuar a funcionar no futuro tal como funciona hoje, uma discussão que vamos continuar a acompanhar.

Consulte o programa do evento para conhecer a lista completa dos convidados que fizeram parte das sessões.

Editado por Pedro Esteves.

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