Sim, houve a piada da melancia – verde por fora, vermelho por dentro – no primeiro debate televisivo de Heloísa Apolónia, mas esta não achou muita graça. A líder de Os Verdes, que concorre coligado com o PCP formando a CDU, disse a Paulo Portas que o seu Executivo governou em função do sistema financeiro, que o país está “amarrado” e que o melhor é preparar a saída do euro a tempo. Portas contrapôs que a CDU tem uma “posição parecida com a de Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças alemão que propôs a saída temporária da Grécia da medida única, e perguntou onde é que Os Verdes vão buscar 28 mil milhões para nacionalizar os setores estratégicos como propõem no programa.

O debate começou com as duas coligações a comentarem a rejeição de António Costa em viabilizar o Orçamento do Estado para 2016 caso a coligação ganhe. Este foi um dos únicos pontos em que concordaram durante todo o debate já que tanto Portas como Apolónia disseram que não poderiam rejeitar um documento que desconhecem. Portas disse mesmo que coligação terá “atitude aberta” e conservará “uma margem de manobra para chegar a compromissos” caso seja o PS a ganhar e a apresentar um orçamento logo a seguir às eleições. Já Heloísa Apolónia argumentou que poderia antecipar quais seriam as prioridades de um orçamento feito pela coligação e lembrou Paulo Portas que a Constituição “é para cumprir”.

Apesar de terem ficado muitas perguntas por responder, Heloísa Apolónia teve a possibilidade de apresentar o seu partido aos portugueses – “tem como eixo central as pessoas que visa gerar uma estratégia de crescimento que assente na valorização salarial, sustentada numa política ambiental” – defendendo que o seu partido não tem modelos com os quais se identifique na Europa. Paulo Portas avisou então que “as soluções comunistas nunca trouxeram prosperidade”.

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“Há uma diferença entre a coligação que o PVE tem com o PCP e a que o CDS tem com o PSD. É que nós fazemos parte do chamado arco da governabilidade, aceitamos partilhar responsabilidades. Aceitamos gerir questões difíceis. O PEV e o PCP legitimamente colocam-se fora do perímetro que permite o acesos a uma governação razoável porque admitem a saída do euro, querem a saída da NATO, dizem que vão fazer a reestruturação unilateral da dívida”, disse Paulo Portas.

“Existe um Plano de Estabilidade e Crescimento que nos ata de pés e mãos relativamente a determinadas metas que nos impõe e relativamente a certas orientações que nos dá e que não respeitam as características especificas do país e da sua economia. O que significa que estamos profundamente constrangidos e sem possibilidade de redinamização da nossa economia e dos nossos valores, relativamente a determinadas regras que nos impõe e que não temos capacidade de cumprir, sob pena de empobrecermos de forma continuada e de descalabro autêntico”, disse Heloísa Apolónia.

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Este debate teve momentos de confronto, mas o mais prolongado foi o que se prendeu com a possível saída do euro, uma possibilidade prevista pela CDU e rejeitada pela coligação Portugal à Frente. Paulo Portas disse que admitir essa situação era uma das razões que colocava o PEV e o PCP fora do arco da governabilidade e logo Heloísa Apolónia lhe respondeu que não gostava dessa expressão. “O arco da governabilidade será aquele que os portugueses entenderem. Esse chavão não é correto e é a promoção de uma determinada bipolarização, à qual o senhor não era favorável há uns tempos, mas agora já é, que não ajuda a centrar-mo-nos naquilo que é fundamental”, afirmou a líder de Os Verdes.

Para Paulo Portas, a CDU exclui-se da governação ao defender a saída do euro sem explicar às pessoas as consequências de uma possível saída. Na Grécia, quando isso se equacionou, foi uma desgraça, disse. Desvalorização da moeda, perda de rendimentos, corrida aos bancos, são apenas algumas das consequências que o centrista antevê na saída da moeda única. “O PCP, e nisto os Verdes subscrevem, têm posição parecida com Schäuble do outro lado que é uma saída ordenada, algo que ninguém sabe o que é”, afirmou Portas.

Heloísa Apolónia defendeu então que seria “irresponsável não prepararmos o país” para a situação de saída do euro e contrapôs Portas enunciando as consequências para a economia da entrada em circulação do euro. A deputada defendeu que há menos investimento, mais dívida e mais desemprego desde a adesão à moeda única e que o país está “amarrado e com fragilidades enormes”. “A Grécia deu-nos a entender a falta de solidariedade que existe na União Europeia”, sublinhou.

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Paulo Portas pediu ainda explicações sobre outro ponto do programa da CDU, as privatizações. O programa do PCP, que serve de base para o programa da coligação com os Verdes, promete a nacionalização da banca e de setores estratégicos para o país como a energia. O centrista diz que fez contas e que custaria à CDU 28 mil milhões de euros fazer esta passagem do que está em mãos privadas para o Estado. “A Constituição diz que não há expropriações sem devida retribuição. […] Com que dinheiro pagava? Era uma barbaridade. O Estado não é bom prorpietário e não é bom gestor”, sublinhou Portas.

Heloísa Apolónia retorquiu afirmando que nas mãos da coligação PSD/CDS, a máquina do Estado se tinha degradado devido os cortes no pessoal o que fez com que houvesse falta de funcionários nas escolas, na saúde e nos órgãos do Estado que lidam diretamente com os cidadãos. E contrapôs com os números do desemprego, afirmando que a direita criou uma base “artificializada” face aos números da população ativa, lembrando a Paulo Portas que estágios e formação profissional não é a mesma que empregos e que as 500 mil pessoas que imigraram já não contam nas estatísticas “falaciosas”.

Paulo Portas corrigiu a deputada e disse que emigraram permanentemente 200 mil portugueses e que os restantes são estudantes de Erasmus, pessoas que trabalham em empresas portuguesas no estrangeiro e imigrantes naturalizados que voltaram para os seus países de origem. Quanto aos estágios, Portas afirmou que se eram tão maus, porque é que as câmaras da CDU recorriam a eles, mostrando um mapa onde assinalava as câmaras desta coligação que aplicavam estágios profissionais nas suas autarquias.

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Uma das maiores disputas da noite foi em relação ao número de pessoas que abandonaram o país nos últimos quatro anos. Heloísa Apolónia disse que foram 500 mil e Paulo Portas defendeu que imigrantes permanentes foram 200 mil.

Consultando os dados da PORDATA, podemos encontrar o número de emigrantes nos últimos quatro anos registados pelo INE. Assim, entre 2011 e 2014 saíram de Portugal 485.128 pessoas, mas apenas 199.494 declararam tê-lo feito de forma permanente.