Os doentes com problemas cardíacos, recomendados a não fazerem exercício físico intenso, receiam que o sexo lhes possa causar ataques cardíacos. E os médicos, sem base científica sólida que o sustente, não têm como dizer aos doentes que não se preocupem. Um estudo publicado esta segunda-feira na revista científica Journal of the American College of Cardiology pretendeu demonstrar que nos mais de 500 doentes estudados não foi possível relacionar a atividade sexual com a ocorrência de um episódio cardiovascular.
Segundo os investigadores, citados em comunicado de imprensa, o sexo não constitui risco nem antes nem depois de um enfarte do miocárdio. A atividade sexual é equiparável a uma atividade física moderada, como subir dois lances de escadas ou dar um passeio rápido.
“Com base nos nossos dados parece muito improvável que a atividade sexual seja um gatilho relevante do ataque cardíaco”, disse, citado em comunicado, Dietrich Rothenbacher, investigador principal do estudo e professor no Instituto de Epidemiologia e Biometria Médica da Universidade de Ulm (Alemanha). “Menos de metade dos homens e menos de um terço das mulheres recebem informação dos seus médicos sobre a atividade sexual depois de um ataque cardíaco. É importante assegurar aos doentes que não precisam estar preocupados e que podem retomar a vida sexual normal.”
Ainda assim, os autores do estudo recomendam alguma cautela no caso dos doentes que têm problemas cardíacos e tomam medicamentos para combater a disfunção erétil, já que estes medicamentos podem potenciar os episódios cardíacos. A própria disfunção erétil pode ser sinal de que o doente sofre de um problema cardíaco, portanto não descure e vá ao médico.
O estudo agora publicado analisou a atividade sexual de 536 doentes (85,8% homens), entre os 30 e os 70 anos, nos 12 meses que antecederam o enfarte do miocárdio. Os indivíduos que tinham sexo todas as semanas não apresentaram maior probabilidade de terem um episódio cardiovascular do que os que tinham uma vida sexual menos ativa. Além disso, a maior parte dos doentes (78%) tinha feito sexo mais de 24 horas antes do ataque cardíaco, indicando que não há relação entre os dois eventos.
A Associação Americana do Coração confirma que é seguro ter relações sexuais se a doença cardiovascular estiver estabilizada. Tal como os autores do estudo agora apresentado, Glenn Levine, professor na Faculdade Baylor de Medicina, em Houston, considera que: “A atividade sexual é um elemento de qualidade de vida importante para homens e mulheres com doenças cardiovasculares e respetivos parceiros.”
Para se sentir mais seguro fale com o seu médico. Aqui deixamos-lhe algumas recomendações da Fundação Britânica do Coração:
- encontre uma posição confortável, num ambiente tranquilo e com uma temperatura ambiente amena;
- evite ter relações sexuais depois de uma refeição pesada ou depois de ingerir muito álcool;
- peça ao parceiro sexual que tenha um papel mais ativo;
- para se sentir menos ansioso, mantenha a medicação de emergência por perto.