destaque

Foi uma amargura. As expectativas estavam em alta, esperava-se uma temporada das boas, com pontos sempre a entrarem, mais vitórias do que derrotas e o hábito de chatear os grandes a manter-se. Era normal: os dois campeonatos anteriores tinham acabado com a equipa no quinto lugar do campeonato. O Estoril ia espreitar a Europa pelo segundo ano seguido e isso era sinal de um clube a querer crescer. O problema é que passou um ano a regredir, e a pique. As vitórias foram poucas (nove), as derrotas muitas (12) e os empates ainda mais (13). A equipa deixou de jogar à bola como jogava e José Couceiro não conseguia puxar pelo clube que tão alto subira com Marco Silva.

José foi despedido a meio da época e Fabiano Soares ficou a dividir o banco de suplentes com Hugo Leal. Depois o brasileiro ficou, o português foi embora e, por enquanto, este tu-ficas-e-ele-vai está a dar resultado. Era preciso fazer melhor que o 12.º lugar que sucedeu a dois 5.º postos consecutivos. O Estoril voltou a ganhar, ataca muito e tem homens a vestir amarelo que têm jeito para fazer coisas bonitas com a bola. Bruno César, mesmo com mais quilos dos que tinha quando estava no Benfica, tem um pé esquerdo precioso em livres, cantos e remates. O miúdo Afonso Taira parece um homem feito a segurar o meio campo quando é altura de defender e, na frente, mora quem mais tem dado nas vistas: Léo Bonatini. O avançado vai com quatro golos (e marca-os bonitos), finaliza o bom que a equipa cria e, com este que é o segundo melhor arranque de sempre no campeonato na história do Estoril, até já fala em regressar à seleção olímpica. Nota-se que a confiança mora por ali.

A mesma que se viu quando Jonas acreditou tanto que não pensou duas vezes. Teve fé, chutou e um golaço apareceu para inaugurar o 3-0 do Benfica ao Paços de Ferreira. Um minuto depois, mesmo à entrada da área, o brasileiro ia marcando um ainda melhor, quando outro disparo de canhota rasou o poste da baliza. “Acho que a confiança faz com que arrisque mais”, disse, depois, falando de uma verdade que no futebol é absoluta — acreditar é meio caminho andado para acontecerem coisas boas. O talento, claro, ajuda (e muito), e por isso é que Jonas vai com sete golos, ninguém marca mais que ele e já se está a encaminhar para fechar a época com a barriga cheia. A confiança faz maravilhas e Rafa Silva também pode dizer que sim. O pequeno extremo, que corre sempre de peito feito, decidiu o dérbi do Minho com um golo não bonito por aí além, mas recheado de classe.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O português sprintou, apanhou um passe, lançou-se para a frente do guarda-redes do Vitória de Guimarães e, sempre a olhar para ele, fez uma paradinha, fingiu que vinha aí remate, fez com que o homem das luvas se pusesse a adivinhar um lado. Depois, Rafa rematou para outro e marcou. Os vimaranenses não perdiam em casa, para o campeonato, há seis meses (desde março) e há mais de 35 anos que alguém do Braga não marcava e vencia na casa do rival em duas épocas seguidas. Foi Rafa, esse mesmo: mostrou confiança, calma e o conhecimento de hoje ser o craque da equipa que mais morde os calcanhares aos três grandes dos títulos. Não marcou um golaço, mas esta jornada viu muitos a aparecerem.

Houve um central a curvar a bola num livre como poucos o fazem (Maicon, do FC Porto), outro a disparar um balázio a 40 metros de uma baliza e fazer a bola entrar pelo ângulo superior direito (Hugo Basto), e um sul-coreano, que não tem parado de marcar e passar a quem marque, a dar o último remate a uma jogada das bonitas, com muitos passes trocados (Suk, do Vitória de Setúbal). A equipa do Rio Sado continua inspirada: sofre muitos golos, mas, até agora, apenas o Benfica marcou mais que os setubalenses (16 contra 13).

