A vida moderna obriga-nos a fazer várias coisas ao mesmo tempo. Conseguir realizar várias tarefas ao mesmo tempo é encarado como um super-poder. Mas, ao contrário de super-poderes como o voo ou a invisibilidade, ou até a super-força, o super-poder multi-tarefas é encarado como um requisito básico de empregabilidade. É tão fundamental que é tido como garantido.

E quais os passos a seguir para ser multi-tasking?

  1. Ser atento
    De acordo com a psicóloga Shelley Carson, citada pelo Finantial Times, a situação ideal é ser multi-tarefas quando o multi-tasking é apropriado, e focar quando o foco é importante.
  2. Apontar
    Tornar cada pensamento vago numa ação específica é o conselho de David Allen, que diz que o objetivo é estar relaxado acerca do que se está a fazer e confiante de que nada vai ficar esquecido.
  3. Domar o smartphone
    O smartphone é um bom servo e um mestre severo. Desligue notificações desnecessárias. Configure um sistema de arquivamento dentro do seu e-mail para que, quando chegar um mail que necessite de uma resposta mais composta, o possa mover para fora da caixa de entrada e colocá-lo numa pasta onde ele fique até que ligue o seu computador.
  4. Foco em sprints curtos
    A ‘Técnica de Pomodoro’ alterna o foco por um período de 25 minutos com uma pausa de 5 minutos.
  5. Procrastinar para vencer
    Se tem vários projetos em desenvolvimento ao mesmo tempo pode procrastinar sobre um trabalhando noutro. Uma mudança é tão boa como o descanso e o psicólogo John Kounios diz que a mudança de tarefas pode desbloquear novas ideias.
  6. Fertilizar
    O autor e investigador Keith Sawyer afirma que “as ideias criativas surgem a pessoas que são interdisciplinares, que trabalhem em diferentes unidades organizacionais ou através de muitos projetos”. As boas ideias surgem frequentemente quando a sua mente faz ligações inesperadas entre campos diferentes.

O multi-tasking só traz vantagens?

A ascensão do multi-tasking é alimentada pela tecnologia e, também, pela mudança social. Hoje em dia, o trabalho e a diversão misturam-se. Os amigos podem contactar-se através do e-mail do trabalho e o patrão pode ligar para o telemóvel pessoal do empregado.

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Parece ser uma excelente notícia – é ótimo conseguir despachar tarefas durante aquilo que antes era tempo perdido. Mas começa-se a perceber que esta bênção nem sempre é boa. As pessoas são esmagadas pela quantidade de coisas que, plausivelmente, podem fazer ao mesmo tempo, e pelo sentimento de que podem ser chamadas a qualquer momento.

E existe preocupação com o apetite sobrenatural das crianças para fazer tudo ao mesmo tempo. Um estudo de Sabrina Pabilonia, do Departamento de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos, referido pela FT Magazine, durante mais de metade do tempo que os estudantes do secundário passam a fazer os trabalhos de casa também estão a ouvir música, ver televisão, ou a realizar outras tarefas.

E assim começou uma campanha contra o multi-tasking. Em dezembro de 2014, foi lançado o projeto ‘Hemingwrite‘, no site de crowdfunding Kickstarter. Um computador livre de distrações, incluído e-mail e youtube, ou até a leitura de notícias. Este computador, agora chamado ‘Freewrite’, representa uma resposta cada vez mais popular ao problema do multi-tasking: a abstinência. Existem, também, programas como o ‘Freedom’ e o ‘Self-Control’ que estão agora disponíveis para incapacitar o browser da internet durante um determinado período de tempo. E, por exemplo, o plataforma de blogging ‘WordPress’ oferece ‘escrita sem distrações’.

Existem, assim, dois lados em batalha: a cultura moderna, que exige que a maior parte de nós esteja disponível para interrupções a qualquer momento, e aqueles que defendem o uni-tasking, que insistem que os multi-tarefas se estão a iludir e que o foco é essencial.

O ‘custo cognitivo’

Nem tudo é positivo. Um estudo elaborado por três psicólogos na Universidade da Califórnia, Los Angeles, investigou os efeitos cognitivos do multi-tasking. Mostrou-se uma série de cartões com símbolos a alunos, e era-lhes pedido que fizessem previsões baseadas em padrões que reconhecessem. Algumas eram feitas em ambiente de multi-tasking, em que os estudantes também tinham que ouvir tons agudos e graves, e contar os agudos. Os estudantes foram igualmente competentes a detetar padrões, com ou sem a tarefa de contar os tons agudos. Mas quando os investigadores fizeram perguntas mais abstratas sobre os padrões tornou-se evidente que eles tinham tido sucesso a cumprir a tarefa no momento, mas não tinham aprendido nada que pudessem aplicar a um contexto diferente. As conclusões deste estudo mostram que o sentimento de entendimento pode ser uma ilusão e que, mais tarde, é difícil lembrar ou aplicar o conhecimento de forma flexível. Ser multi-tarefas pode tornar-nos esquecidos.