Na mesma altura em que fez perguntas à Parvalorem sobre as contas de 2012, Maria Luís Albuquerque deu indicações expressas à empresa Estradas de Portugal para fazer “ajustamentos” ao seu orçamento no valor de 119 milhões de euros. Era secretária de Estado do Tesouro e das Finanças e, num email de 11 de outubro de 2011 a que o Observador teve acesso, deu indicações para que se fizessem várias alterações: “redução de 30 milhões de euros em juros”, “redução de 20 milhões de euros em expropriações, estudos e projetos”, “redução de 20 milhões de euros em investimento”, “poupança transversal de 14 milhões” e “aumento de receita de portagens de 35 milhões”.

“Em reunião havida hoje com o sr. secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, foi determinado que a Estradas de Portugal deve considerar os seguintes ajustamentos ao orçamento de 2012”, começa o email de Maria Luís Albuquerque, elencando as alterações. Termina o texto, dizendo à Estradas de Portugal que deve “comunicar à direção-geral de Tesouro e Finanças até ao final da manhã de amanhã”. A pressa tinha a ver com a preparação da proposta de Orçamento do Estado para 2012, que tinha que ser entregue no Parlamento até dia 15 de outubro, ou seja, quatro dias depois.

A questão das instruções ou não que Maria Luís Albuquerque, enquanto governante, terá dado a empresas públicas dominou o dia da campanha política esta terça-feira. A Antena 1 noticiou que a atual ministra das Finanças teria dado instruções à administração da Parvalorem para alterar as contas de 2012, aliviando o montante dos prejuízos da empresa que ficou com os créditos do ex-BPN. Reagindo a isso, Maria Luís Albuquerque afirmou que a possibilidade de ter alterado as contas da Parvalorem — empresa pública que ficou a gerir os ativos de má qualidade do ex-Banco Português de Negócios (BPN) — é “uma não questão”, já que cabe à administração da própria empresa gerir as contas e a um auditor externo validá-las. Admitiu, no entanto, que como secretária de Estado enviou perguntas à empresa e que, enquanto governante, “pode e deve fazer perguntas”.

A troca de emails entre Maria Luís Albuquerque e a Estradas de Portugal foi levada a um debate na Assembleia da República em 2013 pelo deputado do PS, Fernando Serrasqueiro, que o usou para questionar o secretário de Estado das Obras Públicas, Sérgio Monteiro, que também recebeu o mesmo email. Na altura, Monteiro não comentou o teor da comunicação. «Devo sublinhar a enorme indelicadeza de trazer aqui um email trocado entre dois secretários de Estado. Eu nunca vi, acho isto o fim da picada. Acho que é um péssimo serviço que presta à democracia».

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