Não podendo/querendo ser o melhor hotel do mundo, o Hans Brinker Budget Hotel, um modesto albergue de Amesterdão com mais de 40 anos de existência, decidiu em 1996 recorrer à preciosa ajuda da agência de publicidade holandesa Kesselskramer, para se tornar conhecido pela via exatamente oposta, ilustrada no vídeo abaixo e posteriormente publicada em livro.

O auto-proclamado “pior hotel do mundo” não demorou a atingir os seus propósitos: ganhar a atenção de turistas e meios de comunicação. Tornou-se, assim, num fenómeno de popularidade, graças sobretudo a campanhas de publicidade tão espirituosas como brilhantes, cuja brutal honestidade (associada a tarifas que rondam os 20€/noite) conseguiu, ainda assim, não afastar — pelo contrário — potenciais clientes. E não só não o fez como teve o mérito, nalguns casos, de pôr as expetativas tão baixas que as críticas nas plataformas da especialidade são apenas medianas — longe, por isso, de se coadunarem com o título superlativo que a marca reclamou para si.

Mas mais marcante do que deter o pior hotel do mundo é ser a cadeia dos piores hotéis do mundo. Consciente disso, a empresa iniciou em agosto último aquilo que garante ser “a campanha mais lenta da história com vista ao domínio mundial“. A cidade escolhida para abrir um hostel e assim iniciar a expansão do “desrespeito pelas normas e destruição global de expetativas” não podia ser mais apropriada: Lisboa. E porquê? Como é do domínio público, a excelência dos hostels da capital portuguesa foi distinguida repetidas vezes ao longo dos últimos anos, como a imprensa nacional não perdeu oportunidade de assinalar. Assim, trazendo para a cidade o seu reconhecido “mau gosto, carácter dúbio e reputação muito pouco imaculada“, como os próprios fazem questão de assinalar, é provável que se equilibre um pouco o panorama nacional nesta matéria. Ou talvez não.

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É assim em Amesterdão, será assim em Lisboa.

É que as primeiras impressões têm sido bastante positivas, o que não abonará muito a favor da credibilidade do Hans Brinker lisboeta. Mas o projeto ainda agora arrancou e sobrará, com certeza, tempo para cumprir a promessa principal dos seus responsáveis na altura da revelação da novidade: “same crap, more sunshine” (poderá traduzir-se por algo como “a mesma porcaria mas com mais sol”).

O hostel fica na Rua Pedro Nunes, em Picoas, a cerca de dez minutos da Avenida da Liberdade, logo muito perto do eixo central da cidade. A localização é, por isso, um dos seus únicos pontos fortes, tal como acontece com o Hans Brinker original em Amesterdão. De resto, há wi-fi gratuito em todo o edifício, um terraço para bebidas e barbecues de ocasião, e muito poucos (ou mesmo nenhuns) outros luxos, principalmente nas camaratas maiores, que comportam até 10 pessoas. É importante, por uma gestão de expetativas, que ninguém espere noites muito bem dormidas. E não é só porque os vizinhos de camarata podem ressonar. “Os colchões podem prejudicar a coluna mas não prejudicam o orçamento“, adverte a gerência do hostel, antes de acrescentar: “Vai fazer a sua própria cama. Se se deita nela ou não é consigo.”

Os posters divulgados pela Kesselskramer para celebrar a abertura do novo hostel — e que decoram parte da entrada deste — merecem igualmente destaque. Criados em colaboração com o designer britânico Anthony Burrill, transmitem os mandamentos da marca de uma forma tão convincente como atrativa.

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Um dos posters. Traduz-se por algo como: os mesmos beliches, uma menor chance de pneumonia.

Quem estiver a pensar marcar estadia no novo Hans Brinker deverá saber que as tarifas começam um pouco acima dos 10€ por noite (para uma cama em dormitório de 10 pessoas), dependendo da época. Marcando através do site oficial, contudo, os responsáveis prometem “encher o quarto com ar tradicional português, sem cobrar extra“. É aproveitar, portanto.

Nome: Hans Brinker Hostel Lisbon
Morada: Rua Pedro Nunes, 10 (Picoas), Lisboa
Telefone: 21 315 3101
Email: lisbon@hans-brinker.com
Sitehansbrinker.com/lisbon