A duas semanas das eleições que vão decidir quem vai liderar os destinos do país nos próximos anos, o que nos dizem as sondagens sobre as intenções de voto dos portugueses? Na última sexta-feira, um estudo da Eurosondagem pôs meio país a discutir o que Cavaco Silva deveria fazer caso se verificasse o cenário mais louco possível: socialistas tinham mais votos mas elegiam menos deputados. Nesse mesmo dia, no entanto, uma sondagem divulgada pelo Correio da Manhã (Aximage) dava vantagem à coligação (0,6 pontos percentuais) e um outro estudo avançado pela RTP (Católica) aumentava essa diferença para sete pontos percentuais. Mas, afinal, o que nos dizem (mesmo) as sondagens?

No blogue Margens de Erro, Pedro Magalhães, professor universitário e investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, explica que, apesar de a balança pender ora para PS, ora para a PSD/CDS, os dados mostram que, na prática, socialistas e coligação estão “empatados”. Essa é a primeira conclusão: “PS e coligação PSD/CDS estão empatados nas sondagens (…) Não vale a pena andarmos a discutir sondagem a sondagem, especialmente se tiverem amostras pequenas de inquiridos a dar a sua inclinação de voto, como algumas das mais recentes”. E a história diz-nos que os empates técnicos, mesmo que a duas semanas das eleições, podem significar pouco – nas eleições de 2011, Pedro Passos Coelho e José Sócrates estavam empatados a 15 dias da ida às urnas, mas foram os social-democratas a sorrirem no final, com uma vantagem de mais de dez pontos percentuais.

Mais importante do que olhar para cada sondagem de forma isolada, continua o investigador, é olhar para o “retrato de conjunto”. E o que nos diz essa fotografia? Que a diferença entre as duas principais forças políticas, “mesmo agregando várias sondagens (e assim aumentando a base amostral implícita), não é significativa” e que os números não estarão longe dos 36,2% para PSD/CDS e 35,8% para PS.

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Fonte: Popstar/Margem de Erro. Agregador das várias sondagens realizadas até agora

E neste ponto há más notícias para o Largo do Rato. De acordo com os dados da Popstar, o “PS tem estado a descer desde o início de julho. Nessa altura, as intenções de voto no PS podiam ser estimadas em 37,5%. Foi o máximo histórico na legislatura. Nunca mais voltou a esse nível“, explica Pedro Magalhães.

Coisa diferente é dizer que a coligação está a subir a olhos vistos nas intenções de voto dos portugueses. É que, apesar da tendência negativa dos socialistas, PSD e CDS parecem não conseguir descolar nas sondagens. “Ao contrário do que sucede com o PS, os resultados da coligação estão muito dispersos, mais altos para a Aximage e a Católica, mais baixos para a Eurosondagem e para a Intercampus”. Ou seja, “é menos evidente” que “a coligação esteja a subir”.

Noutro texto publicado no mesmo blogue, este a propósito da vitória do Syriza nas últimas eleições, o investigador avança com outro factor que pode ajudar a explicar esta aproximação da coligação aos socialistas: os estudos realizados pela Aximage (primeiro) e pela Católica (depois), mesmo com amostras “relativamente pequenas”, dão uma diferença considerável a favor das tropas lideradas por Passos. E “isso está a refletir-se nas estimativas do Popstar (que passaram a colocar, precisamente, a coligação à frente)”.

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  Fonte: Popstar/Margem de Erro

A pergunta que se impõe a seguir é: se os socialistas estão a descer nas intenções de voto e a coligação não descola da casa dos 35-36%, então quem é que está subir? O Bloco de Esquerda, responde Pedro Magalhães. “De mínimos históricos na legislatura de 4% para os atuais 5,4% na estimativa do Popstar”.

Já a CDU, a quem a Eurosondagem, por exemplo, dava um resultado histórico – entre 20 a 22 deputados, desmentido pela Católica que a dava atrás do BE, “está estável” nas sondagens. Com a subida do BE e os bons resultados da CDU, chegam más notícias para PDR e Livre. O facto de “não aparecerem individualizados” na maioria das sondagens realizadas recentemente, “não é bom sinal para eles”, conclui o investigador.

Os erros de interpretação das sondagens: o caso grego

Pedro Magalhães apontou ainda, no texto em que abordou as eleições gregas, que não se podem comparar os “empates técnicos” que se verificam em Portugal com as sondagens que na Grécia dariam um empate técnico ao Syriza e à Nova Democracia. Isto porque, afirma Pedro Magalhães, “o facto de uma sondagem em particular produzir estimativas de intenções de voto onde, tendo em conta os resultados e a amostra utilizada, a vantagem estimada para um partido não é estatisticamente significativa, não significa que, no conjunto das sondagens, essa vantagem não o seja”.

Ora, na Grécia, apesar de em média as últimas 16 sondagens pré-eleitorais darem uma “vantagem de apenas 1.1 pontos percentuais ao Syriza (…) 12 delas davam estimavam as intenções de voto como sendo superiores para o Syriza, uma um empate, e 3 intenções de voto superiores para a ND”. E, nas sete sondagens “cujo trabalho de campo terminou mais tarde (dia 18)”, seis davam uma “vantagem média (…) de 2 pontos percentuais”, o que já indiciava uma tendência clara favorável ao partido de Tsipras.

Em Portugal, apesar das recentes descidas do PS, essa tendência ainda não é totalmente clara. É preciso notar, portanto, que se em Portugal “as amostras usadas em várias destas sondagens são relativamente pequenas”, e por isso as análises mais próximas do fim da campanha (que, tal como aconteceu na Grécia, terão uma maior amostragem) permitirão uma melhor previsão dos resultados eleitorais, por enquanto “as estimativas do Popstar, que calculam o intervalo de confiança das estimativas, mostram que esses intervalos estão (ainda?) sobrepostos”, conclui Pedro Magalhães.