Há uma linha que separa o discurso de António Costa agora daquilo que tinha sido há um ano quando estava a lutar com António José Seguro pela liderança do PS: o nome do ex-primeiro-ministro. O líder socialista fez desaparecer como que por magia as referências a José Sócrates ditas por si e por todos aqueles que discursam nos comícios. Sócrates não foi lembrado nem no distrito de Castelo Branco, distrito natal do ex-primeiro-ministro.

O máximo que se ouviu dizer nestes primeiros dias de campanha oficial foram referências feitas ao “governo PS”. Não se ouviu falar do “último governo socialista” ou uma variável, nem “ex-primeiro-ministro” e muito menos o nome do último homem que esteve na liderança do país e que agora está a braços com a justiça. Nem no distrito de Castelo Branco, nem na Covilhã, terra natal de José Sócrates se ouviu o nome do ex-líder socialista. Costa raramente fala do passado e quando o faz é com referências genéricas a políticas socialistas que quer retomar, como acabar com os cortes nas prestações sociais que ajudam os mais pobres.

Mas o silêncio aplica-se a todos aqueles que antes dele falam nos comícios, por norma presidentes das federações distritais e os cabeças-de-lista dos distritos por onde tem passado. O nome de José Sócrates ainda não se ouviu nos discursos do PS, apesar das referências a medidas ou obras levadas a cabo pelo anterior Governo. Em Évora ouviu um candidato lembrar que “foi com o PS no Governo que se fizeram as grandes obras”. Em Castelo Branco também ouviu a diferenciação. Mas os candidatos socialistas não foram mais longe que isto.

Desde a detenção de José Sócrates que o líder socialista pediu para que os portugueses fizessem a separação entre o campo da justiça e o campo da política. Sempre que foi questionado, disse “defender” e “assumir o passado” do partido com todas as suas lideranças, mas desde o primeiro debate com Passos Coelho – quando este referiu por mais de uma dezena de vezes o nome do ex-primeiro-ministro para colar Costa a Sócrates – que Costa não tocou mais no passado recente do partido. Nos discursos que tem feito neste início de campanha, Costa concentrou baterias no ataque à política social do Governo, desde a política de pensões, à escola pública ou à saúde.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR