Deputados japoneses envolveram-se hoje em confrontos físicos durante um debate no parlamento sobre um projeto de lei de segurança que poderá autorizar, pela primeira vez em décadas, o envio de militares do Japão para conflitos no estrangeiro.

Membros da oposição e da coligação no poder protagonizaram cenas bastante incomuns no parlamento nipónico, ao começaram aos empurrões e socos uns aos outros, enquanto o presidente de uma comissão foi cercado.

O deputado da oposição Tetsuro Fukuyama fez de seguida um discurso emocionado para explicar porque é que o seu partido tinha apresentado uma moção para tentar impedir a adoção da reinterpretação da Constituição pacifista do Japão.

“Será que o partido no poder ouve a voz do povo? Vocês fazem tudo o que vos apetece porque são a maioria. Isto parece-vos bem?”, afirmou quase em lágrimas.

A tensão cresceu após o adiamento da votação de uma comissão esta noite, durante a qual os deputados bloquearam as portas e lotaram os corredores em protesto.

Treze pessoas foram presas na noite de quarta-feira, de acordo com a imprensa japonesa, “por obstrução à polícia” durante uma manifestação que reuniu cerca de 13.000 pessoas no parlamento.

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Milhares de pessoas têm saído à rua quase todos os dias nas últimas semanas, num país onde as manifestações são raras.

Segundo as alterações propostas, os militares — conhecidos como Forças de Autodefesa — teriam a opção de ir combater para proteger aliados como os Estados Unidos, mesmo nos casos em que não haja uma ameaça direta para o Japão ou o seu povo.

Embora a Constituição, que proíbe as tropas de participarem em combate, exceto em autodefesa, tenha sido imposta pelos ocupantes norte-americanos após a II Guerra Mundial, em 1945, muitos japoneses receiam que as alterações propostas na lei ponham em causa o caráter pacifista do país e o coloque ao lado dos norte-americanos nos conflitos mundiais.

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, defende as alterações como necessárias para fazer face ao que descreve como ameaças oriundas da China e da Coreia do Norte.