Os refugiados, de nacionalidade síria, provenientes de um campo no Egito, onde se encontram há vários meses, devem ser instalados a partir de sexta-feira em seis apartamentos novos de tipologia T3 e T4, devidamente equipados, propriedade do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, mas atualmente geridos pela Câmara de Penela.

“A renda das frações onde as pessoas vão ser instaladas, bem como o investimento no mobiliário, é assegurada pela Fundação Assistência para o Desenvolvimento e Formação Profissional (ADFP) de Miranda do Corvo, instituição que está a trabalhar connosco, no âmbito da candidatura apresentada, que é suportada maioritariamente por fundos comunitários”, explicou à agência Lusa o presidente do município, Luís Matias (PSD). O autarca considerou pioneiro o projeto de acolher refugiados num território de pequena dimensão (seis mil habitantes), salientando que “os valores humanitários da solidariedade e fraternidade se sobrepõem claramente a qualquer pensamento mais xenófobo, racista ou até misantrópico”.

Segundo Luís Matias, “a grande maioria da população manifesta-se de forma muito positiva quanto a este gesto de solidariedade de um município pequeno como Penela, que deverá servir de exemplo a outros”. Salientando que não existe comparação possível entre a tragédia humanitária dos refugiados, que fogem de cenários de guerra no Médio Oriente, deixando tudo para trás, e outras situações sociais no país, o autarca considera que “é importante perceber que estes municípios podem continuar a ter respostas para as classes de maior fragilidade social e, ao mesmo tempo, não comprometer o contributo que cada um dos territórios deve dar para que estas famílias possam ter uma janela de esperança e de oportunidade para viverem em segurança e em paz”.

Quatro famílias

A integração das quatro famílias sírias foi pensada ao pormenor e, segundo o presidente da Câmara, existe também um esforço da comunidade, que é feito com base no respeito pela igualdade, dos direitos e garantias que cada cidadão deve ter e pela partilha de responsabilidades. “Há uma responsabilização da comunidade penelense e de toda a rede social em fazer um esforço para acolher e integrar estas pessoas, mas tem de haver também da parte delas um esforço de integração”, frisou Luís Matias.

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O presidente da Fundação ADFP de Miranda do Corvo, responsável pelo projeto, iniciado no primeiro trimestre de 2014, salientou à agência Lusa que este é um contributo para responder às necessidades dos refugiados, que chegam com documentação legal para circular no espaço europeu. “As pessoas que vamos receber encontram-se há muitos meses no Egito e foram selecionados pelas Nações Unidas e Alto Comissariado para os Refugiados. São famílias e casais, com formação académica, que vêm com crianças, algumas bebés. A ideia é trazê-los e permitir que aprendam a língua, os nossos hábitos, se integrem e sejam incluídos na nossa vivência”, frisou Jaime Ramos.

O dirigente, antigo governador civil de Coimbra, adiantou que, ao fim de 10 meses, período de acolhimento, os refugiados devem estar preparados para ter a sua própria atividade profissional para serem independentes e autónomos. Para esse objetivo, acrescentou, “é muito importante que não sejam recebidos só em grandes cidades, como Lisboa, onde acabam por se criar guetos e bairros especiais”.

“Entendemos que é preferível recebê-los em pequenas comunidades, em que as estas famílias possam ter o seu apartamento como a classe média/baixa portuguesa, para ter privacidade, autonomia e cuidarem das suas crianças, trabalhar e até contribuir para o desenvolvimento do país”, sublinhou.

A instituição constituiu uma equipa técnica multidisciplinar de acolhimento com intérprete, professora de português, socióloga, psicóloga, enfermeira e técnica social, que integra profissionais de várias nacionalidades (ucraniana, tunisina e portugueses) com experiência de emigração em França. Jaime Ramos salientou ainda que a Fundação ADFP tem capacidade habitacional e equipa técnica para poder receber nos próximos meses até duas centenas de refugiados, distribuindo-os depois por Miranda do Corvo e Coimbra.