desilusão

Não marcar. Quem fez isto pela primeira vez esta época foi o Sporting. E não o fez quando mais precisava: os leões foram à cidade da equipa que, um dia antes, empatara (2-2) e deixara uma liderança isolada à mercê, mas empataram. Uma vitória deixaria Jorge Jesus e os seus à frente do campeonato, mas nem um golo o jogo deu. Os leões falharam oportunidades das boas, contudo, criaram poucas jogadas perigosas para quem anda atrás do título. Acabaram com uma série de 23 jogos seguidos a marcar golos e, mesmo com um trauma em falar de André Carrillo — treinador não se pronuncia, presidente tão pouco a nas conferências de imprensa os assessores do clube falam para travar perguntas sobre o peruano –, uma coisa é óbvia: sem o extremo a equipa inventa muito menos jogadas perigosas.

No Sporting seria ele o craque, o jogador a quem todos passam a bola quando, a bem, não se chega à baliza e é necessário que, a mal, alguém drible jogadores para a equipa lá chegar. A equipa tem jovens (Gelson e Mané) que prometem, mas os leões não precisam de algo para o futuro. O objetivo é que os resultados apareçam esta temporada, como os responsáveis do clube têm dito. E colocar de parte o jogador com os pés mais criativos e perigosos, porque não pretende renovar o contrato, não ajuda em nada — ele vai acabar por sair do clube na mesma. Nos sete jogos em que teve André Carrillo a equipa marcou 11 golos. Nas três partidas sem ele, o Sporting fez três golos.

Os leões empataram e imitaram o FC Porto, que por duas vezes esteve a ganhar em Moreira de Cónegos e deixou que uma equipa com apenas um ponto feito no campeonato lhe marcasse dois golos. Os dragões tremeram a defender e puseram-se a jeito de perder a liderança. Não aconteceu, mas abateram o efeito da vitória no clássico e deixaram que o Benfica se voltasse a aproximar. A diferença está agora em dois pontos e, ao que parece, Julen Lopetegui ainda tem em mãos uma equipa que, como na temporada passada, deixa pontos onde menos se espera. Desde novembro do ano passado que os encarnados não conseguiam comer pontos, na mesma jornada, a Sporting e FC Porto.

frase

“Levo muito tempo no futebol e sei que quando a bola parar de entrar, vai parar mesmo. Depois, nessa altura, só entra na nossa baliza.” Isto é discurso de treinador prudente, a querer ter rédea curta nas expectativas e mão no otimismo que pode explodir por culpa de um arranque de época que poucos esperavam. Fabiano Soares é quem manda num Estoril que tem os mesmos pontos que o Benfica e está no terceiro lugar apenas com seis golos marcados (só uma das quatro vitórias da equipa aconteceu por mais de um golo de diferença).

A bola tem entrado tanto na baliza do Estoril como na dos outros (vai com sete golos sofridos). Mas enquanto o rácio continuar a pender para a equipa recheada de brasileiros — como Léo Bonatini, que se tem fartado de chamar a atenção pelo muito que joga –, o clube pode abrir uma garrafa de vinho, sentar-se à mesa e recordar os tempos que, com Marco Silva, terminou duas edições seguidas do campeonato no quinto lugar. Será este um regresso ao passado?

resultados

Moreirense 2-2 FC Porto
Benfica 3-0 Paços de Ferreira
Boavista 0-0 Sporting
Marítimo 1-0 Tondela
Nacional da Madeira 1-1 Vitória de Setúbal
Arouca 2-2 Belenenses
Estoril Praia 2-1 União da Madeira
Vitória de Guimarães 0-1 Sporting de Braga
* o Rio Ave é anfitrião da Académica esta segunda-feira e o jogo arranca às 20h.

É comum ouvir-se dizer que uma equipa é feita à imagem do treinador. É por isso que uma vez ouvimos um treinador, quando teve de falar do estilo de jogo do Boavista, a perguntar: “Quem não se lembra do Petit como jogador?” Questionou-o porque, desde o regresso à primeira liga, os axadrezados são uma equipa durinha, agressiva nos limites, sem vergonha de fazer faltas e a jogar como pode. Mas este fim de semana aconteceu algo que não se via há algum tempo: o Boavista terminou uma partida sem um jogador amarelado. Para esta equipa, é obra — e isto já não sucedia desde abril.