Pressão. É a acção de premer, de comprimir, de apertar. É pelo menos isso que propõe como definição de “pressão” o Grande Dicionário da Língua Portuguesa. No futebol, que é de “dicionários” menos teóricos, mais práticos, a pressão pode ser zonal ou individual. Adiante lá chegaremos.

Há a pressão ofensiva, que é realizada logo no meio-campo do adversário, quer sobre os defesas (centrais ou laterais) que tentam sair com a bola controlada desde trás, quer sobre os médios (interiores ou descaídos sobre uma ala) que tentam temporizar o jogo, acalmando-o ou acelerando-o conforme o jogo dite, ou organizar um contra-ataque, seja por desmarcação de um colega, seja por ação individual.

E há a pressão defensiva, que é realizada na metade de meio-campo de quem defende, pois claro, e que pode ser realizada pelos médios-centro, defensivos ou não (desde que intensos, sejam eles corpulentos ou esguios, altos ou de “palmo e meio”, posicionais ou de deambulações, se forem realmente intensos, a pressão defensiva faz-se). A linha defensiva, subida ou recuada, é o último reduto de pressão defensiva, mas como último reduto que é, se a pressão de um jogador falha, ou existe o “dobrar” desse defesa que foi ultrapassado por outro colega de equipa, ou desequilibra-se a defesa.

Lembra-se de lhe falar de pressão individual e zonal? Se o jogo for veloz, disputado, bola cá, bola lá, e a menos que sejam um duelo de super-heróis da Marvel contra os da DC, ninguém conseguirá fazer uma pressão a todo o campo e individual (ou homem-a-homem) o jogo inteiro. E se alguém o tentar, louve-se-lhe a vontade, mas vai terminar o jogo a arfar como um alpinista do Evereste — e invariavelmente superado pelo adversário quando as pernas não responderam mais como respondiam no começo.

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O dito homem-a-homem só é eficaz quando é feito por um central (ou pela dupla de defesas-centrais) a um ponta-de-lança mais lento e fixo na posição, sendo também eficaz quando um médio-defensivo (que jogue num meio-campo mais voltado à defesa) se ocupa de um criativo do adversário, existindo sempre um colega de meio-campo para ocupar os lugares que este vai deixando vagos na pressão ao dito criativo.

A pressão zonal, essa, pode ser de um homem só ou de mais, e significa, tão simplesmente, ocupar espaços no relvado que impeçam o adversário de evoluir por ali, de se desmarcar, de cruzar, de rematar, sem suar as estopinhas como na marcação individual, mas sendo, quando bem feita a pressão, igualmente eficaz.

Benfica: Júlio César; Nélson Semedo, Luisão, Jardel e Eliseu; Samaris, Talisca, Gonçalo Guedes e Nico Gaitán; Jonas e Mitroglou.
Belenenses: Ventura; João Amorim, Tonel, Gonçalo Brandão e André Geraldes; Ricardo Dias, Rúben Pinto e Carlos Martins; Miguel Rosa, Sturgeon e Kuca.

Explicação feita, perdoe-me a demora, mas era importante para lhe dizer que, na primeira parte, o Belenenses não acertou uma marcação que fosse. Nem individual, nem à zona. E começou cedo a falhar, logo aos cinco minutos de jogo. Jonas, o “pistolas”, é cada vez mais um armeiro que um atirador, não dispara sempre, mas dá aos colegas o que disparar. Escapou-se pela direita, André Geraldes deixou-o (o verbo é mesmo este: deixar) cruzar, com tempo e espaço, e Jonas pôs a bola, redondinha, precisa, na cabeça de Mitroglou. Na Grécia e no Olympiacos chamavam-lhe “Mitrogolo”. E em Portugal também já vai fazendo por merecer o epíteto. O ponta-de-lança grego saltou no centro da área, Tonel não soltou – e lá se foi a marcação por duas vezes ao ar num só momento defensivo –, desviou como quis de cabeça, e fez o 1-0 para o Benfica.

Tonel e Geraldes voltaram a ficar de candeias às avessas com a pressão aos 17′, quando Jonas fez o 2-0 para o Benfica. E diga-se que o Benfica, mais intenso, também mais pragmático (sem tricotar em demasia as jogadas e totalmente vertical a atacar) que em jogos anteriores, fez por merecer a vantagem confortável que tão cedo alcançou. Nico Gaitán cruzou desde a esquerda, procurou o primeiro poste, e foi lá que surgiu Mitroglou (livre da marcação de Tonel) a saltar e a desviar para o poste contrário. E quem é que surgiu na disputa seguinte da bola? Geraldes e Jonas. O lateral português marcou-o nas costas, mas a marcação nas costas não se fez quando o avançado fica de frente para a baliza, mas quando está de costas para ela. Aí, a vantagem é do defesa, pois o avançado ainda tem que rodar sobre si. Neste caso, Jonas ficou cara a cara com Ventura, André Geraldes ficou a ver navios, e o brasileiro só teve que desviar. Claro que há que dar o devido mérito às movimentações ofensivas, mas defender com se defende num treino de captação dos Iniciados (portanto, crianças de 14 ou 15 anos) do Olivais e Moscavide (com todo o respeito pelo clube lisboeta) também não ajuda nada.

O avolumar do resultado era uma questão de minutos. Sá Pinto bem que esbracejava no banco, franzia o sobrolho com ar de poucos amigos, praguejava, mas invariavelmente recolhia ao banco, sentava-se, desolado com o que via. 3-0 aos 40′ da primeira parte. E foi novamente Jonas a marcar. E novamente como no golo anterior, com os mesmos vilões e heróis do golo anterior. Quase todos. O canto foi de Gaitán, batido à esquerda e ao primeiro poste de Ventura, não desviou Mitroglou, mas desviou o outro grego, Samaris, e lá surgiu Jonas ao segundo poste, com Geraldes a deixá-lo atacar a bola de frente para a baliza. E como não é por acaso que lhe chamam o “pistolas”, lá aproveitou Jonas para aumentar a contagem. E até ao intervalo não houve mais o que lhe contar.

Do intervalo regressou um Benfica com vontade de terminar de vez com o sobressalto que foram os últimos jogos. E aos 53′ terminou com os seus sobressaltos, mas deixou a defesa do Restelo, ela própria, num sobressalto. Nico Gaitán fez o que quis de João Amorim. Aqui não é uma questão de pressão, se é uma pressão ao homem ou à zona, mas a qualidade que um tem e que o outro não tem. El Mago deixou o lateral-direito do Belenenses para traz, galgou uns metros com a bola pela esquerda, cruzou-a rasteira para a área, e lá vinha Ricardo Dias, que viu Gonçalo Guedes escapar-lhe, mas lá encontrou fôlego para ultrapassar o miúdo que hoje foi titular na Luz pela primeira vez. O problema é que Dias se esqueceu de como travar, foi contra a bola cruzada por Gaitán, “assistiu” Mitroglou, e o grego, de novo com Tonel, de novo a trocar as voltas ao “veterano” central de Belém, fez o 4-0 com facilidade no centro da área.

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Era tudo? Não, nem pensar. O Benfica não tem Salvio, lesionado que está, o Benfica perdeu Maxi e Lima, mas enquanto houver Jonas e Gaitán, não há problema: é dar-lhes a bola, deixá-los recriarem-se com ela, pôr em campo mais nove jogadores que não os “atrapalhem” muito, e eles resolvem como sabem e como querem. Jonas desmarcou Gaitán na esquerda, o argentino devolveu a bola ao brasileiro, este foi um cavalheiro e devolveu-a de novo a El Mago, e este, por fim, deixou-se de cavalheirismos e rematou. 5-0. Uma mão-cheia de golos aos 60′. Um jogo de mão-cheia de Jonas e Nico Gaitán.

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Mudou aos três, terminou aos seis. Quem fechou a contagem foi Talisca, aos 63′. Talisca é um futebolista “curioso”. Talisca não é um ponta-de-lança, apesar dos tantos golos que marcou no começo da última temporada (vinha com ritmo do Bahia e isso foi-lhe benéfico). Mas também não é um “10”, pois falta-lhe qualidade de último passe, não é um desequilibrador pelo meio, e é incapaz de percecionar, naquela posição, os tempos que o futebol ofensivo exige. Também não é um extremo, pois quando se lhe pede que vá cruzar à linha, Talisca avança para dentro, e quando se lhe pede que procure o centro, Talisca faz-se à lateral – em qualquer do casos é inconsequente. Não se lhe peça também (como Jesus pediu, vendo nele um Matic) que seja um médio-defensivo (ou, se tanto, um pivô defensivo); é que Talisca é alto, o que é uma vantagem, tem a passada larga, mas mal se posiciona ofensivamente, quando mais a defender. O que Talista tem, por enquanto (ele ainda é jovem, calma…), é um potente e colocado remate. Como não tinha quem o pressionasse (a palavra chave do jogo é tanto “Gaitán” ou “Jonas”, como é “pressão” – ou a falta dela por parte do Belenenses), recebeu a bola de frente para a baliza e rematou logo dali para a meia-dúzia.

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Fim de jogo. O Benfica é líder, venceu e convenceu, mas pedia-se mais ao Belenenses de Sá Pinto (que começou bem a temporada, com um apuramento inédito para a fase de grupos da Liga Europa, mas que na Liga já conta três empates em quatro jogos, mais a derrota de hoje). Pedia-se não só pressão, como arreganho na hora de construir uma jogada para golo. É que não se vos viu um remate que fosse, Ricardo…