Há três anos Sérgio Cardoso quis ajudar a mãe a gerir o condomínio do prédio onde vivia. Com formação em programação, sentou-se à secretária para começar a desenvolver aquele que viria a ser o Sccond, um software de gestão de condomínios que permite agendar reuniões, reservar espaços, comunicar com os condóminos, gerir acordo judiciais, pagamentos ou compras. Tudo num interface consultado num tabletcom direito a receber notificações sempre que há novidades.

Começou quase por brincadeira. E cresceu. Hoje pode ser gerido por um particular ou por uma empresa, permite dar ordens do escritório para as equipas de rua e agendar serviços na hora. Mas não está à venda. Sérgio Cardoso desenvolveu o projeto mas não lançou nenhuma empresa e ainda não vendeu o software a ninguém, conta ao Observador. Está há dois anos a trabalhar numa empresa de gestão de software em Santander, Espanha, com o Sccond em standby. Até que foi ao Brasil de férias e apresentou a ideia a uma empresa de condomínios. Quiseram – logo – ficar com a representação do software em solo brasileiro.

“Olhei para o que existe no mercado e desenvolvi todas as necessidades, desde tirar uma simples nota a gerir uma equipa de trabalhadores na rua. Por exemplo: há uma queixa de uma luz que não está a funcionar, por exemplo. O condómino liga, essa ocorrência é registada no software e pode logo desencadear uma ação – os trabalhadores recebem uma notificação para irem fazer a reparação. Há uma comunicação imediata”, explica Sérgio Cardoso.

Sérgio ficou a amadurecer a ideia da representação brasileira da Sccond até que um dia viu publicidade à Web Summit no Facebook, explica. Não conhecia o evento, entrou no link e viu o espaço onde as startups se poderiam inscrever para a categoria Alpha, ou seja, aquelas que a organização do evento considera “promissoras”. As startups selecionadas para a categoria Alpha não pagam nada para terem o stand no evento e têm direito a quatro entradas com desconto. 

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Como funciona? Simples. Enquanto as grandes empresas tecnológicas pagam 10.950 euros para estarem em exibição naquele que é o maior evento de empreendedorismo, tecnologia e inovação na Europa, as startups selecionadas para o programa Alpha pagam 1.950 euros e têm direito a um stand durante um dia, quatro entradas para as conferências, quatro passes para as Night Sumit, acesso aos investidores, a horas de mentoria com jornalistas e empreendedores seniores, entre outros.

Já há 12 startups portuguesas confirmadas para a categoria Alpha – a Cuckuu, DISPLR, SPEAK, Qaalog, Codacy, loqr, comOn Labs, Facestore, VEEDEEO, B-Guest, Inovamatic e begin.media – mas há uma décima terceira que ainda não conseguiu reunir os 1.950 euros necessários para a inscrição. A Sccond, de Sérgio Cardoso.

“Confesso que isto da Web Summit surgiu de paraquedas. Decidi concorrer sem muitas expectativas, porque ia conocrrer com um projeto que gere condomínios e questionei-me como é que um projeto destes poderia interessar a um evento como a Web Summit. Mas depois recebi um email, fizeram-me uma entrevista e… Fui selecioando”; conta ao Observador.

A boa notícia só tinha um “senão”. Feitas as contas à viagem (500 euros), à estadia e alimentação (1.000 euros) e aos pack de 1.950 euros, Sérgio Cardoso precisava de 3.450 euros para ir a Dublin. Mas só tinha 650 euros. Começou a pesquisar na internet formas de conseguir financiamento e esbarrou com o conceito de crowdfunding (financiamento coletivo).

Arrancou com uma campanha a 8 de setembro, mas só conseguiu arrecadar 1% do dinheiro necessário. Entretanto, deixou um post no blogue da Web Summit e recebeu logo um email de uma empresa italiana que está interessada em representar a marca em Itália. Mas financiamento, esse, ainda não chegou de lado nenhum.

Entrou em contacto com a Startup Lisboa a pedir aconselhamento, mas também não o teve. “Quando vi que o Paddy Cosgrave ia estar na Startup Lisboa, entrei em contacto com eles para me me encaminharem para alguém que me pudesse ajudar, mas deram-me uma resposta bastante vaga“, conta. A pouco mais de um mês do evento, diz que já conseguiu reunir 1500 euros com a ajuda da família, mas não chega.

A campanha de crowdfunding continua ativa. Quem quiser ajudar o Sérgio Cardoso a chegar a Dublin e a reunir com investidores para arrancar com a Sccond a sério, pode contribuir com valores acima de um euro. As recompensas são várias e até podem dar direito a uma cópia do software gratuita, com uma licença de um ano. Se o objetivo da campanha não for cumprido, as pessoas que contribuiram recebem o dinheiro que investiram. Entretanto, Sérgio anda a bater à porta de vários investidores privados. Começou pelos portugueses, mas vai chegar aos espanhóis.