Rekha Kalindi, agora com 18 anos, recusou um casamento arranjado quanto tinha 11 anos de idade. Por isso, foi, alegadamente, espancada e deixada a morrer à fome pela própria mãe. A história gerou uma onda de solidariedade que já tem contornos de campanha contra o casamento infantil na Índia. A mensagem é a mesma do livro de memórias da adolescente: Strengh to Say No (Força para Dizer Não).

Estes casamentos indianos obedecem a várias regras e tradições, numa complexa teia de castas, culturas e costumes. E ainda hoje continuam a determinar as relações em grande parte da Índia. São combinados pelas famílias para reforçar os seus laços com outras famílias, sendo que muitos acreditam que uma pessoa solteira perde o seu status na sociedade. A união através do casamento é vista como algo sagrado e imutável. Os pais procuram alguém com importância social e especial para os filhos. A condição é que tenha a mesma religião e casta da própria família. A aliança é consumada depois de consultados os membros mais velhos e astrólogos. Os filhos solteiros são a origem das maiores desonras para os seus pais. As mulheres que não possam ter filhos também podem vir a ter uma vida cheia de problemas, principalmente da parte das sogras. Desobedecer aos pais é grave, sobretudo nas questões amorosas, sendo que muitos casos são ainda resolvidos por ‘tribunais’ locais.

Foi isto que Rekha se recusou a fazer. E foi por isso que, segundo a Humanium, uma associação de direitos infantis, citada pelo Daily Mail, que “a mãe de Rekha lhe batia violentamente proibindo-a de ir à escola e privando-a de comida.” A vítima conta, no livro de memórias, que foi obrigada a trabalhar desde os 4 anos de idade para ajudar no sustento da família, numa vila onde, e como dá conta a Humanium, “quando uma menina nasce, é sempre uma má notícia.” Mas depois desta história, a UNICEF financiou a educação de Rekha, permitindo a esta o começo de uma nova vida.

No livro, com o nome que inspirou a campanha no Twitter, são descritas algumas situações entre mãe e filha: “Eu chorava e gritava mas ninguém interveio. Depois de alguns minutos ela parava. Eu continuava deitada no chão, a tremer do medo de que ela começasse a bater-me outra vez.”

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A minha mãe agarrava-me pelos cabelos e continuava a bater-me. Eu tentava fugir, mas ela segurava-me com força com uma mão enquanto na outra segurava um pau.”

Com a intervenção de um professor e de um assistente do Ministro do Trabalho, Rekha conseguiu não casar e regressou à escola. Agora, e 7 anos depois da recusa, escreve discursos e é uma ativista contra o trabalho infantil e os casamentos arranjados.

No Twitter são já muitos os seus seguidores: