Em Downing Street, no n.º11, a manhã de segunda-feira não começou bem para o primeiro-ministro David Cameron. O Daily Mail dava à estampa, logo cedo, uma história que tem tanto de macabra como de polémica. Se é verdadeira? Provavelmente não — até porque ninguém, até ver, veio provar a sua veracidade. Assim sendo, é mais um boato que outra coisa qualquer. É divertida? Bem, nas redes sociais, as reações, tanto de anónimos como de políticos da oposição ao Partido Conservador, são, no mínimo, criativas. E mais do que criativas, são-no em massa. Contam-se já mais de 130 mil twittes com uma hashtag curiosa: #piggate. Que é como diz, mais coisa menos coisa, O Caso do Porco.

E que porco é este? E o que tem Cameron que ver com ele? Se calhar é melhor contar-lhe os detalhes da história que se lê no Daily Mail. O tablóide britânico andou a “foçar” (ou não se falasse aqui de porcos) numa biografia não-autorizada de David Cameron, escrita por Lord Ashcroft e Isabel Oakeshott — memorize o nome do primeiro, que lhe vai ser importante para compreender a contenda toda. A páginas tantas, Ashcroft e Oakeshott, num capítulo que dedicam à vida universitária do primeiro-ministro britânico, dão conta de um certo interesse pela zoofilia (ou pela necrofilia, não sabemos bem — nem queremos de todo saber.)

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É que Cameron, quando ingressou em Oxford, ingressou também num clube de alegres convivas, chamado “Flam Club”. Para ingressar nesse clube mais ou menos secreto — um clube que a biografia diz ter sido um antro de drogas como a cannabis — era necessário, como dizer-lhe isto?, fazer uma “prova de ingresso”, escrevem os biógrafos, “com rituais bizarros e sexuais”. Que incluem o dito suíno (que pelos vistos estava morto).

Certo. E imagens do sucessivo, há? Não. Ou melhor, diz-se que sim, que há uma fotografia de Cameron em posses pouco dignificantes, mas nunca se viu nada. E fontes, há? Os biógrafos dizem que sim, que foi um deputado britânico quem o confidenciou, mas desse deputado, até agora desconhecido, nada se viu ou ouviu. Hmmm, pois. Mas então, diga lá, porque é que os biógrafos resolveram contar uma história sem fontes que se conheçam, nem registos que se vejam? O Telegraph dá conta que Lord Ashcroft, que até é trabalhista e foi próximo de Cameron, não terá gostado nada, mas mesmo nada, de, em 2010, não ter sido convidado para o governo do primeiro-ministro. Tanto não gostou, que se terá vingado em livro. O termo “vingança” é usado, precisamente, na capa do Daily Mail.

Este tipo de manobra política (se o for, por parte de Lord Ashcroft) não é novo. Hunter S. Thompson, no livro “The Great Shark Hunt: Strange Tales from a Strange Time”, onde relata, por exemplo, as venturas e desventuras das eleições presidenciais de 1964 nos Estados Unidos, sugere que Lyndon B. Johnson, a contas com uma campanha eleitoral tremida, pediu que se propagasse um rumor. O rumor era o de que o seu rival republicano, Barry Goldwater, tinha relações sexuais com animais de lavoura. Johnson venceu a eleição e o rumor não se propagou, afinal.

Mas voltando ao Twitter. O líder do Lib Dems, a quinta força política no parlamento inglês, foi sarcástico, como bom inglês que é. Disse Tim Farron: “Nunca estive tão feliz como agora por ser vegetariano”. O próprio do “porco” também já tem uma conta na rede-social. E parece não querer conversar com Cameron sobre o que se passou naquele dia. Se é que houve “aquele dia”.