Três camiões carregados com 66 toneladas de roupa, comida, medicamentos e brinquedos são “a ajuda para super-heróis” que um grupo de amigos pôs hoje a caminho da Croácia e Eslovénia para entregar a milhares de refugiados.

Numa caixa de sapatos foi arrumado um boneco do Mr. Incredible (Homem Incrível), que terá sido parceiro de brincadeiras de uma criança portuguesa. Partiu hoje de viagem, por volta das 12:15, na Caravana Aylan Kurdi, a caravana humanitária que um movimento de cidadãos pôs em marcha no espaço de uma semana, batizada em homenagem ao menino sírio de três anos que morreu na travessia do Mediterrâneo, cujas imagens chocaram o mundo e desencadearam uma mudança de atitude por parte dos líderes europeus.

O Mr. Incredible leva escrita a marcador preto, na tampa da caixa, uma mensagem, em inglês, que alguém quis que fosse entregue à criança que o receber: “You are a super hero. Stay strong (Tu és um super-herói. Mantêm-te forte)”.

Este é apenas um exemplo entre muitos encontrados pelos voluntários que ajudaram a recolher, organizar e embalar as toneladas de donativos para os milhares de refugiados retidos na Croácia, impedidos de seguir viagem para o norte da Europa pela Hungria e pela Eslovénia.

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“Foi uma experiência muito emocional que nos foi dando muita força e motivação ao longo dos dias. As pessoas galvanizaram-se de uma forma que nos sensibilizou e comoveu e estamos esmagados com essa reação. Havia bilhetes para crianças nos bolsos de roupa para crianças. Havia brinquedos com mensagens nas caixas em que foram embalados. Muitos pequenos gestos que revelam uma grande humanidade das pessoas que se envolveram”, disse à Lusa Maria Miguel Ferreira, uma das organizadoras da caravana.

Maria Miguel segue viagem num carro de apoio à caravana, com outros três mentores da iniciativa, com o objetivo de “garantir que a carga chega ao destino” e, em permanente contacto com os quatro voluntários que partiram na sexta-feira para Zagreb, capital da Croácia, e que já se encontram “no terreno a acompanhar o que acontece em termos de rotas de refugiados”.

“Preocupações, nenhumas. Trabalho, muito”, são as informações que chegam da Croácia, que poderá nem ser o destino final.

“O nosso objetivo é entregar onde for necessário. Estamos em coordenação com as autoridades e várias ONG nos países da região. Na Croácia, mas também na Eslovénia. Estamos a acompanhar o que se passa e a tentar assegurar-nos de que quando a carga estiver já na região nada nos impedirá de a distribuir”, acrescentou.

Esperam não demorar mais do que quatro dias a chegar até aos refugiados, não antevendo bloqueios à sua passagem, até porque viajam com um salvo-conduto do Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas (ACNUR) e cartas de cortesia das embaixadas da Croácia em Portugal e de Portugal na Croácia.

João Soares, um dos três motoristas que vão conduzir os camiões até ao destino, disse à Lusa que esta é uma viagem normal, igual às outras, em termos de trabalho, que tem apenas a particularidade de ter um caráter humanitário. A chegada não tem hora marcada, até porque há tempos de descanso a cumprir e ajustes feitos a todo o momento.

Vários familiares juntaram-se hoje no centro logístico de onde partiu a caravana para se despedirem de quem seguiu viagem. Maria da Luz, sogra de João Vasconcelos, um dos organizadores, estava orgulhosa da iniciativa, mas preocupada com a partida.

Ao longo da última semana, centenas de voluntários tornaram possível a iniciativa, para além dos 10 organizadores e de 30 empresas que se associaram ao projeto com donativos.