Pedro Passos Coelho está em Trás-os-Montes e está confiante. Não só repete sempre que pode que “há cada vez mais pessoas a virem ter connosco”, como também diz que “a maioria dos portugueses” já não tem vergonha de verbalizar e assumir aquilo que antes “pensava só para si em silêncio”: “que não tem mal nenhum continuar a apostar naquilo que já deu resultado”. Tal como o hino que circula estrada fora com a caravana do Portugal à Frente, “cada vez mais somos mais”. Mas se a maioria não vier, Passos tem um plano B: pedir disponibilidade a “todos os partidos”, sem exceção, para fazerem uma campanha esclarecida com vista à eventualidade de entendimentos futuros.

Por isso, esta quinta-feira, em terreno confortável, lançou um desafio a “todos os partidos com assento parlamentar”: para que todos os partidos usem a campanha para esclarecer as suas propostas e para que se possam mostrar disponíveis para unir o país. O argumento é este: “Esta não é uma eleição para este ou aquele partido ganhar, é uma eleição para Portugal ganhar”. E o truque é fazer uma campanha positiva para contrastar com a campanha agressiva do lado socialista.

“Mantemo-nos totalmente abertos e dispostos a dialogar com todos os partidos em Portugal que, tendo assento no parlamento, queiram ajudar Portugal a construir um futuro melhor. Não é a eleição que temos pela frente que diminuirá a nossa atitude de estar abertos a estabelecer compromissos importantes para o país poder continuar o seu caminho de desenvolvimento. Por isso lanço aqui a todos os partidos um desafio: usem a campanha eleitoral para mostrar a sua diferença, para esclarecer as suas propostas, para deixarem de lado o insulto ou a insinuação, mas que se possam mostrar disponíveis para unir o país numa eleição que não é para este ou aquele partido, é uma eleição para Portugal”, disse, num almoço no centro paroquial de Mirandela, distrito de Bragança.

Ainda o défice. “É uma vergonha dr. António Costa!”

Se Passos assume o discurso dos consensos, mais sereno e tranquilo, Portas continua a ser a voz reativa às críticas da oposição. Esta quinta-feira, como não podia deixar de ser, depois de Costa ter atirado contra Portas o caso dos submarinos e “os amigalhaços do BPN”, o líder do CDS voltou a responder à letra. Voltando a pegar nos números do défice ontem revelados pelo INE, acusou o líder socialista de tentar enganar “categoricamente” os portugueses. Na manga tinha o “desmentido” do vice-presidente da Comissão Europeia, que tinha tirado as teimas dizendo que o impacto do Novo Banco não tinha efeito real no défice de 2015 ou dos anos seguintes.

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P acusou hoje o secretário-geral do PS de tentar enganar os portugueses e de ter sido “categoricamente” desmentido pelo vice-presidente da Comissão Europeia Valdis Dombrovskis sobre o impacto orçamental da capitalização do Novo Banco. “Dr António Costa, o senhor quis enganar os portugueses e isso é uma vergonha!”, exclamou em Mirandela, arrecadando fortes aplausos dos presentes.

Pedro elogia Paulo. “Porque estamos juntos, que bom que estamos juntos”, como diz o hino

O almoço-comício da coligação Portugal à Frente foi em Mirandela, num centro paroquial “bem conhecido” do PSD e do CDS, como assumiu Portas, e o entusiasmo foi grande. Casa cheia de militantes e apoiantes distritais que se inscreveram para comer rancho e ouvir falar “o trasmontano de gema”, Pedro Passos Coelho. Mas nem sempre houve silêncio na sala e Passos teve até de pedir uns minutos de pausa no barulho dos talheres, porque “a voz já teve melhores dias”.

A coligação está em casa. Passos cresceu em Vila Real, mas até Portas manda um beijinho à prima, “que é veterinária aqui em Trás-os-Montes”. E está unida, como quis sublinhar o líder do PSD, que começou a intervenção a elogiar Paulo Portas, “por estar a fazer uma ótima campanha”, contrariando a ideia de “desunião e de falta de coesão que apontavam” à dupla PSD/CDS, ou, melhor dizendo Pedro/Paulo. “Essa falta de coesão está do lado dos nossos adversários. Porque nós temos mostrado que no Governo ou na campanha temos muita coesão”, diz Pedro.

Antes, numa visita ao Instituto Politécnico de Bragança, Passos e Portas já tinham dado mostras do bom entendimento entre os dois. Ao ritmo da tuna universitária, Passos, que ainda tem voz apesar de reconhecer que tem de a poupar para o comício da noite, acompanhou as notas de um simbólico: “Amigos para sempre“. Portas não cantou, mas ao lado de Passos, quase podia ser uma serenata.

Como diz o hino da coligação que entoa vezes sem conta em todos os pontos da campanha, Passos e Portas querem mostrar que estão “juntos” (“que bom que estamos juntos”) e, num dia de agenda cheia nos distritos de Bragança e Vila Real, Portas até cancelou o desdobramento que tinha em Braga para poder acompanhar o primeiro-ministro ao longo de toda a tarde. E ainda bem. Porque um precisava da ajuda do outro. No dia com mais rua de toda a campanha, o que valeu foi a alternância da vez de falar. Em Bragança foi Passos que sugeriu que Paulo desse umas palavrinhas à população, em Vila Pouca de Aguiar foi Pedro quem falou, e em Chaves – a maior arruada até aqui – foi novamente Paulo. “Para [Passos] poupar a voz”.

Depois de uma descida de quase 1 quilómetro na Rua Direita de Chaves, ao lado da ainda presidente do Parlamento, Assunção Esteves, Passos e Portas ouviram pedidos de “maioria absoluta”. E Portas interpretou o pedido como “a vontade do povo de ter mais quatro anos com estabilidade e confiança, criação de emprego e maior vontade de fazer justiça social”. E garantiu ter registado o pedido.

Antes, os gritos tímidos de “maioria! maioria!” já se tinham ouvido ao almoço em Mirandela, e antes num pequeno encontro com populares em Macedo de Cavaleiros. A palavra mágica apareceu timidamente em todos os locais por onde a caravana passou esta quinta-feira. Também em Valpaços, num encontro com empresários, tinha sido colocada uma faixa onde se lia “Valpaços aponta à maioria, a bem dos portugueses”.

Mas seria apenas um ensaio. “Portugal! Portugal!” e “Vitória! Vitória!” continuaram a ser os gritos mais ouvidos entre os populares. Talvez para afinar a voz para logo à noite, em Vila Real – a noite do primeiro comício aberto à população. Ou então para guardar tudo para amanhã, em Aveiro, onde a campanha vai apostar tudo por ser “um distrito decisivo” em termos de mandatos.