O movimento independentista da Catalunha fez mais uma demonstração de força, ao reunir muitos milhares de pessoas no comício de encerramento de campanha da plataforma Junts pel Sí, do presidente Artur Mas, em plena Barcelona.

A Junts pel Sí (Juntos pelo Sim) é a plataforma política que pretende iniciar um processo de independência na Catalunha, no prazo de 18 meses, caso obtenha a maioria absoluta nas eleições autonómicas da região do próximo domingo. A Junts pel Sí integra o partido do atual presidente catalão, Artur Mas (número quatro da lista), a Convergência Democrática Catalana (CDC), a Esquerra Republicana Catalana (ERC) e vários movimentos cívicos.

Num dos atos mais emotivos da campanha da Junts pel Sí, músicos, poetas e os cabeças de lista fizerem discursos apaixonados em favor da independência, pontuados com gritos de “Visca Catalunya!” (Viva a Catalunha) e “Libertat”.

Milhares de pessoas encheram quase por completo a Avenida Reina Maria Cristina, uma artéria entre edifícios da Feira de Barcelona e em direção a um palco com a Fonte Mágica (um fontanário que produz um espetáculo de cor) e o acesso a Montjuic em fundo. Simbolicamente ou não, a disposição do evento deixava todos os milhares de participantes – com exceção dos cabeças de lista no palco – de costas para a Praça de Espanya.

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Jordi (41) e Javier (42) eram dois dos participantes. Amigos desde que as filhas entraram juntas para a primária, estão entusiasmados com o que classificam de “momento histórico”. Mas ambos dizem ter os pés bem assentes na terra.

“A 28 de setembro não haverá ainda independência. Este é o primeiro passo para que o Governo em Madrid se dê conta que precisa de negociar”, diz Javier, que empunha uma “estelada” (a bandeira da Catalunha independente, com uma estrela de cinco pontas branca sobre um triângulo azul e as listas amarelas e vermelhas).

Diretor comercial numa multinacional japonesa na Catalunha, Javier reconhece que Madrid não tem querido negociar até agora – nem deu à Catalunha um novo Estatuto Autonómico, nem um pacto fiscal como tem o País Basco ou Navarra.

Porque iria negociar agora que os catalães querem separar-se de Espanha? “Porque há uma coisa inegociável, que é o voto das pessoas. Acima da lei e de querer negociar está a liberdade das pessoas”, diz Javier.

Por seu lado, Jordi está convencido de que as ameaças sobre a Catalunha (sobre uma eventual saída da UE, do sistema do euro ou mesmo um fecho dos bancos) apenas tiveram o condão de dar mais força aos catalães independentistas.

“Depois de tantos anos, ainda não aprenderam que com o povo da Catalunha quanto mais o ameaçam pior é. A única coisa que fizeram foi dar-nos mais força na nossa maneira de pensar”, assegura.

O “speaker” interrompe com um pedido: silêncio enquanto se ouve música e todos com os telemóveis acesos ao alto. E a Avenida Reina Maria Cristina transforma-se num mar de pontos brancos, a contrastar com uma fonte a lançar água vermelha e amarela em fundo.

Mais afastada da confusão, Mari Ángeles, está convencida de que Madrid vai continuar “mouca” em relação aos pedidos de negociação dos catalães, mesmo depois de uma eventual vitória do movimento independentista no domingo.

“Estamos convencidos de que não vai negociar. Todas as propostas que saíram daqui da Catalunha foram para o Tribunal Constitucional e este chumbou: o Estatuto, o Pacto Fiscal. Se calhar no final destes 18 meses então teremos mesmo de fazer uma declaração unilateral de independência”, antevê esta administrativa barcelonesa, de 37 anos.

Admite, no entanto, que esse movimento seria bastante mais complicado do que enviar uma mensagem de força a Madrid. “Temos de o fazer, temos de tentar. Estamos a falar de um governo [em Madrid] que nos fecha o acesso a tudo”, sublinha.

Com os cabeças de lista Raul Romeva, Oriol Junqueras (ERC) e Artur Mas (CDC) a falar em fundo, Mari Ángeles confessa que há cinco anos não teria votado pelo “Sim” à separação.

“Levamos cinco anos a tentar fazer algo e de Madrid dizem-nos ‘não, não e não’. Quando tens em frente alguém que te nega tudo, tens de fazer alguma coisa”, conclui.

No domingo, 5,5 milhões de catalães vão às urnas para escolher os deputados ao parlamento regional da Catalunha, que posteriormente votarão para eleger um novo presidente e governo regionais (Generalitat). No entanto, duas formações – a plataforma Junts pel Sí e a CUP – consideram que quem votar nestes dois partidos está a dizer “sim” à independência. Os restantes partidos – Ciudadanos, Podemos (na sua versão catalã “Sí que es pot”), o PP da Catalunha, o Partido Socialista da Catalunha e a Unió Democratica de Catalunya estão contra esta via.