O Presidente da República espera que o próximo Conselho Europeu “esteja à altura” para responder à crise dos refugiados, por estarem em causa “valores e princípios que a União Europeia (UE) não pode abandonar”, como a solidariedade.

“Espero que o Conselho Europeu de amanhã (quarta-feira, em Bruxelas) esteja à altura porque estão em causa valores e princípios que a UE não pode abandonar, onde se incluem a solidariedade e a liberdade de movimentos”, afirmou Aníbal Cavaco Silva aos jornalistas portugueses, à margem do encontro na Alemanha do Grupo de Arraiolos, constituído por nove chefes de Estado da UE sem funções executivas.

Para o chefe de Estado português, colocam-se atualmente “dois grandes desafios” no espaço comunitário, sendo o primeiro a curto prazo: o “acolhimento dos refugiados e o seu encaminhamento com dignidade”.

Mas outro desafio que “não deve ser ignorado, é de longo prazo: por que é que as famílias com as suas crianças e com os seus bebés saem dos seus países, de junto dos seus queridos e fogem, procurando a alcançar a Europa”, acrescentou.

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Por isso, disse, “é preciso investir mais para na procura de soluções para a guerra da Líbia, Síria e Iraque porque é aí que estão as razões profundas deste enorme de afluxo de refugiados à Europa, que a Europa tem muita dificuldade em resolver”.

Cavaco Silva defendeu a discussão das causas do “fluxo enorme de refugiados e as tragédias enormes que têm vindo a ocorrer” nos locais de origem, salientando a importância de se “reunir países que recebem os refugiados, os países de trânsito e os países de origem”, como acontecerá numa cimeira internacional em novembro, em Malta.

Questionado sobre a posição da Hungria de fechar as suas fronteiras, Cavaco Silva salientou que existem vários países, como a Grécia, Itália, Montenegro e Croácia, a enfrentar grandes problemas devido à chegada de milhares de refugiados.

O chefe de Estado português aproveitou para recordar a tradição de Portugal em acolher pessoas de outros países, dando como exemplo o regresso de muitos portugueses das antigas colónias, na década de 1970.

“A nossa atitude é um pouco diferente de alguns países da Europa Central”, concluiu o presidente, que na reunião com os outros chefes de Estado do Grupo de Arraiolos, deu Portugal como exemplo de integração através da educação, já que há crianças de 170 nacionalidades nas escolas nacionais.

“Temos tido um certo sucesso do ensino da nossa língua a essas crianças que vêm dos mais variados, e não temos tido grandes problemas na integração”, notou.

Antes de entrar para o almoço que encerrou oficialmente o programa de dois dias de reunião, Cavaco Silva lembrou que esta era a sua “oitava e última participação” nos encontros do Grupo de Arraiolos, recordando momentos de “reflexões estratégicas da Unirão Europeia do maior interesse”.

O Grupo de Arraiolos junta informalmente, com periodicidade anual, os chefes de Estado de Portugal, Alemanha, Áustria, Eslovénia, Finlândia, Hungria, Itália, Letónia e Polónia – fundamentalmente, sem poderes executivos.

O Grupo de Arraiolos reuniu-se pela primeira vez na vila alentejana de Arraiolos, em 2003, por iniciativa do então Presidente da República de Portugal, Jorge Sampaio, que procurou juntar um conjunto de chefes de Estado com poderes semelhantes aos seus para discutir o futuro da União Europeia.