Para uma equipa de canoagem chegar ao fim em primeiro, todos os elementos têm de estar todos sincronizados, a remar para o mesmo lado. O mundo socialista a “remar em equipa para o mesmo fim” seria “notável”. A frase entre aspas é de António Costa, o contexto não. A uma semana das eleições, os socialistas querem fazer passar a ideia que não estão nervosos com as sondagens, que estão unidos e para isso até vão buscar seguristas sem o ex-líder. Apesar de no partido se passar a ideia de que estão tão confiantes na vitória que já preparam medidas para os primeiros 180 dias e o próximo orçamento, a verdade é que há elementos que já se estão a mandar à água, duvidando que no final a vitória não tenha de ser apurada por photo finish.

O candidato socialista tenta desvalorizar as sondagens, diz que Passos anda na “ilusão” de que pode vencer, mas a verdade é que o próprio se refreia no discurso de apelo ao voto e não vai além de pedidos para que os eleitores lhe deem uma “maioria necessária para fazer reformas”. A expressão “maioria absoluta” anda a navegar por outras águas e Costa prefere até lembrar que é forte nos consensos, mesmo que em maioria relativa. Foi isso que fez em frente a uma plateia de autarcas socialistas, num almoço na Figueira da Foz. Disse-lhes que ia ser “um primeiro-ministro” como foi “autarca”, capaz de “construir” consensos.

A frase até passaria despercebida, não tivesse Passos Coelho falado pouco tempo antes disso mesmo, de consensos. Costa, já se sabe, não quer consensos à direita e para isso pede mais ao PS. Aproveitou a presença de três seguristas no seu dia de campanha para dizer que quer “mobilizar todo o PS” para dizer “na cara do primeiro-ministro: ‘rua’, ‘basta'”.

“Façam um esforço suplementar à enorme dedicação que já têm. E para além de todo o trabalho que têm tido nas freguesias e nos município, façam um esforço acrescido para garantirem que vamos ganhar e com a maioria necessária para fazermos as reformas a que estamos comprometidos”, pediu.

Quando disse esta frase ao almoço em Paião, na Figueira da Foz, tinha acabado de ouvir dois seguristas darem-lhe apoio: o presidente da distrital do Porto, José Luís Carneiro, e o presidente da Associação Nacional de Municípios, Manuel Machado. À noite viu subir ao palco a “estranheza” de Álvaro Beleza aconselhá-lo a não ligar a sondagens e a passar a mensagem de que os socialistas têm de estar todos unidos: “Nenhum socialista que se orgulhe desse nome pode ficar em cada e vai ficar em casa”, disse. A próxima figura a sair à rua é Jorge Coelho, que vai até Setúbal.

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Não foi no entanto possível medir o pulso à mobilização do partido. Costa não andou em arruadas, apostou as fichas e comícios e almoços e jantares comício e menos no contacto com a população que só regressa no fim de semana. Na verdade, Costa teve dias difíceis no interior, exatamente em distritos onde a guerra interna pela liderança se bipolarizou também nas federações. Foi o caso de Brangança, cujo líder era Mota Andrade, e o caso de Viseu, com José Junqueiro na liderança.

Enquanto Costa tenta “acordar” os indecisos, no partido no Largo do Rato passa-se a mensagem de que estão já a trabalhar no Orçamento do próximo ano. A notícia era do Diário Económico, depois de uma reunião com parceiros da justiça. Ao Observador, fonte do PS diz que estão a acontecer encontros com várias associações e parceiros além da justiça também nas áreas da saúde e educação.

Mas enquanto passa esta mensagem, as “tracking polls”, como lhe chamou o candidato, mostram que o discurso não está a passar, e alguns socialistas começam a falar entre-dentes da possibilidade de derrota. Na caravana, desvaloriza-se, até ver ou até à reta final.